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Mauro Cezar Pereira
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Análise

Times brasileiros são mutilados em nome de amistosos insuportáveis da seleção

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Mauro Cezar Pereira
13/10/2019 18:43 - Atualizado: 29/09/2023 16:49
Times brasileiros são mutilados em nome de amistosos insuportáveis da seleção
| Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Na semana passada a CBF anunciou seu calendário para 2020. Fez questão de explicar que os períodos e respectivas datas são definidos após três etapas. Primeiro a Confederação Brasileira de Futebol aguarda que a Fifa defina as 10 datas reservadas para jogos de seleções. Depois a Confederação Sul-Americana (Conmebol) anuncia as 20 dedicadas aos certames continentais, como a Copa América, por exemplo. Então as demais datas são preenchidas com as competições domésticas, que envolvem os times pelos quais os brasileiros realmente torcem.

Fica evidente que a prioridade é das seleções, não dos clubes. Mas ainda assim existiriam dias suficientes para os campeonatos internacionais, como Libertadores, Sul-americana e Recopa, o Campeonato Brasileiro em suas quatro divisões e a Copa do Brasil. Mas, como ressalta a própria CBF, depois que Fifa e Conmebol reservam datas para seus eventos, a Confederação também define "o período destinado aos estaduais". E é aí que reside o problema. Em 2020 eles irão de 22 de janeiro a 26 de abril, ocupando nada menos que 16 datas. Inacreditável!

É um longo período, quase equivalente a um turno inteiro do Brasileirão. "Com a compreensão das Federações Estaduais e a flexibilidade por parte da Conmebol, reduzimos o número de datas utilizadas por campeonatos estaduais, Copa Libertadores da América e Copa Sul-Americana, abrindo espaço para que as Datas Fifa não tenham nenhum conflito com as competições nacionais", destacou o Diretor de Competições da CBF, Manoel Flores. Mas na realidade o problema está longe de ser solucionado e isso não é difícil de se notar.

No próximo ano os clubes brasileiros irão se deparar com Data Fifa na véspera de rodada do Brasileirão, Copa América em meio à disputa da competição, além de pelo menos três rodadas em dias seguintes a jogos da seleção pelas eliminatórias da Copa do Mundo 2022, entre outros conflitos tão absurdos quanto comuns. Mas todos esses problemas seriam solucionados se os Campeonatos Estaduais não existissem. Contudo, há solução, basta os cartolas cebeefianos e seus aliados presidentes de federações colocarem o futebol como prioridade.

As Datas Fifa em 2020 terão cinco períodos nos quais os selecionados nacionais convocarão atletas. Em cada um deles, dois meios de semana e um final de semana serão afetados, ou seja, 15 períodos (quarta e quinta-feira ou sábado e domingo) com desfalques. Por que não encaixar as partidas dos estaduais exatamente nessas datas, espalhando-as pelo ano inteiro? Os times que cedem atletas às diversas seleções mantidas pela CBF jogariam desfalcados a competição menos importante. Faltaria uma só data para se chegar às 16, algo de fácil solução.

Mas e os times menores, que não disputam campeonatos de âmbito nacional, que estão fora das Séries A, B, C e D? Aí é que deveriam entrar a Confederação e suas filiadas de cada Estado. Com o dinheiro que a CBF arrecada com a seleção principal, que existe graças aos caros jogadores mantidos pelos grandes clubes brasileiros e do exterior, ela deveria fomentar competições regionais, que manteriam os menores em atividade. Jogando entre eles, com apoio financeiro da entidade, teriam calendário e duelariam por vagas na Copa do Brasil.

Ao mesmo tempo, a rede de TV que desembolsa quantias relevantes pelos decadentes campeonatos estaduais, teria grade de programação com os jogos dessas competições quando a seleção estivesse reunida. E os clubes poderiam utilizar esses certames para promover jovens, poupar titulares importantes não convocados para alguma seleção, em suma, administrar elenco e estabelecer prioridades. Aqueles que, sem chances de conquista nacional ou internacional, que quisessem lutar para ser campeões de seus Estados poderiam priorizar esses torneios.

Mas haverá boa vontade? A intenção de mudar? Improvável. Impossível. Os interesses políticos seguirão acima dos esportivos e do desejo de torcedores frustrados com desfalques em momentos importantes de seus clubes e indiferentes aos amistosos insossos do time "canarinho", como os dessa semana, em Cingapura, contra Senegal e Nigéria. Só o duelo deste domingo entre Athletico e Flamengo somou quatro baixas, o goleiro Santos, Bruno Guimarães (este no selecionado Sub-23), Rodrigo Caio e Gabigol. Um atentado contra o Campeonato Brasileiro.

Que tal encaixar os Estaduais aqui?
As Datas Fifa de 2020 e os finais de semana com times mutilados
23 a 31 de março - 4a e 5a feira (25 e 26); sábado e domingo (28 e 29); 4a e 5 a feira (1 e 2 de abril)  
1 a 9 de junho - 4a e 5a feira (3 e 4); sábado e domingo (6 e 7); 4a e 5 a feira (10 e 11)  
31 de agosto a 8 de setembro - 4a e 5a feira (2 e 3); sábado e domingo (5 e 6); 4a e 5a feira (9 e 10)
5 a 13 de outubro  - 4a e 5a feira (7 e 8); sábado e domingo (10 e 11); 4a e 5a feira (14 e 15)
9 a 17 de novembro - 4a e 5a feira (11 e 12); sábado e domingo (14 e 15); 4a e 5a feira (18 e 19)

Obs: entre 12 junho e 12 julho será disputada a Copa América

***

Tudo isso fica ainda mais sem sentido depois dos melancólicos amistosos da seleção brasileira em Cingapura. Igualdade contra Senegal, quinta-feira, e Nigéria, neste domingo, ambos por 1 a 1. O time de Tite desfalca equipes brasileiras para colecionar empates, já são quatro seguidos (antes diante de Colômbia e Peru).

Fica evidente a falta de motivação dos jogadores, atuando em estádio quase vazio, do outro lado do mundo, sem ritmo e clima de competição. Para os frequentadores da lista de convocados, a sensação é de mera participação protocolar, pela manutenção do próprio espaço, pensando em eventos realmente importantes.

Nesse cenário, como esperar motivação maior de quem entra em campo por seus clubes em campeonatos importantes da Europa, quem joga a Liga dos Campeões, a Libertadores e até mesmo o Brasileirão? Os jogos amistosos da seleção brasileira vão se transformando em algo problemático, insuportável, como em certos momentos são os Estaduais.

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