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Mauro Cezar Pereira
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Copa América

Seleção com essa torcida é como artista cantando para quem não sabe as músicas

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Mauro Cezar Pereira
16/06/2019 18:59 - Atualizado: 29/09/2023 16:49
Seleção com essa torcida é como artista cantando para quem não sabe as músicas
| Foto: Estadão Conteúdo

Contra o pior time da Copa América, atuando em casa, um chute na direção do gol em todo o primeiro tempo. Placar aberto graças a um pênalti (bem) marcado apenas porque hoje temos o recurso de vídeo a auxiliar a arbitragem no futebol.

Resultado, Brasil 3 x 0 Bolívia na modorrenta abertura do torneio. Com renda superior a R$ 22 milhões e público em grande parte tão distante do jogo e aquilo que o envolve que muitos preferiram se divertir com quem dormia na arquibancada.

No lugar de bandeiras, como no passado, baldes de pipoca que mais lembram público de cinema. Camisas oficiais da seleção brasileira, grande parte delas adquirida às vésperas da peleja, ou no caminho, após rápido pit stop num shopping mall.

Nessa atmosfera, difícil saber o que aconteceria se os comandados por Tite apresentassem algo mais próximo do que deles se espera. Aquele torcedor diferentão estaria mesmo interessado em ver um grande lance, futebol bem jogado. Ou rir do dorminhoco?

Sim, porque não é fácil entender como alguém desembolsa R$ 590 para adormecer sentado no andar mais alto do Morumbi, cifra confirmada pelo próprio torcedor sonolento ao portal UOL. Aquele público não é, definitivamente, de futebol, é outra turma.

Um pessoal que vai a jogo da seleção como quem sai de casa para um show. Sim, como quem vai um espetáculo musical de artista ou banda do exterior que talvez o sujeito só tenha chance de ver de perto uma vez na vida. Então vale o "investimento".

Evidentemente essas pessoas não são proibidas de ver partidas em estádios, na verdade os mais pobres, que sempre sustentaram o futebol, é que foram vetados. Pelo bolso. E o resultado disso é uma atmosfera gelada, como o que se via em campo.

Imaginem um show que poderia ser vibrante diante de uma plateia que não conhece as músicas. É mais ou menos a sensação transmitida por um cotejo do time da CBF ante seu atual público capaz de pagar preços absurdos por 90 minutos mal jogados.

Embora tenham anunciado ingressos esgotados (falava-se em mais de 67 mil torcedores no Morumbi), 47.260 lá estiveram. Talvez alguns tenham desistido devido à ausência de Neymar, o astro da "banda" canarinho, lesionado e fora do certame.

Fato é que embora o Brasil conte com jogadores bons o bastante para que, reunidos, formem uma boa e competitiva equipe, o que se viu foi um time conservador, mesmo diante de um oponente fragilíssimo. Com o maestro Tite extremamente cauteloso.

Sem seu pop-star, que apesar de todos os problemas nos quais andou se envolvendo é o melhor e mais "desequilibrante" entre os brasileiros, o time foi burocrático e sem ambição. A ponto de o técnico não abrir mão de dois volantes, mesmo sem terem quem marcar.

Parecia uma banda tocando músicas novas de um disco ruim. E diante de um público que lá estava para ver e ser visto, rir de quem dorme, fazer videozinhos com celular, postar selfies em redes sociais… Um público que desconhece até os antigos sucessos da seleção.

***

Se a equipe do Brasil não tem Neymar, Messi não tem a da Argentina. Isso, o craque em sua melhor fase, logo após temporada na qual carregou o Barcelona em suas costas, se viu solitário na estreia diante da Colômbia, praticamente impotente pela falta de parceria.

O time albiceleste fez sofrível exibição, especialmente no primeiro tempo, quando finalizou uma só vez e foi dominado nos 15 minutos que antecederam o intervalo. Melhorou na etapa final, mas foi apunhalado pelos colombianos com dois belos gols.

O camisa 10 perdeu uma excelente chance, tentou, criou algumas poucas, mas tudo parecia inviável ante o que tinha ao redor, uma equipe que mesclava nomes experientes sem conjunto com outros jovens e/ou de qualidade técnica questionável. Melancólico.

Incrível como Lionel Messi segue se entregando ao selecionado argentino enquanto os cartolas da AFA, a CBF de lá, continuam a não lhe oferecer estrutura mínima para que tenha um time de verdade ao redor. Quando o fizeram, em 2014, ele quase levantou a Copa do Mundo.

Introspectivo, na dele, o genial jogador leva críticas por jogar menos pelo seu país do que quando veste a camisa do Barcelona. A diferença é que, mesmo longe de seu melhor momento, o time catalão dá condições mínimas para Messi, novamente campeão espanhol.

Essa argentina de seu xará, Lionel Scaloni, técnico de 41 anos e pouca experiência, inicialmente não deu qualquer sinal de que vá socorrê-lo. Desse jeito, tendo que resolver tudo sozinho, as chances de uma campanha decepcionante serão imensas.

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