“Tem que ter acusação grave, acusação com substância. Por enquanto não tem nada contra ele ainda”. A frase é do presidente da República, Jair Bolsonaro, em referência ao ministro Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo. Em abril, a deputada federal Alê Silva (PSL-MG) denunciou a existência de um esquema de candidaturas-laranja comandado pelo mesmo Marcelo Álvaro — acrescentando que durante reunião com correligionários ele a teria ameaçado de morte. Na última segunda-feira, a Polícia Federal indiciou três assessores ligados ao ministro.
Já ontem Sérgio Moro compareceu à CCJ para, na condição de convidado, responder questionamentos sobre a sua relação com o procurador da República, Deltan Dallagnol, e uma suspeita de imparcialidade no processo que levou o ex-presidente Lula à cadeia, sob a sua batuta quando era juiz. E também tivemos o relator da reforma da Previdência, o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), apresentando o novo texto na Comissão Especial da Câmara.
Os três episódios descritos acima ocuparam o noticiário nas últimas horas. São distintos, mas conversam entre si em um aspecto: deixam claro o quanto o Brasil não mudou nada, em que pese o passar dos anos e a narrativa do momento que fala em “nova Era”.
Ou já não fomos apresentados — especialmente durante os 13 anos em que o PT esteve no poder — à figura de um presidente que reluta em demitir subordinados, mesmo com um manancial de evidências impondo a necessidade dessa medida?
Quanto aos momentos que envolveram as aparições do ministro Moro e a leitura do relator Samuel Moreira, devo dizer, foram tão desanimadores que cheguei a me perguntar se ainda terei a sorte de testemunhar um país muito diferente do atual. O nível dos nossos representantes — escolhidos por nós, vale lembrar — é um desastre. Mais do que isso, a pauta das discussões não muda. E dá-lhe bate-boca, gritaria e acusações atemporais.
O nosso país dá preguiça. Patina enquanto o tempo corre. Os debates não mudam e os gargalos se repetem. A sociedade chafurda nas armadilhas político-ideológicas de sempre.
Há quem compre o bolsonarismo. Quem tenha fé e principalmente estômago para encarar a cafona manipulação de sentimentos puros, porém inúteis, como o patriotismo. Talvez ainda pior, igualmente existem aqueles dispostos a dar mais oportunidades ao petismo. Como se tudo o que Lula e seus comandados aprontaram não tivesse sido suficiente.
Felizmente não nutro admiração por nenhuma das duas facções, mas invejo a disposição e capacidade para ignorar o óbvio: como em uma roda-gigante, parece que estamos fadados à falsa sensação de movimento. E a ver os mesmos cenários se repetindo.
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