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Fato histórico: nascida impopular aos olhos da opinião pública, da esquerda e do único partido político digno deste nome no Brasil, o PT, a gestão Michel Temer caminhava para se firmar como um surpreendente bom mandato tampão. Debatida há décadas e avaliada por quem entende do assunto como fundamental para a viabilidade do próprio país, a entrega da reforma da Previdência prometia ser o seu maior legado.

Prometia.

Baseado nas delações de Joesley e Wesley Batista — criminosos espertalhões a quem concedeu benefícios inauditos —, em um áudio cujo conteúdo acabou se mostrando impreciso, além de ter sido ludibriado pelo ex-procurador Marcelo Muller, o PGR à época, Rodrigo Janot, resolveu denunciar o presidente por corrupção passiva. A reforma estava morta, mas a aflição que já assombrava castas poderosas como a dos procuradores chegava ao fim.

Pois bem, de “quem tiver que pagar, vai pagar” a “enquanto houver bambu, lá vai flecha”, Janot deságua agora na confissão de que planejou cometer um assassinato e em seguida suicídio.

Ter prejudicado o Brasil de maneira irreversível já deveria ser suficiente, porém de fato ainda havia flecha. No caso, para escancarar a barafunda em que nos atolamos e na qual só  fazemos afundar desde 2013.

Alguém pode alegar que essa constatação, de que a várzea grassa como poucas vezes se viu em nossa história, não carecia de novos argumentos. Afinal, basta olhar para o ministro da Educação, verificar a falta de apreço pela vida das crianças no Rio ou passar os olhos no discurso do presidente durante a Assembleia Geral da ONU. A tese faz sentido, mas não dialoga com a prática. Assim, já que o tempo passa e nada de aprendermos com as nossas escolhas, que prejuízo outro tostão de vexame pode trazer?

Rodrigo Maia, que nesses tempos bicudos passou a ganhar status de Winston Churchill, sintetizou bem: "Descobrimos que o procurador-geral queria matar o ministro do Supremo. Quem vai querer investir num país desse?”

Por outro lado não faltaram gracejos, inclusive de ditos formadores de opinião, dando a entender que os anseios primitivos de Janot se justificavam. Até mesmo políticos demonstram solidariedade, como foi o caso da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP): “Minha solidariedade ao ex-PGR. Gilmar Mendes sempre teve pouco escrúpulo”.

Não se grita “bomba!” dentro de um avião, e o bom senso manda não menosprezar impulsos que atentem contra a vida de quem quer que seja. Tampouco se deve estimulá-los. A simples necessidade de pontuar isso assusta, em especial quando há pouco mais de um ano o presidente da República, tão aclamado por sua militância, sofria um atentado.

Contudo é o que se tem para hoje. E Janot, em sua grotesca demonstração de carência, não deixa de nos prestar um favor.

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