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Mauro Cezar Pereira
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Direitos de transmissão

Flamengo na liderança ressuscita discussão equivocada sobre cotas de TV

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Mauro Cezar Pereira
08/09/2019 23:03 - Atualizado: 29/09/2023 16:49
Flamengo na liderança ressuscita discussão equivocada sobre cotas de TV

O tema das cotas da TV voltou com força à pauta com a presença do Flamengo na liderança do Campeonato Brasileiro. Antes de mais nada, deixo claro que sou favorável a uma divisão mais equilibrada do dinheiro decorrente da venda de direitos de transmissão das partidas da Série A. Não a divisão em partes rigorosamente iguais, porque os clubes são diferentes, em tamanho, popularidade e audiência. Mas elas não deveriam ser tão desiguais.

>>> Confira a classificação da Série A do Brasileirão

Fato é que o atual formato, que se inspirou na maneira como a Premier League distribui o dinheiro arrecadado junto às redes de televisão, não melhorou a distribuição como muitos imaginavam. Isso evidencia a incompetência de quem defendeu essa fórmula, deixa claro que as análises e projeções, se é que as fizeram, eram rasas, mal feitas. E não estamos nos referindo a algo impossível de prever, pelo contrário.

O consultor Cesar Grafietti, responsável pelas análises de balanços dos clubes de futebol do país, anualmente divulgadas pelo Itaú BBA, já alertava para a perspectiva de crescimento das receitas de TV do Corinthians e principalmente do Flamengo, quando do anúncio da nova forma de distribuição do dinheiro. E tinha razão, tanto que as queixas persistem. Ele escreveu a respeito em sua conta no Twitter o que reproduzimos abaixo.

"Para quem não entendeu, não defendo o modelo atual de distribuição. Inclusive porque não tenho elementos para julgá-lo. Não consigo avaliar se é o mais justo. Mas o conceito de justiça precisa ser amplo. Mostrei que se seguirmos uma justiça plena, o valor deveria ser dividido igualmente entre os 20 clubes e isso impactaria positivamente mais os que recebem menos hoje que os grandes que já estão na média.

Mas para alguns não é justo receber o mesmo que um clube regional. Logo, a justiça vai até onde interessa: ganhar tanto quanto o rival direto, mas mais que os clubes de menor exposição e torcida. É justamente nessa discussão que não quero entrar, mas alguns torcedores não entenderam. Então vamos lá:

A justiça nas relações comerciais fica estabelecida pelo poder de barganha. Clubes equilibrados negociam melhor (Palmeiras agora e Grêmio anteriormente são bons exemplos). Em 2012 os clubes tiveram salto de receita e oportunidade de equacionarem suas contas. O que fizeram?

Usando os três clubes do Rio de Janeiro como exemplo, fiz uma conta usando o delta de TV, custo e investimento entre 2012 e 2018, e comparei com a dívida. Na tabela abaixo vemos quanto entrou de dinheiro, incluindo luvas, em valores atuais corrigidos pelo IPCA.

Fonte: Cesar Grafietti
Fonte: Cesar Grafietti

Veja que no período o Vasco conseguiu salvar um pedaço do delta de TV, mas como já vinha com resultados negativos, perdeu receita jogando a Série B, suas dívidas cresceram. Já Botafogo e Fluminense gastaram muito mais que o incremento de receitas da TV.

Largando de posições negativas, deveriam ter aproveitado o valor adicional de dinheiro para ajustar suas contas, mas fica claro que não fizeram. Por conta de Profut, que perdoou dívidas, o saldo final deles cresceu menos, mas sem sobras consistentes, não reduziram.

Significa que os clubes continuaram vendendo atletas para fechar suas contas, quando conseguiram. Esse é o ponto. Se os clubes tivessem ajustado custos, investido em base, usado o valor de TV para se equilibrarem, poderiam estar em melhor condição de negociação hoje.

Isso tudo e no período não conseguiram resultados esportivos relevantes. Ou seja, gastar mais e não aproveitar o dinheiro adicional não reverteu em conquistas. Mas poderiam estar melhores hoje. É isso que eu cobro dos clubes: pensar no longo prazo.

Os torcedores precisam olhar para seus clubes e ver o que fazem de errado. Cobram cotas de TV de Premier League, mas deveriam cobrar gestão de Premier League. Falando nisso, os seis grandes de lá já estão exigindo mais dinheiro da TV porque são eles que valorizam a competição.

Mais um pouco, e com pressão da Super Champions League, as ligas locais terão que ceder aos clubes de maior apelo, destinando mais dinheiro a eles. Mas este é um tema que não importa agora. O que os Brasileiros precisam é entender que só o equilíbrio salva.

Repito: futebol forte demanda times fortes, de tradição, com torcida. Mas isso só acontecerá quando torcedores, dirigentes e imprensa entenderem isso. Bater boca e insistir na tese de que a culpa é sempre dos outros não vai tirar ninguém do buraco".

Em suma, enquanto tantos apontam para os que recebem mais como se fossem vilões, a incompetência segue afundando muitos clubes. Mesmo se receberem mais dinheiro de cotas de televisão, como já ocorreu, eles não sairão do buraco sem mudanças administrativas.

O jornalista Paulo Cobos publicou em seu blog, ainda em janeiro, que o 33% do que arrecada o Flamengo é proveniente dos direitos de TV. O clube possui várias outras fontes de receita. Já em outros, como o Cruzeiro, que recebe menos, o dinheiro da televisão respondeu por 57% do faturamento.

Sim, o atual líder do campeonato brasileiro depende menos da verba da TV do que outros integrantes da Série A. Cobos acrescenta: "A dependência do dinheiro da televisão da equipe da Gávea é parecida a de gigantes europeus. Segundo levantamento da consultoria Deloitte, nos casos de Manchester United e Barcelona a fatia é de 33%. Na do Real Madrid, só um pouco maior: 35%".

Assim, a discussão sobre quotas de TV turbinada pela liderança rubro-negra no campeonato é vaga. E não levará a nada sem a identificação dos responsáveis pelos acordos feitos nos últimos anos, os dirigentes dos clubes em dificuldades e que reclamam.

Reclamam da tal "espanholização", que a priori envolveria Flamengo e Corinthians, agora fala-se em Flamengo e Palmeiras. A divisão chegou a esse formato a partir da implosão do Clube dos 13, que pelo menos negociava em bloco. E não há muitos questionamentos a dirigentes que fecharam tais acordos.

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