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Foto: Evaristo Sá/AFP
Foto: Evaristo Sá/AFP| Foto: AFP

Segundo a última pesquisa Datafolha, 30% dos brasileiros consideram o desempenho do governo Bolsonaro no enfrentamento da pandemia ótimo ou bom. O Ibope também trouxe notícias animadoras para o presidente, indicando que 35% aprovam seu governo.

Pesquisas refletem o humor do momento. A avaliação de Bolsonaro já oscilou antes e tudo indica que isso voltará a acontecer — seja devido a atrasos na implementação do plano de imunização, seja pelo fim do auxílio emergencial, seja ainda pelo agravamento da crise econômica.

Não passou despercebido, porém, que parte considerável da população subscreve uma performance marcada por retrocessos em áreas cruciais para o país. Meio ambiente, diplomacia, educação e saúde que o digam.

Em relação ao combate da Covid-19, o despreparo do ministro Eduardo Pazuello, sobretudo a morbidez de Bolsonaro diante de uma tragédia que se aproxima dos 200 mil mortos, levavam a imaginar um parecer mais rigoroso.

A revelação de que muitos ainda fazem bom juízo do presidente oferece a chance de assumirmos quem somos. Não se trata de falta de escrúpulos, mas de encanto pelo escracho. Ode ao litígio. Culto ao rancor.

Em 2014, Dilma Rousseff foi reeleita com quase 55 milhões de votos. Quatro anos depois, a vitória de Jair Bolsonaro foi praticamente do mesmo tamanho.

Nem é necessário voltar tanto no tempo para pinçar escolhas em nome de uma sanha que não cede espaço a quadros alheios à contenda ideológica: há um mês, quando do segundo turno das eleições municipais de São Paulo, vencida por Bruno Covas (PSDB), não foram poucos os bolsonaristas que votaram em Guilherme Boulos (PSOL).

Estou entre aqueles que temem pelo futuro caso Bolsonaro se reeleja em 2022.

Um fiapo de lucidez é suficiente para imaginar o estrago que 8 anos deste governo causariam, mas na ausência dessa faculdade basta verificar o aparelhamento das instituições, o definhar da imagem do Brasil no exterior e a devastação de florestas e manguezais. Tudo em apenas 24 meses.

Temos bases democráticas sólidas, entretanto quem garante que elas permaneceriam assim após um período tão longo à mercê de desmandos e arroubos autoritários?

A boa notícia é que Bolsonaro há de passar.

Sobre essa mistura generalizada de ignorância política com desdém pela civilidade, ranço pelo que é culto e apreço pelo confronto, já não tenho tanta certeza.

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