Eis que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, estampa a capa de Veja. Nela, aparece usando o dedo para desequilibrar uma balança. E a chamada em letras garrafais, “JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS”, é subintitulada por uma denúncia: “diálogos inéditos mostram que Sérgio Moro cometeu irregularidades, desequilibrando a balança em favor da acusação nos processos da Lava Jato”. Trata-se de uma bela capa, sem dúvida, mas que apenas serve para reforçar posicionamentos.
Quem apoia o eterno juiz continuará enxergando histeria e conspiração. Tudo com o objetivo de enfraquecer a força-tarefa, responsável por 159 condenações, além do ressarcimento de R$ 2,5 bilhões ao erário (contando com os acordos de leniência já acertados, espera-se que o valor suba para quase R$ 13 bilhões).
Acima de qualquer aspecto, defenderá que as acusações contra o ministro não passam de uma campanha deslavada para livrar Lula da cadeia.
Já os detratores de Moro experimentam o regozijo de quem sempre se viu do lado certo da discussão. Para esses, os diálogos revelados inicialmente pelo The Intercept Brasil, agora em colaboração com a Folha de S.Paulo e a Veja, só reforçam suas convicções de que o outrora magistrado nunca fez por merecer o cartaz de paladino da justiça. Não que o vazamento do telefonema entre Dilma Rousseff e Luiz Inácio — aquele do “Bessias” —, ou a retirada do sigilo de trechos da delação premiada de Antonio Palocci a seis dias do primeiro turno das eleições passadas tivessem deixado dúvidas a esse respeito.
Eles entendem que a nomeação de Moro por Jair Bolsonaro funcionou como uma espécie de agradecimento, confirmando um esquema montado para impedir a disputa de Lula no último pleito e, assim, abrir caminho para que forças reacionárias assumissem o poder.
Há muita irracionalidade e ranger de dentes. Um estado de coisas que se arrasta lá se vão 6 anos. Desta vez, porém, justo a parte da sociedade que sempre questionou o obscurantismo petista recebe a pecha de fanática. Com méritos.
Eu não seria parvo a ponto de dizer que Lula é inocente. Até porque não é. Sua condenação extrapolou a alçada da primeira instância. Foi confirmada pelo pelo Tribunal Regional Federal da 4ª (TRF4) e em seguida no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A narrativa dando conta de que se trata de um preso político era patética quando surgiu e continua patética hoje.
Vale lembrar, o grão-mestre petista também caminha na prancha do pirata em outro caso, o do sítio em Atibaia. Condenado em primeira instância, pode ter as duas penas acumuladas, caso o veredicto se repita em segundo grau.
Lula não é inocente, mas Moro não é santo.
Dentre as tantas incoerências da seita vigente no Brasil — como se posicionar contra o sistema e ato contínuo eleger um sujeito há 30 anos inserido nele, ou pressionar o centrão pela reforma da Previdência quando precisamente esse grupo, e não o “mito”, é seu grande fiador —, acrescente-se esta: arrotar moralismo e respeito às leis, mas fechar os olhos para a conduta inapropriada de um juiz.
Pouco interessa a importância do réu. Todavia, nem que fosse para manter a pose, deveriam exigir o máximo de correção agora, uma vez que se trata do seu grande adversário político.
O clima de divisão não colabora para que a razoabilidade prevaleça. Não é à toa que enquanto uns ignoram o fato de Lula ser um corrupto reconhecido pela Justiça, outros dão de ombros para um material que, noves fora algumas pontas soltas na divulgação, inegavelmente abala a imagem de impoluto atribuída a Sérgio Moro.
Para além de tamanha cacofonia, contudo, um dia os fatos hão de prevalecer. Basta o véu da dicotomia ideológica cair. Sabe-se lá quando.
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