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Foto: Marcos Correa/PR
Foto: Marcos Correa/PR| Foto: Marcos Correa

“Não se assustem então se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez? Ou foi diferente?” Ministro da Economia — acima de tudo fiador de Jair Bolsonaro nas últimas eleições presidenciais —, Paulo Guedes bem que tentou desfazer a má impressão criada por sua fala sobre o decreto emitido durante a ditadura militar, o qual simboliza um momento de trevas na história da democracia brasileira. Pouco adiantou.

Em primeiro lugar, porque ele, Guedes, é um boquirroto contumaz. Salvo falsos liberais apenas atentos às guinadas da economia, a sociedade parece já ter entendido sua natural habilidade para falar além do aconselhável. E não só quando promete o improvável, mas também ao demonstrar falta de tato e até de berço. Foi assim quando gratuitamente respondeu de maneira ríspida à pergunta de uma jornalista argentina sobre o Mercosul, logo após a confirmação da vitória de Bolsonaro. Idem, recentemente, ao atacar a primeira-dama da França.

Os rompantes do ministro não dignificam o cargo que ele ocupa e sua alusão ao Ato Institucional Número Cinco foi deplorável, entretanto nada supera o cinismo da claque disposta a apoiar o governo a despeito de quaisquer ressalvas.

Causou espécie a coragem de alguns em lançar mão da tese, surrada, de que a fala de Guedes fora tirada de contexto. Na melhor das hipóteses, alguém em posição de tanto poder, um representante do Estado em franco papel de destaque, não pode ser tão descuidado com a memória do país. Tampouco irresponsável, dado o momento de polarização e o histórico de posicionamentos do presidente da República.

Seria leviandade tachar Paulo Guedes de antidemocrata por conta de seu afã em defender a camisa que optou vestir, de modo a reafirmar o seu nome perante um grupo importante de economistas brasileiros — mais relevantes do que ele e com inegáveis serviços prestados à nação. Entretanto é mandatório afirmar com todas as letras que o ministro não tem mais idade para certos faniquitos. Tampouco obtusidade é desculpa para empanar seus seguidos deslizes.

A visão de mundo de determinado grupo de formadores de opinião governistas, todavia, desconhece o bom senso e mesmo o cuidado exigido pela atual conjuntura.

Sob uma ótica binária, o terrível capo está de volta e com ele a ameaça do petismo. A partir daí, tudo vale. Nada pode ser pior. Inclusive menosprezar retóricas que deveriam ser prontamente rechaçadas por quem vê nos valores democráticos um panteão de premissas inegociáveis.

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