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Carro da empresa JD faz entrega autônoma em Pequim: consumidor não abrirá mão de comodidades.

Felipe Zmoginski

Felipe é ex-head de marketing do gigante tech chinês Baidu e fundador da Inovasia, consultoria de negócios Brasil - Ásia.

Cenário pós-pandemia

China comprova: após pandemia, sobreviver sem digital será impossível

01/07/2020 11:00
Apesar das muitas teorias sobre como será a vida no “novo normal”, até o momento a experiência chinesa é a única realizada em uma grande economia no mundo, em que a população vive há mais de dois meses o período “pós-quarentena”, com o retorno das crianças às aulas, reabertura de shoppings, restaurantes e espaços para eventos.
Um estudo conduzido pela consultoria Inovasia na China analisou o comportamento dos consumidores locais ao longo dos meses de abril e maio, período em que o país retomou suas atividades econômicas. A retomada veio depois de 60 dias de quarentena, em fevereiro e março.
O estudo confirmou, por exemplo, a expectativa de muitos analistas de que o pós-pandemia registrará alta excepcional no consumo em função das “demandas reprimidas” e do “comportamento de indulgência”. 
Lojas de luxo em Beijing e Xangai, registraram vendas recordes nos primeiros dias pós-reabertura. Planos de longo prazo, no entanto, foram suspensos. Mais de 60% dos contratos de financiamento imobiliário no país foram cancelados ou renegociados no período, mostrando que, mesmo após o final da crise, o temor com o futuro limita a definição de projetos de longo prazo.
Mesmo com o retorno à normalidade e após muitas semanas sem um único novo caso de infecção nas cidades chinesas - com exceção de Beijing, que viveu um surto no bairro em torno do mercado de Xifang - comportamentos adquiridos na quarentena foram mantidos, como a aversão a pagamentos com dinheiro em espécie ou qualquer meio que exija contato físico com máquinas e botões e o uso intensivo de serviços de delivery.
Até mesmo “late adopters”, usuários que só aderiram aos apps de compra e entregas em momentos de lockdown, agora não desejam abrir mão desta comodidade. Mais de 60% destes usuários disseram que seguiram comprando por apps, agora que viram que eles “funcionam de verdade”.
O documento, conduzido por especialistas na China e redigido no Brasil, elencou as 10 mudanças principais que afetarão o funcionamento do e-commerce, as empresas de logística, o mercado de saúde, alimentação e de notícias, por exemplo, já que a crise sanitária despertou maior consciência sobre os efeitos negativos da circulação de fake news.
Os depoimentos e pesquisas apresentados mostram que os consumidores não abrirão mais mão de serviços de entrega (delivery) e vão preferir comércios que ofereçam opções de consumo “contactless”, o que vale desde a oferta de um meio de pagamento que não demande digitar senha em um dispositivo compartilhado até pagar as compras em caixas automáticos, sem interação.
Apesar das diferenças geográficas, culturais e de maturidade tecnológica entre a China e diversos países do Ocidente, várias das tendências registradas no país asiático, que saiu antes da crise, servem de insights para decisões estratégicas de gestores e líderes em países como o Brasil, em que mudanças de comportamento de consumo serão inevitáveis no pós-pandemia.
O sentimento geral captado pelo relatório confirma a percepção de que a pandemia “acelerou” a transformação digital de muitas empresas e, mesmo quando o isolamento social for superado, por exemplo, por meio de uma vacina eficaz, os hábitos agora adquiridos continuarão. Pode ser um lugar comum (e, efetivamente, é), mas sobreviver sem investimentos em plataformas digitais será missão impossível para quaisquer setores de nossa economia. Para o bem ou para o mal, este é um legado inevitável da pandemia. O estudo completo pode ser baixado gratuitamente.

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