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Fotos: APU Gomes/AFP (à esq.) e Hugo Harada/ Agencia de Noticias Gazeta do Povo
Fotos: APU Gomes/AFP (à esq.) e Hugo Harada/ Agencia de Noticias Gazeta do Povo| Foto:

Afinal de contas, qual é a pauta dos protestos de hoje, timidamente desencorajados pelo presidente da República durante pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão? Contra o Congresso, como sugerem postagens divulgadas por muitos de seus seguidores nas redes sociais — impressão essa que o próprio Jair Bolsonaro reforçou ao declarar na quinta-feira que “um tremendo recado” já havia sido dado ao Parlamento? É pela volta dos militares? Por um novo AI-5? Ou a favor das reformas, como chegou a pleitear Paulo Guedes, ignorando a inércia do governo em enviá-las?

Tanto faz. Ao fim e ao cabo, a teimosia daqueles que forem às ruas hoje somada às demonstrações de empáfia do presidente e do ministro da Economia nos últimos dias emolduram o fato de estarmos prestes a lamentar mortes que poderiam ser evitadas.

Em condições normais, deveria chocar o presidente ter tachado uma pandemia global — presente hoje em mais de 100 países e responsável por uma quebradeira recorde nos mercados — de “fantasia”.

Idem para o momento em que resolveu dar “uma banana” para a imprensa logo após ter divulgado nas redes sociais o resultado negativo de seu exame para covid-19.

A grande ironia é que, por conta das idas e vindas mal explicadas na comunicação com o deputado federal Eduardo Bolsonaro e sua entourage, quem acabou sendo açodado foi justo o canal americano Fox News, preferido do presidente Donald Trump.

Os americanos não faziam ideia de onde estavam se metendo. Não foi por acaso que nenhum veículo de comunicação brasileiro garantiu que Bolsonaro estivesse contaminado antes da hora.

Para além do constrangimento, ficou a impressão de que a prioridade do governo nunca foi com o real estado de saúde da autoridade máxima do país, e sim em conduzir uma narrativa que apontasse para uma volúpia da mídia em reportar notícias ruins.

Não há novidade no comportamento do presidente, mas em tempos tão excepcionais era de se esperar uma trégua. Com uma nova bateria de exames marcada para acontecer em 6 dias, e até lá em isolamento, talvez ela se dê por força das circunstâncias.

O fato de não estar localizado em uma zona temperada do planeta deu ao Brasil uma vantagem evidente, considerando-se a rapidez do Covid-19 para se alastrar: tempo. Tempo para se antecipar ao pior momento do surto e para aprender com políticas eficientes adotadas em outros países.

Todavia, se o presidente não aprendeu com os últimos acontecimentos para entender que estamos enfrentando uma ameaça com potencial devastador e moderar a sua verve, tampouco o fez Paulo Guedes: “Com 3, 4, 5 bilhões de reais a gente aniquila o coronavírus”, declarou o ministro à revista Veja.

É certo dizer que em algum momento o governo Jair Bolsonaro passará. Até mesmo o olavismo corre o risco de ser relegado às lembranças de quando o povo  deixou-se levar por uma doutrina tão populista quanto aquela que pretendia substituir. Entretanto, não é possível confiar que algum dia Guedes dominará a arte de ser comedido nas declarações.

Não bastasse sua imagem já estar desgastada pelo pouco que entrega, mesmo assim continua lançando mão de números grandiosos e faz parecer que todos os elementos necessários para uma mudança radical nos rumos do Brasil estão sob o seu controle.

Descontando Sérgio Moro, a cada dia que passa mais apagado, Jair Bolsonaro e Paulo Guedes receberam o voto de confiança de milhões de brasileiros. Espera-se deles conduta e competência à altura dos desafios que o país precisa enfrentar. Acima de tudo em momentos de crise como este que vivemos.

Hoje, ambas, conduta e e competência, estão em falta.

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