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Enquanto escrevo estas linhas, o ministro Gilmar Mendes faz a leitura do seu voto no julgamento sobre a prisão de condenados em segunda instância. Tudo indica que a decisão ficará a cargo do presidente do Tribunal, ministro Dias Toffoli, e que não será do agrado da maioria dos brasileiros.

Seja qual for o resultado, outro evento ocorrido hoje, o bate-boca seguido de ameaças e tentativas de pugilato entre os jornalistas Augusto Nunes e Gleen Greenwald, deixa clara a várzea em que a dicotomia político-ideológica nos atolou.

Não vem ao caso definir quem está certo nessa pendenga, embora me pareça óbvio que a simples menção aos filhos de alguém redefina o significado de golpe abaixo da cintura. O ponto central é que o debate público morreu. Ainda pior, não faz sentido nutrir esperanças de que tão cedo haja condições para o seu ressurgimento.

Não estou exagerando. Gostaria, mas não é o caso. Basta ver a primeira reação das pessoas ao acontecido, muitos inclusive lamentando o fato de a escaramuça não ter descambado para um nível de agressividade maior, outros tentando justificar o injustificável — coro esse que encontrou abrigo até mesmo no alto escalão do governo.

Com esse patético episódio ocorrido hoje nos estúdios da Jovem Pan, a nossa capacidade de argumentação finalmente encontrou o fundo do poço. Saem no lucro aqueles interessados em ganhar no grito, por meio de maledicências, da imbecilização dos incautos e do ataque às instituições democráticas. Perdem todos os demais.

Para além de reforçar a divisão em nossa sociedade, fico particularmente preocupado com o incentivo que a cena de Augusto Nunes com a mão no rosto de Greenwald possa ter gerado.

Se com violência não se tergiversa, e é certo que assim seja, como podemos progredir se quem parece importante a ponto de ser requisitado para um programa de grande audiência endossa a sua utilização?

É a várzea total, o fundo do poço. A boa notícia, tentando enxergar o copo mezzo pieno, é que não podemos piorar. Afinal, a violência liberta. Se como verdadeiros animais revolvemos as coisas no braço, argumentar precisa ser o estágio evolutivo seguinte.

Entretanto o momento não deixa de ser vergonhoso e é fundamental que tenhamos essa consciência. Que ainda sejamos capazes de enrubescer. Só a noção do ridículo pode nos salvar de um retrocesso civilizatório cujas raízes, pelo andar da carruagem, tendem a se aprofundar cada vez mais.

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