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Pode-se dizer que tudo teve início em 2016, com o advento do Brexit e, em seguida, com a  eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. A partir de então, do italiano Matteo Salvini ao húngaro Viktor Orbán, do turco Recep Erdogan a Jair Bolsonaro, discursos populistas com viés à direita ganharam impulso.

De lá para cá, afora a queda de Salvini, a derrota de Marine Le Pen e a confirmação do Brexit, pouco mudou. Um insucesso de Trump no pleito deste ano, contudo, poderia significar a reversão desse efeito dominó. Especialmente se ele acontecer por meio de uma disputa com o ex-vice-presidente Joe Biden, candidato democrata hoje favorito a conquistar a nomeação do partido e considerado de centro.

Considerando a influência política, econômica e cultural que os Estados Unidos exercem, o fracasso do presidente americano em se reeleger, fato raro na história recente, enviaria um sinal. De imediato, deixaria órfãos de seu principal modelo governos que nutrem pela administração americana um xodó digno de fã-clube.

Se confirmado, tal desfecho certamente teria enorme influência no cenário geopolítico, inclusive a ponto de proporcionar o resgate de agendas caras à comunidade global — como a mudança climática, a imigração e a diminuição da pobreza. A questão é que seu efeito não seria o mesmo caso resultasse no triunfo de um “socialista democrático”, como o senador Bernie Sanders gosta de se autoproclamar.

Com o endosso de seus apoiadores, Sanders habituou-se a pintar o establishment do Partido Democrata e as grandes corporações como aliados em uma conspiração tramada com o objetivo de afastá-lo da Casa Branca.

A cúpula do partido tem todo o direito de preferir um candidato fiel à legenda a um independente, cuja filiação só se dá em períodos eleitorais. Assim como é legítimo que as corporações pincem suas escolhas. Seria mais útil ao senador de Vermont fazer uma autocrítica. Quiçá se perguntando por que suas ponderações a respeito do regime castrista em pleno ano da graça de 2020 não surtem o efeito desejado. Idem para a insistência com um plano para a Saúde que nem ele próprio parece ser capaz de esclarecer quantos trilhões custará aos cofres públicos.

O problema em uma possível derrota de Trump para Sanders é que ela apenas possibilitaria a troca de um presidente com discurso polarizante por outro. Resultado esse que de certo não serviria para desacelerar o pêndulo ideológico. Bem ao contrário, teríamos tão somente um revezamento nas trincheiras.

Não falta quem enxergue em Joe Biden semelhanças com Geraldo Alckmin. Teme-se por sua nomeação, sobretudo por uma aparente falta de energia e porque o momento parece mesmo ser dos extremos.

Tudo bem. Trump, hoje, é sem dúvida favorito. Tanto porque estatisticamente presidentes americanos se reelegem quanto porque a economia nunca esteve tão em forma (a ver se o coronavírus de fato quebra esse cenário).

De todo modo, se for para mudar, que não seja uma mudança radical. Que a rejeição alimentada por um discurso polarizante como a do presidente americano sirva para guinar o país rumo à normalidade institucional.

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