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Mauro Cezar Pereira
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Opinião

O Flamengo e o coronavírus

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Mauro Cezar Pereira
19/03/2020 00:25 - Atualizado: 29/09/2023 16:49
Reunião da FERJ que definiu pela paralisação do Carioca.
Reunião da FERJ que definiu pela paralisação do Carioca. | Foto: Ursula Ney, Agência Ferj

Segunda-feira aconteceu a reunião na Federação de Futebol do Rio de Janeiro (FFERJ) que definiu pela interrupção do Campeonato Carioca. Pessoas que participaram e a acompanharam afirmam que o Flamengo defendeu a sequência do certame mesmo com a pandemia de coronavírus chegando ao Brasil. Não foi a única agremiação no estado, nem no país, mas com repercussão bem maior.

>>Tempo real: acompanhe as consequências do coronavírus no esporte

Mas o que explica a diferença nas reações de imprensa e torcedores na comparação com outros clubes que tiveram postura parecida? Vamos lá!

1- O Flamengo foi o primeiro clube de futebol do país a ter detectada com a doença uma pessoa que esteve na delegação com os atletas, dirigentes e demais profissionais: o vice-presidente Mauricio Gomes de Mattos, que voltava da Espanha, ao se reunir com o grupo na Colômbia, onde o campeão da Libertadores derrotou o Junior de Barranquilla em 4 de março. Ele, inclusive, viajou por mais de seis horas no mesmo avião da delegação no retorno ao Rio de Janeiro.

Mauricio Gomes de Mattos. Foto: Divulgação, Flamengo
Mauricio Gomes de Mattos. Foto: Divulgação, Flamengo

2- Por isso, na sexta-feira passada material para exames foi colhido em dezenas de jogadores, funcionários e dirigentes. Os resultados inicialmente sairiam no domingo.

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3- Mesmo assim o jogo de sábado, com a Portuguesa, foi disputado. Em momento algum o Flamengo se mostrou contrário à sua realização, mesmo com a forte suspeita de que algum atleta poderia ter contraído a doença após contatos com o dirigente que tem o coronavírus.

4- Obviamente, ante a desconfiança de que jogadores rubro-negros poderiam estar com o vírus, pelo inevitável contato físico de uma partida de futebol, os da Portuguesa e do próprio Flamengo foram a campo expostos. Como achar isso certo?

5- Depois de não se manifestarem contra o jogo de sábado, os dirigentes do Flamengo teriam defendido, inicialmente, na Federação, a realização de mais jogos da Taça Rio, 2° turno do Estadual. Na reunião, o presidente da FFERJ, Rubens Lopes, abriu os trabalhos, depois um infectologista explicou os riscos do coronavírus e em seguida os rubro-negros tiveram a palavra.

>> Coronavírus e calendário: uma proposta para o futebol enfrentar a crise

6- Importante: até aquele momento, na manhã de segunda-feira, os resultados dos exames não haviam saído, ou seja, ninguém sabia, ainda, se algum atleta contraíra a doença.

7- Logo depois surgiu o resultado inicial do exame de Jorge Jesus: positivo! O técnico fez um segundo que foi “inconclusivo” e o resultado de um terceiro teste, que saiu na noite desta quarta-feira, foi negativo.

Técnico Jorge Jesus. Foto: Divulgação, Flamengo
Técnico Jorge Jesus. Foto: Divulgação, Flamengo

Como é possível, nesse contexto, alguém achar pouco relevante o Flamengo simplesmente cogitar a realização de mais jogos? Os atletas, rubro-negros e adversários, poderiam ficar expostos ao vírus? Isso seria admissível? Com tudo o que está se passando na Itália, por exemplo? Com tudo o que já ocorreu no próprio Flamengo, com uma pessoa contaminada e outra, até então, aguardando a confirmação de novo exame?

O clube posteriormente publicou nas redes sociais que “apoia a decisão unânime de paralisação do Campeonato Estadual por 15 dias”, mas no texto não nega, nem confirma, que inicialmente tenha defendido a disputa de mais partidas. Se o Vasco, que logo saiu da reunião e deixou seu voto com os times pequenos; e outros clubes também defenderam a sequência de campeonatos no Rio e em outros estados, isso é, evidentemente absurdo. Mas nesse contexto, o caso rubro-negro é pior.

É fácil entender por que o Flamengo foi o mais criticado. Ora, tendo um dirigente que esteve junto ao elenco com a doença e aguardando o resultado dos exames de todos os jogadores e demais integrantes do departamento de futebol, a única posição razoável que os representantes flamenguistas poderiam levar à reunião seria de paralisar imediatamente o certame para preservar a saúde de todos. Afinal, até aquele momento era o clube do futebol brasileiro mais próximo do coronavírus.

Na Itália e Espanha o início da pandemia não foi levado a sério como deveria. O resultado é o caos instalado, com a população enclausurada. Se o River Plate, rival do Flamengo na final da Libertadores, sábado se negou a enfrentar o Atlético Tucumán sem ter pessoas infectadas entre os seus dirigentes, atletas e demais profissionais, o mínimo que se poderia esperar do campeão sul-americano era agir da mesma maneira.

Há quem negue que o clube defendeu a sequência do Estadual. Mas não há como negar que, no mesmo dia, contra a Portuguesa, nada foi feito pelo adiamento do jogo. Mesmo com o fantasma do coronavírus pairando sobre todos os que foram a campo.

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