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Entenda por que a Huawei tem sofrido com restrições de intercâmbio de tecnologias pelos EUA, tendo sua liderança em celulares e equipamentos 5G ameaçada

Andre Inohara

Andre Inohara é cofundador e CEO da Inovasia, consultoria de educação executiva que ajuda empresas brasileiras a se conectar aos modelos mais disruptivos de negócios na Ásia. Antes de criar a Inovasia, André atuou como assessor de comunicação na Amcham, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil, e ajudou a criar o conteúdo multiplataforma da entidade. É jornalista e administrador, com MBA em Informações Financeiras pela FIA (Fundação Instituto de Administração) e pós-graduação em Comunicação Digital pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

China x EUA

Cruzada contra China deixa 5G mais distante para brasileiros

21/10/2020 13:35
Desde o começo da guerra comercial entre China e Estados Unidos em 2018, a telecom chinesa Huawei vem sofrendo com as restrições de intercâmbio de tecnologias impostas pelo governo Trump. Neste ano, a situação atingiu um ponto delicado, onde a telecom vê ameaçada a sua liderança global em celulares e equipamentos 5G.
Na China, a expansão da rede 5G começa a atrasar justamente
em função da falta dos componentes americanos necessários à construção das
estações. Por enquanto, “apenas” 200 milhões de chineses têm acesso à nova
tecnologia, supridos por 400 mil estações base. No entanto, a meta de fechar o
ano com 500 mil estações 5G já foi oficialmente adiada pelas empresas
responsáveis.
No dia 15 de setembro, o Departamento de Comércio dos
Estados Unidos (DoC, em inglês) restringiu a emissão de licenças tecnológicas a
todos os fabricantes mundiais de chips que usam tecnologia americana e vendem
para a Huawei. Essa medida atinge praticamente todos os seus fornecedores, como
a chinesa Semiconductor Manufacturing, a coreana SK Hynix e as taiwanesas TSMC
e Mediatek, que usam componentes americanos nos produtos e não podem mais
vende-los à Huawei.
O mesmo acontece com os celulares. A Huawei depende muito
dos fornecedores americanos para fabricar seus smartphones. Segundo
especialistas chineses de mercado, o estoque de chips da Huawei deve durar de quatro
a dez meses. “Temos estoque suficiente (de chips) para as estações base de 5G.
Mas, para os smartphones, ainda estamos procurando soluções. Usamos centenas de
milhões deles todo ano”, detalha Guo Ping, chairman da Huawei.
Hoje, os smartphones mais avançados são equipados com o
processador Kirin 9000. Ocorre que os circuitos integrados essenciais vêm – ou
vinham – do mercado americano. Sem eles, a produção da linha top da Huawei, o
Mate 40, foi adiada. O modelo, que deveria ter chegado ao mercado em setembro, ficou
para outubro. Mas ainda não há confirmação oficial da Huawei.
Para o analista da consultoria IDC Will Wong, a Huawei precisa de tempo para decidir como vai garantir a sua produção futura. A incerteza deve perdurar até novembro, quando acontece a eleição presidencial americana. Se Trump ganhar novamente, os líderes da telecom entenderão que precisam acelerar o desenvolvimento de semicondutores próprios. Caso o candidato democrata Joe Biden vença, aumenta a expectativa de diálogo para o relaxamento das restrições.
“Não importa quanto estoque de chips a Huawei tenha, ela tem
que correr contra o tempo”, disse o especialista. “Pode haver uma situação
melhor após a eleição, ou talvez a Huawei consiga produzir chips na China, mas
a chave é o tempo.”
Um parêntese: seja qual for o resultado dessa disputa tecnológica, ela é péssima para o Brasil. A China é o país mais avançado no desenvolvimento do 5G e, sem os componentes americanos, terá dificuldades para atender ao mercado – inclusive o brasileiro.

Mercado chinês é estratégico

Nunca é demais lembrar que a decisão de Trump não vai
prejudicar só o lado chinês. A cadeia de produção de chips, amplamente dominada
pelos EUA, também vai sofrer. Um exemplo disso é o design de chips. Para
projetar sistemas eletrônicos, como circuitos integrados e placas de circuito
impresso, é preciso ter ferramentas de softwares (chamados de EDA).
As três principais fabricantes são empresas americanas ou ligadas
ao país, que são a Synopsys, a Cadence e a Mentor Graphics. Juntas, elas controlam
70% do mercado global de EDA – e vendem praticamente tudo (95% da produção) para
a China.
É um mercado que não pode ser ignorado. Já faz duas semanas
que o governo dos EUA anunciou uma nova rodada de restrições de venda de
tecnologia americana à China, mas a Intel tem uma licença para continuar
fornecendo chips essenciais à Huawei.
A Intel é a primeira companhia a receber “permissão” para
vender chips à Huawei. As demais companhias já solicitaram a licença e esperam
a concessão do governo americano. Analistas de mercado opinam que Washington quer
manter algumas linhas de fornecimento para a Huawei e, assim, desestimula-la a
desenvolver seus próprios circuitos.
Essa flexibilização não é bem uma trégua na guerra comercial entre os dois países, mas uma decisão comercial sábia do governo Trump, que reconhece a importância do rico mercado chinês para os produtos americanos.

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