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Foto: Alan Santos/PR
Foto: Alan Santos/PR| Foto:

I love you”, teria dito Jair Bolsonaro a Donald Trump logo após o seu discurso na Assembleia Geral da ONU, pouco antes de o presidente americano fazer seu pronunciamento.  Trump não se mostrou muito receptivo à declaração. Talvez tenha sido timidez. Pouco mais de duas semanas se passaram e hoje ficou claro: o governo americano não está nem aí para o Brasil.

E é normal que não esteja.

Embora tenhamos a tendência de achar que somos relevantes — a retórica nacionalista do governo Bolsonaro reforça esta ilusão —, a verdade é que o Brasil não faz parte da pauta prioritária de uma superpotência como os Estados Unidos. E por que faria, se o falatório anti-Maduro não deixa o campo das ideias? Como mudaríamos de patamar, se não demostramos intenção ou força para diminuir a influência chinesa no continente?

O Brasil tem pouco a oferecer aos americanos e a verdade é que, para além da ladainha antiglobalista; do orgulho tolo pelo cartaz de “Trump tupiniquim”, ninguém na Casa Branca está habituado a dar ponto sem nó. A começar pelo próprio presidente. Afagos públicos fazem parte de um teatro que não dialoga com o andamento da máquina burocrática.

Trocando em miúdos, na pior das hipóteses o governo Jair Bolsonaro foi ingênuo. Na prática, se empolgou com a oportunidade de azeitar a única agenda que verdadeiramente parece importar desde 1° de janeiro de 2019: reeleger-se em 2022.

É natural que a Argentina seja vista como prioridade, não só porque a mesma fórmula aplicada por Bolsonaro já havia sido utilizada com sucesso por Macri, mas também para tentar empanar uma possível vitória do kirchenrismo e encaminhar o país para o liberalismo econômico.

Só não foi natural — por mais que o governo se esforce em dizer o contrário, inclusive lançando mão da surrada estratégia que pretende culpar a imprensa por quaisquer notícias desfavoráveis — ignorar o Brasil na carta em que a Romênia e a própria Argentina eram citadas. Inclusive provocando dissabores no Itamaraty.

O que houve ontem não pode ser configurado como uma derrota acachapante para o governo Jair Bolsonaro, e o motivo para isso não poderia ser outro: em março, quando da visita oficial do presidente em Washington, tampouco se deu uma vitória inesquecível.

No fim das contas, refém de seus próprios devaneios, com uma sanha inesgotável para impor sua visão de mundo e assegurar a continuidade do seu projeto de poder, o bolsonarismo ofereceu apenas mais uma chance de ser apreciado em toda a sua essência.

Passamos vergonha, mas algo me diz que não terá sido a última vez.

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