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Reconheço a minha dificuldade em alcançar o que leva alguém a defender cegamente o governo. Se a gerência apenas fomentasse divisões na sociedade, confrontasse a ciência, não exprimisse o menor traço de empatia para com as minorias e aparelhasse o Estado ideologicamente, mas pelo menos deixasse clara a sua capacidade para tocar agendas como educação, segurança pública, meio ambiente e relações exteriores, além da economia, talvez fosse mais fácil.

Idem se o desempenho em todas essas áreas fosse sofrível, entretanto houvesse compaixão, vontade de fazer as coisas do jeito certo e um empenho genuíno em reunificar as pessoas. Ambas as situações escapariam com folga do cenário ideal, contudo o sujeito teria um fiapo de racionalidade em que se pendurar.

Acontece que a administração Bolsonaro entorta as duas abas do chapéu.

Temos portanto a figura do idólatra. Da pessoa disposta a rechaçar quaisquer críticas. Do sujeito determinado a enxergar virtude onde só existe personalismo e em certos casos até perversão.

Do ponto de vista do diálogo, alguém assim personifica a pá de cal. Conversas só fazem sentido quando a vontade de escutar o que o outro tem a dizer é sincera. Todavia, aqueles que abusam de mas e poréns são ainda piores.

O problema do passador de pano — peço licença para usar o termo da moda, a analogia é ótima — está em que, ao contrário do idólatra, ele é capaz de disfarçar o seu verdadeiro intuito. E seu compromisso não é outro a não ser aliviar a barra do governo.

Jair Bolsonaro pode defender o indefensável, contradizer promessas de campanha e  manipular a coisa pública como se estivesse passando leite condensado no pão de forma; de alguma forma a culpa será da imprensa. Afinal, onde ela esteve durante os mandatos petistas? Por que não os criticou com a mesma voracidade?

Trata-se de um vasto leque de possibilidades, mas, à guisa de expor outra situação clássica, vamos dizer que Ernesto e Weintraub firam a imagem do país. Disfarçado de crítico, o faxineiro-chapa branca sempre estará preparado para lançar mão da comparação com o PT. Michel Temer ocupou o poder por quase dois anos e meio após a queda de Dilma Rousseff; Lula está preso; a oposição, visivelmente fragilizada; no entanto é fundamental sugerir a onipresença da ameaça vermelha.

E, claro, existe também uma modalidade de tergiversação menos trabalhosa, embora eficiente: mudar de assunto. Agarrar-se a pautas extemporâneas, acima de tudo distantes do tema espinhoso.

Para além da postura em si, é incrível lembrar como esses mesmos, que hoje se prestam a tal papel, até ontem vociferavam contra quem atuava de maneira idêntica. No fundo, sempre foram iguais.

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