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Ano que vem, se Deus quiser
| Foto: Daniel Nardes/ Gazeta do povo

Às vezes temo que não saberei voltar à vida normal. Mas também pode ser que a “vida normal” se imponha tão rápido que nem terei tempo para pensar no que vou fazer. Só eu me sinto assim?

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Quem diria? Mais um ano desse jeito. Mais um ano excepcional, em que vivemos preocupados com o que está no ar que respiramos, vivemos nos negando pequenos prazeres e fugindo de hábitos que, de tão normais, nem notávamos.

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A pandemia completa um ano no Brasil e creio que é isso que está fazendo estes pensamentos surgirem na minha cabeça a toda hora. Um ano! Pensei que estaríamos melhor depois de seis meses, o que dirá depois de um ano. Pensei que haveria mais controle sobre o vírus. Um ano.

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Ainda assim, outro pensamento que me ocorre constantemente é que sou afortunada. O que me leva a lembrar dos que não são afortunados, que são muitos. Diante deste círculo vicioso mental, não dá para ficar alegre. Mas dá para se sentir grato e responsável.

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Ano que vem, se Deus quiser, irei muito ao cinema. Ano que vem, se Deus quiser, almoçarei e jantarei com amigos.

Se Deus quiser, viajarei – viagens curtas e longas. Me sentarei em um restaurante despreocupadamente. Sairei de casa para trabalhar.

Abraçarei meus irmãos toda vez que nos encontrarmos. Encontrarei meus irmãos muitas vezes. Voltarei ao Teatro Guaíra, ao Paiol.

Beijarei as bochechas rosadas do garotinho que vive na casa em frente.

Participarei do churrasco dos vizinhos. Não me sentirei tola por me cuidar tanto enquanto outros parecem se divertir muito mais.

Não me sentirei culpada por não me cuidar o suficiente. Me sentirei aliviada.

Me perguntarei se não foi tudo um pesadelo. Continuarei usando máscara até ouvir o Clóvis Arns dizer na RPC que estamos liberados.

Ficarei muito feliz pelos amigos idosos que, finalmente, estarão livres para voltar às ruas.

Irei à festa da igreja e comerei risoto naquela longa mesa compartilhada com vários desconhecidos.

Irei na festa junina da escola pública do meu bairro e jogarei argolas para ganhar um penal colorido. Voltarei a viver como antigamente ou melhor que antigamente (alguma coisa terei aprendido com tudo isso, afinal!)

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Ano que vem, talvez eu não faça tudo isso. Mas, se quiser, poderei fazer porque estaremos mais seguros, imunizados por essa vacina que ainda nem sei quando vou tomar (Ano que vem? Ou ainda este ano, se Deus quiser?)

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