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Mauro Cezar Pereira
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Opinião

Tiago Nunes (presente) x Luxemburgo (passado); Seleção x Brasileirão

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Mauro Cezar Pereira
23/09/2019 00:20 - Atualizado: 29/09/2023 16:49
Luxemburgo e Tiago Nunes: duelo de gerações
Luxemburgo e Tiago Nunes: duelo de gerações | Foto: ESTADÃO CONTEÚDO

Uma das maiores falácias do futebol é aquela que posiciona a seleção brasileira como algo acima de tudo e de todos. Como se um grupo de homens vestindo camisa, calção e calçando chuteira fossem indiscutivelmente os representantes da nação. Uma gigantesca tolice.

Quando um país entra em guerra, o cidadão tem o direito de ser contra o conflito, de considerar que aqueles militares no campo de batalha e pelo que lutam não o representam. Por que seria a nós imputada a obrigação de torcer pelo time de verde e amarelo?

Governantes podem levar as forças armadas ao campo de batalha e parte do povo tem o direito de discordar deles e de suas decisões. Já o torcedor pode simplesmente virar as costas para o time da CBF. Ainda mais com o perfil construído por dirigentes da entidade.

A equipe da Confederação nada mais é que um time, o apoia quem bem entende. E nos últimos anos ficou evidente o crescente desinteresse dos torcedores por seus jogos e resultados. Mas ainda há que discurse como se todos estivessem preocupadíssimos com a seleção.

Apoiada no poder atribuído a ela pela Fifa, a Confederação Brasileira de Futebol faz o que quer. Inclusive com a manutenção de um calendário que sacrifica os clubes, forçados a ceder atletas e jogar desfalcados para alimentar os insossos amistosos da entidade.

O argumento, tacanho, velho, ultrapassado, dos defensores desse sistema sórdido é aquele que posiciona a seleção no topo. Como se existisse um clamor popular pelos jogos do time "canarinho", como se quem torce no futebol o preferisse ao seu próprio clube de coração.

Pesquisa nacional do Datafolha feita às vésperas da Copa do Mundo de 2018 mostrou que 53% dos brasileiros não tinham qualquer interesse pelo Mundial. Foi a primeira vez desde 1994 que mais da metade demonstrou não estar nem aí para o mais importante certame de seleções.

Isso com o grupo de Tite em alta. Na dividida entre times e o selecionado cebeefiano, o torcedor demonstra preferir o clube de coração. Sempre foi assim e cada vez mais se acentua essa relação, com a balança da paixão pendendo para o lado das agremiações.

Mas o calendário prioriza os jogos do time da CBF. Em nome de amistosos sem nexo, equipes são desfalcadas, enquanto a entidade leva os jogadores para partidas que não têm a menor relevância. O que interessa ao torcedor não importa para os cartolas. Um eterno absurdo

Em campo, empate, fora, "goleada" de Tiago Nunes em Luxemburgo

No morde e assopra, provavelmente incomodado com o 1 a 1 diante do Athletico, ainda em clima de festa pelo título da Copa do Brasil, Vanderlei Luxemburgo tentou jogar com as palavras. Sim, jogar com as palavras, não palavrões, como em recente palestra em evento da CBF.

Disse o treinador do Vasco: "O Athletico é o time mais argentino do Brasil. Cai, enrola, ganha tempo, eles jogam assim(…). Mas não quero tirar méritos deles, não. É um grande time com um treinador em começo de carreira". E que começo de carreira, não "professor"?

Em 528 dias, Tiago Nunes conquistou três títulos, o Paranaense e a Copa Sul-americana de 2018, além da Copa do Brasil 2019. Luxemburgo ficou 541 dias sem trabalho, depois de ser demitido do Sport entre os jogos do mata-mata diante do Junior de Barranquilla em 2017.

Para recordarmos seus três últimos títulos é preciso voltar muito no tempo. Há 3.429 dias ele ergueu o troféu de campeão mineiro com o Atlético, em 2011 levantaria o do Rio de Janeiro com o Flamengo e em 2017 mais um Estadual, o pernambucano, comandando o Sport.

No rubro-negro do Recife, Luxemburgo comandou a equipe apenas no jogo final, frente ao Salgueiro. Suas muitas conquistas ficam cada vez mais no passado. Tiago, por sua vez, segue em ascensão, um técnico de sucesso que comanda um time capaz de jogar bem e vencer.

"Comparar a gente com outras escolas é complicado, são contextos diferentes. A gente é pouco competitivo se comparar com River Plate e Boca Juniors", disse, com elegância, o atleticano, batido nos confrontos com os argentinos semifinalistas da Libertadores

Tiago Nunes comemorando a conquista da Copa do Brasil
Tiago Nunes comemorando a conquista da Copa do Brasil

Mas essa questão de escola argentina, vejo de outra forma", prosseguiu Tiago Nunes. "Nossa equipe é madura, mostrou isso na Copa do Brasil e a gente não faz nada fora das leis do jogo, jogamos de maneira honesta e sem anti-jogo", acrescentou. Preciso.

Tiago estará na próxima Libertadores, e se esbarrar novamente com River ou Boca, poderá mostrar um time mais forte, capaz de se sair melhor longe da Arena da Baixada, seu calcanhar de Aquiles. Mas em São Januário o time foi bem, mesmo de "ressaca" pela festa do título.

O técnico do Athletico não foi feliz em recentes declarações após os duelos com Jorge Jesus, o português que dirige o Flamengo. Parecia comprar a briga de outros treinadores, obsoletos, que parecem temer a presença de estrangeiros. Não é o caso dele, óbvio.

Mas neste domingo foi bem: “Primeiro quero dizer que sou fã do Luxemburgo. Ele ajudou a construir o futebol brasileiro. Não fazemos nada fora da lei do jogo, dentro das regras”, encerrou Tiago Nunes, cirúrgico. Ele é o presente, o futuro. Luxemburgo, o passado.

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