Andre Inohara

Andre Inohara é cofundador e CEO da Inovasia, consultoria de educação executiva que ajuda empresas brasileiras a se conectar aos modelos mais disruptivos de negócios na Ásia. Antes de criar a Inovasia, André atuou como assessor de comunicação na Amcham, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil, e ajudou a criar o conteúdo multiplataforma da entidade. É jornalista e administrador, com MBA em Informações Financeiras pela FIA (Fundação Instituto de Administração) e pós-graduação em Comunicação Digital pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Comércio exterior

China foca em parcerias agrícolas na África e atinge relação com Brasil

04/11/2020 15:33
Agora no final de outubro, a China formalizou um acordo de compra de soja da Tanzânia, país africano de 52 milhões de habitantes que tem na agricultura sua principal atividade econômica. E o que representa a concorrência da Tanzânia para o agronegócio brasileiro? Em termos numéricos, praticamente nada.
Enquanto a produção total de soja da Tanzânia é de 6 milhões
de toneladas por ano, só o agronegócio brasileiro deve produzir 130 milhões de
toneladas na safra deste ano, segundo o IBGE. Pelo menos 70% dessa produção é
comprada pela China, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior
(Secex). E mesmo com o tratamento inamistoso dado pelo governo brasileiro à
China nos últimos meses, as compras vêm aumentando.
Mas o impacto trazido pelo comércio da China com a Tanzânia carrega uma simbologia importante e terá consequências não muito boas para o Brasil no longo prazo. Significa que a China está diversificando seus parceiros agrícolas para diminuir a dependência dos principais fornecedores — Brasil e EUA — e estender sua influência geopolítica.
Na África, a Tanzânia era o último país que não tinha tratado de comércio agrícola com a China. O acordo é a materialização de uma promessa de Pequim feita dois anos atrás no Fórum de Cooperação China-África. Além da compra de commodities minerais importantes, os chineses se comprometeram a comprar outros bens das nações africanas, caso da soja e outros grãos.
“Tanto a China quanto a África podem se beneficiar de laços
comerciais mais fortes”, declarou Wu Peng, diretor de Assuntos Africanos
do Ministério das Relações Exteriores da China. Em contrapartida, a China vende
maquinário, eletrônicos e outros bens acabados de maior valor agregado para a
África, deixando a balança comercial ainda mais favorável para eles.
Quando a China anuncia novos parceiros agrícolas, não está querendo
apenas segurança alimentar. Em agosto, uma “aliança da indústria da soja” foi
proposta à Rússia para estreitar relações econômicas. É importante lembrar que,
apesar de um passado próximo – e bem curto – nos tempos do comunismo, os dois gigantes
nunca foram exatamente vizinhos cordiais. China e Rússia se estranharam muito ao
longo dos séculos e até hoje disputam discutem territórios fronteiriços
e influência geopolítica.
Pela proposta, a China se compromete a aumentar as compras de soja da Rússia para quase 4 milhões de toneladas nos próximos anos. Um volume que, para as necessidades chinesas, é pouco. A China consome cerca de 110 milhões de toneladas de soja por ano — para alimentação de pessoas e animais e produção de óleo comestível. Ela produz cerca de 16 milhões de toneladas e importa de 80 milhões a 90 milhões de toneladas do Brasil e EUA. Também compra de outros produtores, como a Argentina e o Paraguai.
Para Chen Bo, professor da Universidade Huazhong de Ciência
e Tecnologia, em Wuhan, isso é um gesto de boa vontade e cooperação com a
Rússia em um momento em que as turbulências entre Pequim e Washington parecem
longe de acabar. “China e Rússia encontraram nova cooperação estratégica em
meio à situação atual. Eles estão enviando um sinal claro de que as relações
não serão influenciadas pelos EUA”, disse.
Correndo o risco de ser repetitivo, a diversificação geopolítica e comercial que a China está fazendo é o que o Brasil deveria fazer. Uma relação comercial pragmática, na qual prevalece o interesse de longo prazo. Enquanto a China planeja seu futuro pelas próximas décadas, o Brasil não consegue criar políticas públicas de comércio nem de quatro em quatro anos. Essa falta de coordenação explica por que a China, que tinha uma PIB inferior ao brasileiro no fim da década de 1970, hoje tem um PIB cinco vezes maior.
Ao pensar com pragmatismo, o Brasil pode encontrar soluções.
É o que a China faz. Assim que as tensões comerciais com os EUA diminuírem, os
chineses voltarão a direcionar suas compras de grãos para esse mercado.
Em um cenário cada vez mais plausível onde a China vai
reduzir o ritmo de compra da soja brasileira, nosso país precisa se preparar e buscar
mais acordos comerciais com o mundo para escoar os excedentes.
Ou, quem sabe, usar a soja para alimentar o rebanho
brasileiro de carnes para exportação, outro item representativo da nossa pauta
e que tem de quatro a dez vezes mais valor por tonelada do que a soja.
O que é perigoso é priorizar parceiros comerciais usando critérios políticos. Se o Brasil tiver que escolher um lado, que seja o seu próprio. Porque é importante lembrar que governos passam, mas as relações comerciais com as outras nações continuam e existe diferença entre o que é planejamento de Estado e o de governo. Construir pontes de comércio com o mundo é o caminho mais rápido para gerar progresso e riqueza.

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