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Foto: Foto: Gilmar Félix/Câmara dos Deputados
Foto: Foto: Gilmar Félix/Câmara dos Deputados| Foto:

O ano é 2026. Ocupando o centro do palanque, um Jair Bolsonaro visivelmente comovido ergue o braço de seu filho Eduardo, candidato natural à presidência pelo MDPFB (Movimento por Deus pela Pátria e da Família Brasileira). A multidão vai ao delírio. O PSL já não existe desde meados do segundo mandato, e Eduardo é o franco favorito para dar continuidade à dinastia do clã. Rumores indicam que a definição do vice na chapa está entre Filipe Martins e Leo Índio, o primo.

Ainda que o cenário descrito acima não passe de uma distopia, sua natureza deveria preocupar. Os motivos para isso vão do nosso fetiche por líderes populistas até a teimosia da esquerda em endossar o PT, mas talvez nada se compare à influência do momento econômico.

Foi por meio de um cenário econômico positivo que Fernando Henrique Cardoso venceu duas eleições presidenciais contra Lula, ambas no primeiro turno. A sensação de que tudo corria bem foi fundamental para que o mensalão fosse ignorado e o petismo se perpetuasse. Nada pesou mais do que as crises para que Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff perdessem seus mandatos.

Nesse sentido, a reforma da Previdência, bem como a reforma trabalhista, privatizações importantes e toda sorte de gatilhos à disposição de Paulo Guedes serão decisivos para o futuro do bolsonarismo. Precisamente porque, talvez, só assim as indignidades defendidas pelo presidente e a maneira patrimonialista com que ele trata a coisa pública serão toleradas. Idem para a tenacidade de Ricardo Salles em negar os números, a visão de mundo bizantina de Ernesto Araújo, a tendência imperial de Sérgio Moro, ou a disputa entre Abraham Weintraub e Damares Alves pelo título de nomeação imperdoável. Sem falar, é claro, em uma retórica autoritária que já emporcalha a imagem do Brasil no exterior.

A pergunta é inescapável: até que ponto a agenda econômica é mais importante do que todas as outras?

O exemplo do PT é recente e doméstico, contudo é possível pinçar um sem-número de momentos em que sociedades se deixaram levar pela sensação de bem-estar em troca da subversão de valores inegociáveis. Acontece que aí já era tarde. E o preço para retroceder foi muito alto.

Pois, a despeito de como se deu a cristalização do Partido dos Trabalhadores no poder, não falta quem hoje relativize quaisquer disparates, condutas impróprias e movimentos perigosos do governo — além de um nível de beligerância inédito na nossa história recente — em nome de um possível período de bonança.

Segundo Marx, “a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Em se tratando de Brasil, tal afirmação é quase mediúnica.

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