colunas e Blogs
Mauro Cezar Pereira
Mauro Cezar Pereira

Mauro Cezar Pereira

Opinião

Flamengo atropela Corinthians e Jesus segue dando lições a descrentes técnicos brasileiros

Por
Mauro Cezar Pereira
04/11/2019 01:21 - Atualizado: 29/09/2023 16:49
Flamengo lidera o Brasileirão com folga
Flamengo lidera o Brasileirão com folga | Foto: WALLACE TEIXEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO

Foi tão fácil que nem parecia um duelo entre dois dos maiores clubes do futebol brasileiro, os donos das maiores torcidas. Os 4 a 1 do Flamengo sobre o Corinthians marcaram mais uma vitória com grande imposição do time carioca, transformado pelas mãos de Jorge Jesus.

TABELA: confira a classificação e os próximos jogos do Brasileirão

Nesta semana apenas foram mais dois treinadores brasileiros a minimizar o trabalho do português. Primeiro Fábio Carille, demitido domingo após seu time ser massacrado, disse que não via nada demais no trabalho de Jesus. Depois Mano Menezes deu entrevista à ESPN Brasil dizendo que Abel Braga faria o mesmo que o europeu se seguisse no comando do Flamengo.‬

Incrível a dificuldade de tantos em admitir o que está cada vez mais claro, algo impossível de esconder, de maquiar: a superioridade do trabalho de Jesus sobre a média geral no país. Foram 570 passes certos contra 185, 15 arremates contra sete (cinco a quatro em finalizações certas), 66% de posse de bola ante 34% dos corintianos.

Tudo isso menos de 24 horas depois de o Palmeiras, que tenta perseguir o Flamengo, sofrer diante de um desfalcado Ceará, em São Paulo. Após o dramático 1 a 0 de sábado, não faltaram vozes destacando uma suposta pressão alviverde sobre o líder.

Flamengo goleou o Corinthians, que teve o técnico Fábio Carille demitido após a partida
Flamengo goleou o Corinthians, que teve o técnico Fábio Carille demitido após a partida

Coisa de quem só olha a tabela de classificação. Rapidamente a diferença voltou aos oito pontos, após mais uma vitória palmeirense marcada por polêmica de arbitragem e VAR. Quem observar o que se passa em campo notará que, em matéria de futebol, a distância é muito, mas muito maior.
***

Estão vendendo nova ilusão aos torcedores de futebol do Brasil

Endividados, alguns encalacrados, os clubes brasileiros estão sempre à espera de uma solução mágica. Um mecenas que, com toda sua generosidade, despeje milhões para contratar jogadores e assumir dívidas, responsabilidades não honradas por tantos dirigentes. Um salvador da pátria com grana sobrando sem saber onde colocá-la.

Trilhar o rumo da reestruturação a partir dos próprios recursos, gerados pela agremiação, é para poucos. E poucos querem, poucos tentam. Acham melhor seguir na gastança sem freios, em contratações acima das possibilidades econômicas, na satisfação ao torcedor que cobra sem pensar no contexto, agindo como se não houvesse amanhã.

Mas há. E diante disso, após inúmeras ferramentas criadas por diferentes governos para socorrer os clubes financeiramente combalidos de nosso futebol, sempre há quem peça, espere, sonhe com outras ajudas oficiais. Criado em 2015, o mais recente foi o Profut (Programa de Modernização da Gestão de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro).

Sua aprovação significou o perdão de dívidas imensas de entidades esportivas com o governo federal. Passados 44 meses, em abril a Folha de S. Paulo informava que 18 clubes, oito da Primeira Divisão e dez da Segunda, já haviam voltado a se endividar com a União. Eram, então, quase R$ 93 milhões em débitos tributários e previdenciários, imposto de renda, CSSL, PIS, Cofins, INSS e FGTS.

Figueirense teve problemas desde que passou a ser gerido por uma empresa. Jogadores se negaram a jogar após salários atrasados na Série B
Figueirense teve problemas desde que passou a ser gerido por uma empresa. Jogadores se negaram a jogar após salários atrasados na Série B

A contrapartida do Profut era a obrigatoriedade das CNDs, como ficaram conhecidas as Certidões Negativas de Débitos. Sem esse documento os clubes não poderiam participar de competições. O Supremo Tribunal Federal (STF) há meses ameaça eliminar tal exigência.

Agora Câmara de Deputados e Senado discutem projetos de lei que permitiriam a transformação dos clubes em empresas em novo formato. Hoje eles são associações sem fins lucrativos, geridas por dirigentes eleitos e sem um proprietário. Evidentemente, como ocorre em outros países, os clube-empresas poderiam ter donos, sócios, investidores.

Os projetos que tramitam nas diferentes casas não são iguais, têm suas peculiaridades. Independentemente disso, deixam os cartolas entre boquiabertos à espera da oportunidade e imaginando o desembarque de investidores que jorrariam dinheiro para dentro dos clubes. Em comum: ambas as propostas preveem a chance de recuperação judicial.

Mas se a ideia for adiante, as agremiações passarão a lidar com um fato novo: a tributação. Há outros detalhes e muito a discutir, mas o fato é que a grande motivação da maioria dos clubes de futebol do país que apoiam tais projetos é a mudança na legislação que abra as portas para os salvadores. Mas eles viriam? Em que quantidade?

O mais curioso e que há décadas existe a possibilidade de clubes de futebol serem empresas. Na verdade querem remodelar as regras para que a ideia sirva de isca mais apetitosa para os tais investidores. Em 2017 o Figueirense aderiu e nesta temporada mergulhou em sua maior crise. Falindo, foi salvo pelos "sócios" de coração, os torcedores, que nunca abandonam.

Na Inglaterra, o Bury, que disputava a Terceira Divisão, foi extinto após 134 anos de existência. O nome do clube dos arredores de Manchester nem aparece mais na tabela de classificação da League One, como é chamado o equivalente à Série C, excepcionalmente com 23 times devido à exclusão da agremiação centenária, endividada, quebrada.

Clube inglês, o Bury foi extinto após 134 de existência. Foto: Divulgação Twitter Oficial Bury
Clube inglês, o Bury foi extinto após 134 de existência. Foto: Divulgação Twitter Oficial Bury

Exemplos negativos não significam que tudo dará errado sempre, mas haveria a chance de transformar uma agremiação em frangalhos nas finanças em empresa quebrada e ameaçada de desaparecimento. E os defensores dos projetos que caminham em Brasília mal falam a respeito. Vender uma ilusão à torcida parece ser a prioridade de parte da cartolagem.

Em meio a isso, uma certeza: empresas ou associações, clubes de futebol seguirão formando equipes, cada campeonato terá apenas um vencedor, o campeão, rebaixados continuarão caindo e a maioria dos times não terminará a temporada festejando. Caminho perigoso no qual apaixonados por camisas tradicionais pouco questionam, muitos apenas sonham com os homens que investirão graciosa e generosamente em sua paixão.

É possível cortar custos, trabalhar com orçamentos menores, correr risco de rebaixamento, mas sem sair dos trilhos, reconstruir pouco a pouco um clube em torno de sua história e apoiado em sua gente, contando com ela. Mas isso demora, é difícil, sofrido. No Brasil a ideia, quase sempre, é buscar o caminho mais fácil. Mesmo que seja extremamente perigoso, mesmo que existam exemplos assustadores, como os do Bury e do Figueirense.

Veja também:
Cuca elogia o Maringá FC e projeta dificuldades do Athletico na final
Cuca elogia o Maringá FC e projeta dificuldades do Athletico na final
Da máquina de escrever ao Youtube: Carneiro Neto celebra 60 anos de jornalismo esportivo
Da máquina de escrever ao Youtube: Carneiro Neto celebra 60 anos de jornalismo esportivo
Paraná Clube confirma mais três reforços para 2024
Paraná Clube confirma mais três reforços para 2024
Carreira no rival, parceiro de Autuori e "low profile": como trabalha o novo executivo de futebol do Coritiba
Carreira no rival, parceiro de Autuori e "low profile": como trabalha o novo executivo de futebol do Coritiba
participe da conversa
compartilhe
Encontrou algo errado na matéria?
Avise-nos
+ Notícias sobre Mauro Cezar Pereira
Athletico pagou caro por não ter estratégias. E foi goleado pelo Galo nas finais
Análise

Athletico pagou caro por não ter estratégias. E foi goleado pelo Galo nas finais

Muricy, o áudio vazado e a defesa da gestão inconsequente do Corinthians
Análise

Muricy, o áudio vazado e a defesa da gestão inconsequente do Corinthians

Alemanha e Inglaterra sofrem com os antivacina e o vírus volta forte ao futebol
Análise

Alemanha e Inglaterra sofrem com os antivacina e o vírus volta forte ao futebol