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Foto: Mandel NGAN/AFP
Foto: Mandel NGAN/AFP| Foto: AFP

Há uma convicção absoluta, quase unânime entre os brasileiros que acompanham a cena política americana por conta da próxima eleição presidencial, marcada para acontecer em 3 de novembro: Donald Trump já está reeleito.

O açodo ganhou corpo, acima de tudo, pelo fato de que a economia, tomando como referência as últimas cinco décadas, jamais se apresentou tão pujante. Só em dezembro último, 145.000 novas vagas de trabalho foram ocupadas e a taxa de desemprego permanece estagnada em 3.5%, a mais baixa na história. Trata-se de um cenário de pleno emprego e expansão, ainda que com leves sinais de desaceleração.

O ataque ocorrido há pouco mais de uma semana em Bagdá, ocasionando a morte do notório general iraniano Qasem Soleimani, e o desfecho até este momento positivo para o governo — a esperada retaliação iraniana ficou nos prejuízos estruturais —, não poderiam mesmo ter resultado melhor para o presidente americano.

Contudo, quaisquer cálculos que sejam feitos no sentido de antecipar o cenário eleitoral por aqui não podem ignorar uma fator com potencial para determinar o resultado do próximo pleito: a polarização.

Não há de ser por acaso que a cartada da economia forte — desde sempre imperativa, mas somente cristalizada nas eleições presidenciais de 1992, quando o então estrategista da campanha do democrata Bill Clinton, James Carville, cunhou a expressão “it’s de economy, stupid” — se descola de boa parte do eleitorado.

Assim como não há de ser por acaso que Donald Trump sofra nas mais variadas pesquisas de aprovação, e saia perdendo em confrontos diretos com possíveis rivais democratas na disputa pela Casa Branca — com margem considerável para o ex-vice-presidente Joe Biden.

No fim das contas, não resta dúvida, o discurso divisivo de Trump é eficiente para manter a base republicana em estado de alerta, pronta para defendê-lo nas redes sociais, lotar comícios e, claro, comparecer às urnas. O problema consiste no fato de que essa mesma retórica, não apenas afasta, mas divorcia o presidente do eleitor moderado.

Vale lembrar: o voto nos Estados Unidos não é obrigatório, como no Brasil. Tanto Trump quanto Biden, ou quem for o escolhido pelo Partido Democrata, precisam adotar um tom capaz de seduzir o eleitor para que ele participe da eleição. No caso específico de um país tão cindido, o voto do cidadão sem lado definido pode ser fundamental.

Diga-se de passagem, leitura idêntica pode ser aplicada ao cenário brasileiro. A argumentação — por vezes agressiva, beirando o fanatismo e assaz incongruente com o discurso de campanha do então candidato Jair Bolsonaro — pode muito bem cair no gosto do eleitor comprometido com o governo, contudo empurra para longe quem não se vê obrigado a rezar pela cartilha extremista.

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