O que mais interessa na convocação feita pelo filósofo Olavo de Carvalho, em que sugere a formação de uma militância bolsonarista disposta a apoiar o presidente Jair Bolsonaro acima de qualquer coisa, é o erro de cálculo. Deixemos de lado a natureza nada democrática do chamado. Deixemos, também, os arrependimentos tardios e acima de tudo inusitados que vieram em seguida. Não que o sujeito não possa lamentar a escolha tomada nas urnas — em se tratando de Brasil, algo para lá de compreensível —, apenas é curioso que só agora determinados sinais causem espanto.
Talvez seja um simples caso de soberba, mas a impressão é de que o bolsonarismo ainda não identificou quem foi o seu maior cabo eleitoral nas últimas eleições. Não foi Jair Bolsonaro e certamente não foram seus filhos. Não foi Olavo de Carvalho e tampouco Sérgio Moro. Não foi Adélio Bispo, embora ele tenha colaborado sobremaneira. O grande responsável pela condução de Bolsonaro à Presidência, padrinho inquestionável sob qualquer aspecto, foi Lula.
A falta de estamina de candidatos como Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles, discursos exageradamente “limpinhos” e nomes manjados, mesmo de candidatos que provavelmente derrotariam Fernando Haddad, fecharam a conta. Havia nas ruas um desejo de vingança. Uma gana irrefreável no sentido de impor ao petismo, e ao sistema a ele atrelado, uma derrota histórica.
São dois os problemas para Bolsonaro, um deles diretamente ligado ao discurso de Olavo: o primeiro é que o fantasma da esquerda nunca esteve tão frágil. O eleitor pode até se justificar pelo voto, alegando que, no segundo turno, era optar pelo capitão ou abrir o caminho para o retorno do PT ao poder. Já reeleger o bolsonarismo é apoiá-lo de maneira racional. É ignorar que, derrubado o véu do fantasma lulista, resta um governo tão empenhado em aparelhar as instituições como qualquer outro. Um presidente que declara sem meias-palavras a intenção de favorecer os seus filhos. Ministros com um comportamento inaceitável sob qualquer ponto de vista. Um falatório sobre economia liberal que simplesmente não vingou.
A segunda pedra no sapato é que uma militância bolsonarista, sozinha, não será suficiente para vencer uma eleição nacional. A petista já não foi, inclusive nas vezes em que o PT venceu — precisou contar com o apoio do eleitor que há quase um ano levou Bolsonaro ao Palácio.
Lula só alcançou a presidência quando guinou ao centro. Não foi um processo imediato e provocou rachaduras na esquerda. Por outro lado, o bolsonarismo já assumiu o poder fundamentado em um discurso radical e divisivo. Tom que só aumenta a cada dia, haja vista o falatório e as ações do presidente, de seus ministros e aliados mais próximos.
A boa notícia para Jair Bolsonaro é que o PT e figuras como Ciro Gomes dificilmente deixarão de participar do próximo pleito. A ruim é que o eleitor moderado, decisivo para sua vitória em 2018, pode até continuar rechaçando a esquerda, mas não se vê confortável em meio a um ambiente que faz lembrar o exato culto do qual decidiu se divorciar.
E não deve hesitar em mudar o voto, caso surja uma alternativa que o permita repelir a esquerda novamente.
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