Enquanto escrevo estas linhas, Nancy Pelosi concede uma curta entrevista ao canal CNN, em que garante não ter desencorajado democratas a apoiar um pedido de impeachment do presidente Donald Trump. Pelosi percorre uma linha tênue. De um lado, sofre pressão da ala mais progressista do partido — capitaneada pelas congressistas Alexandria Ocasio-Cortez e Ilhan Omar — para que o processo tenha início. De outro, há um grupo de moderados que pede cautela. Segundo estes, um processo mal fundamentado de afastamento do presidente, acima de tudo sem maciço apoio popular, permitira a Trump vestir a fantasia do perseguido — a líder democrata na Câmara tende para essa tese.
Em meio ao impasse está o depoimento ocorrido ontem (24/07), perante o Congresso, do ex-procurador especial Robert Mueller. O tom lacônico adotado por ele frustrou boa parte dos democratas, que, durante horas de arguição, se viram obrigados a repassar o relatório apresentado em abril pelo próprio ex-procurador.
Acontece que, ao jogar água na fervura do discurso radical, Mueller prestou um favor aos democratas.
Não se discute se Trump é capaz de defender o indefensável, por vezes inclusive de apelar para questões raciais de modo a dividir ainda mais a sociedade americana. Este é um fato já dado e comprovado no último pleito, quando venceu adotando precisamente essa estratégia. O ponto, defendido pela ala menos passional do Partido Democrata, é interromper um ciclo de reações que invariavelmente acabam indo ao encontro da tática adversária.
São cada vez mais frequentes os casos em que representantes democratas clamam por um foco maior em agendas prioritárias para os eleitores, como o sistema de saúde, a geração de empregos ou a segurança. Até porque, mesmo sem impeachment, a munição oferecida pelo relatório Muller pode ser muito útil durante a campanha. Afinal, o ex-procurador especial disse textualmente que não exonerou o presidente por tentativa de obstrução da Justiça, afirmou que pode processá-lo ao término do mandato e demonstrou preocupação com o fato de Trump parecer propenso a receber nova ajuda externa nas próximas eleições.
A verdade é que, para além dos debates entre pré-candidatos, o Partido Democrata dá sinais de estar perdido. Não por acaso, perde tempo com cortinas de fumaça produzidas pelo presidente, indicando ainda não ter superado o trauma de uma derrota inesperada — mesmo que essa tenha sido influenciada pelos russos.
A ver se serão capazes de ignorar o retrovisor a tempo de oferecer resistência aos republicanos em 2020.
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