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Saudades de você, Curitiba
| Foto: Imagem: Daniel Nardes/ Gazeta do Povo

Ando com saudades de Curitiba. Que eu sinta falta da cidade onde moro e de onde não tiro o pé há seis meses é algo que preciso registrar.

Tenho circulado um pouco, ou melhor, sempre que posso vou para a rua. Faço com entusiasmo tarefas que antes evitaria, como atravessar a cidade para comprar broinhas de fubá no Juvevê, devolver o livro para a prima que mora no Boqueirão, doar tampinhas para a ONG do Bairro Alto, comprar uma flor no orquidário do São Lourenço. Oba! Lá vou eu, feliz da vida, naquele percurso que poderia evitar e que me obriga a cruzar quatro bairros. É uma saidinha, afinal.

Mas é de carro que faço isso tudo e passeio de carro... bem, você sabe, é uma experiência sensorial muito pobre. O cheiro que sinto é o do meu Toyota e não o da rua. As coisas que vejo passam rápido e sem detalhes. Das pessoas com quem cruzo só sei dizer se usam máscara ou não.

O Centro continua o mesmo, apenas com mais portas fechadas e menos transeuntes. Os velhos prédios; os sujeitos nas portas, aos berros, me chamando para comprar roupa de inverno; alguns comércios que vi tantas vezes que chegam a me emocionar.

Descobri a saudade alojada no meu peito quando parei na esquina da José Loureiro com a Doutor Muricy. Tinha acabado de sair do restaurante Pote Chopp, um herói da resistência gastronômica, onde se pode comprar uma deliciosa língua com purê e ervilhas. Um amigo descobriu a iguaria na sua busca por variedade nas marmitas que encomenda e apaixonou-se. Parece que agora come língua com purê e ervilhas duas vezes por semana: na segunda, compra no Pote Chopp e na terça, no Maneko’s. De tanto ouvir elogios ao prato, fui lá no Centro buscar língua para meu almoço. Fui pessoalmente porque moro no Cascatinha e a entrega ficava tão cara quanto a comida. Exagero... Fui porque queria ir. Porque como já disse, estou indo a qualquer lugar para sair de casa.

Voltemos então à esquina da José Loureiro com a Muricy. Parei ali, o almoço na sacola e a máscara no rosto, para ver o movimento. O Centro continua o mesmo, apenas com mais portas fechadas e menos transeuntes. Os velhos prédios; os sujeitos nas portas, aos berros, me chamando para comprar roupa de inverno; alguns comércios que vi tantas vezes que chegam a me emocionar. Por exemplo, ali mesmo na José Loureiro, quase esquina com a Westphalen, está a panificadora Camponesa, que faz um ótimo pão d’água e onde o proprietário, há muitos anos, me deixou comprar fiado mesmo sem me conhecer. Eu só com cartão e ele sem maquininha. Parece pouco, mas me senti muito bem ao ser capaz de matar a fome mesmo sem poder pagar. O mundo ideal não seria assim?

Dias atrás voltei ao Centro só para ir à Camponesa. Deixei o carro em um estacionamento a umas três quadras da panificadora e – oba! – caminhei na rua. Infelizmente não estava com fome e por isso não comi pão com manteiga no balcão. Levei o pão d’água para casa. Perguntei à moça do caixa sobre aquele senhor que me atendia e fui informada que morreu há três anos. O nome dele era Antônio Garcia Matias, que descanse em paz e conte com minha eterna gratidão. Já no carro, belisquei o pãozinho, tentadoramente quente, e... Tóóim! Algo de bom ainda existe neste mundo tomado por incêndios, vírus e ignorância! Pão d’água da velha padaria no velho Centro da minha velha cidade. Velha também estou ficando eu, mas isso não tem nada a ver com o assunto desta coluna e por isso me despeço por aqui.

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