• Carregando...
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil| Foto:

Quem acompanha este espaço sabe do meu pouco apreço pelo atual governo. Sentimento esse que ao sabor da lógica dicotômica não deveria ter razão de ser — já que passei anos criticando duramente a esquerda, em especial o Partido dos Trabalhadores e seu líder supremo.

Trata-se de um desprezo, não apenas pela absoluta incompetência demonstrada até aqui, como também pela orquestrada difusão de valores morais inaceitáveis em uma sociedade moderna e democrática. Asco por quem manipula as pessoas, incitando-as ao conflito de modo a perpetuar-se no poder. E, acima de tudo isso, medo. Me assusto de verdade com a frieza de quem não só é protegido por jagunços virtuais, mas que afinal de contas também recebeu o apoio de pessoas corretas, embora, quem sabe, um tanto ingênuas. Pelo menos em honra a essas — o ideal seria levar em conta todos os brasileiros —, a administração Bolsonaro deveria adotar uma retórica menos populista e agressiva. Mais honesta, magnânima e cordata.

Pois, ainda que desde já o presidente e sua equipe pleiteiem um lugar no panteão das piores  gestões na história da nossa República, cabe ponderar o atual momento despido de afetações político-ideológicas. Sim, é inacreditável que tenhamos alguém como Jair Bolsonaro na presidência da República. Assim como é alucinante pensar que levamos quase duas décadas com o PT no comando do país. Contudo, a culpa por um estado de caos que dura desde 2013 não pode recair apenas sobre ambas as facções que hoje impõem o ódio e a intolerância no debate público.

Estão aí o Supremo e a Procuradoria-Geral da República que não me deixam mentir. Bem como os caminhoneiros e a esquerda intransigente até mesmo para aceitar debater uma pauta fundamental como a da reforma da Previdência. E, claro, todos nós. O coletivo. A sociedade.

Só pode haver algo de muito errado conosco se o discurso da negação total do sistema e da idolatria funciona à perfeição, desde a primeira disputa eleitoral pós-ditadura.

Em 1989 o nome dele era Fernando Collor de Mello. Foi eleito por um partido nanico. Se vendeu contra o sistema e os privilégios. Era o “caçador de marajás”, e no seu governo a Fazenda virou ministério da Economia. Tinha tudo para dar errado. E deu.

Após perder para Collor e Fernando Henrique Cardoso, em duas ocasiões no caso deste último, foi a vez de Lula, que instrumentalizou a divisão de classes e até a cor da pele para pavimentar a sua dinastia. Dilma Rousseff veio em seguida e não se fez de rogada. O PT e a esquerda jamais pestanejaram em incutir a celeuma na família brasileira.

Tão somente uma costela de tal estratégia, o bolsolavismo apenas repetiu a fórmula.

Como se vê, a culpa só pode ser nossa.

E justamente por ser nossa é que torço para que saibamos aguentar o atual período, senão com serenidade, com um mínimo de altivez. De senso de responsabilidade.

E que de uma vez por todas tomemos consciência, senão do que presta, ao menos do que não funciona.

No título deste texto eu disse que “um dia a casa cai”. Entretanto não me refiro à ruptura democrática ou algo do tipo. O meu maior temor é que essa espiral de bandalheira e desacertos não tenha volta.

Algo que hoje não pode ser descartado.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]