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Foto: Alan Santos/PR
Foto: Alan Santos/PR| Foto: Alan Santos

Virou lugar comum dizer que o tempo está passando rápido. Em especial para quem de fato está envelhecendo. Rugas, fios brancos e acima de tudo fotos antigas nos impõem essa sensação. Contudo, impressiona a habilidade do governo para desacelerar o inevitável. São meses que não terminam. Semanas, dias, até mesmo horas que se arrastam. Não há de ser por acaso que a eleição de 2022 virou tema aberto.

Os motivos que desde já levam muitos a ansiar pela próxima disputa presidencial — e portanto pela possibilidade de respirar novos ares — não poderiam ser mais humanos: dor e arrependimento. Ambos se confundem, todavia são diferentes.

A dor não se deve apenas aos disparates do presidente e de seus ministros tresloucados, ou às aberrações defendidas por uma militância capaz de oscilar entre a rudeza e a absoluta falta de empatia. Esse comportamento torna impossível seguir o noticiário sem envenenar a alma, porém não é suficiente para fechar o quadro. Isso acontece porque, ao contrário do que foi prometido durante a campanha, Bolsonaro e seu séquito demonstram estar interessados, acima de qualquer coisa, em sugar do Estado. Inclusive atropelando regras preestabelecidas pela Carta, se permitido for. Trocando em miúdos, personificam a quintessência do populismo mais reles.

Alguém haverá de dizer que esse cenário não deveria surpreender. E estará certo. A biografia do eterno deputado não permitia outra conjectura. Entretanto, insisto, para além do desarranjo verbal, os abusos deslavados do presidente significam uma inequívoca bordoada. Mesmo para os seus opositores. Acima de tudo para um país que há cinco anos entrava em um estágio de convulsão política, econômica e social, do qual até hoje não saiu.

O processo de arrependimento é outra história. Mais difícil. Dor a gente sente, não escapa. Arrependimento é algo diretamente vinculado às nossas escolhas. E não é agradável para ninguém admitir que sua decisão foi equivocada. Que poderia ter seguido outro caminho.

A prova dessa relutância pode ser percebida na voz de quem insiste em vender uma hipotética falta de opção. Bolsonaro, segundo estes, era um mal tão menor quanto inescapável, já que o PT estava pronto para voltar ao poder. Como se não tivesse existido um primeiro turno. Como se outros candidatos, além de um adulador de torturadores, fomentador de preconceitos e sindicalista clássico não tivesse participado da disputa.

Mais do que uma reação natural, o estado de negação é um direito. Ainda que não mude os fatos. E tampouco desobrigue quem rechaça o fundamentalismo a fazer uma autocrítica — cedo ou tarde, com ou sem testemunhas.

Por fim, o próprio Bolsonaro já fala sem pudores em reeleição. Trata-se de mais uma mentira alardeada durante a campanha, mas esse nem é o ponto principal. O que importa é notar o seu interesse em escapar do próprio governo. Tratar o próximo ciclo eleitoral como algo imediato, além do mais, funciona para deixar sua militância acesa. De preferência, sem prestar atenção em tudo o que vem acontecendo.

A notícia ruim é para todos: tudo indica que levará uma eternidade até chegar 2022.

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