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A chinesa State Grid desenvolve no Brasil linhas de transmissão altamente eficientes e ecológicas.

Andre Inohara

Andre Inohara é cofundador e CEO da Inovasia, consultoria de educação executiva que ajuda empresas brasileiras a se conectar aos modelos mais disruptivos de negócios na Ásia. Antes de criar a Inovasia, André atuou como assessor de comunicação na Amcham, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil, e ajudou a criar o conteúdo multiplataforma da entidade. É jornalista e administrador, com MBA em Informações Financeiras pela FIA (Fundação Instituto de Administração) e pós-graduação em Comunicação Digital pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Missão China

Investimento chinês é tão bom quanto o americano; como ele pode nos beneficiar?

11/03/2021 11:00
Imagine uma linha de transmissão de energia altamente eficiente, capaz de transportar carga elétrica de um lado a outro do país com baixíssimo desperdício. Já pensou em como a nossa conta de luz ficaria mais barata?
Pois é o que vem fazendo a chinesa State Grid, maior empresa de energia do mundo, nas usinas de Belo Monte e Xingu (região Norte). A multinacional testa uma tecnologia revolucionária de linhas de transmissão capaz de levar a energia produzida no Norte até o Sudeste, com redução de perdas para até 5%. É uma eficiência energética impressionante, se comparada à distância percorrida e aos 20% atuais de perdas no sistema.
A participação da State Grid no Brasil é relevante. Além de linhas de transmissão, a State Grid atua nos segmentos de geração e distribuição renovável de energia e controla a CPFL Energia. Cerca de metade dos investimentos da multinacional chinesa no mundo estão no Brasil, afirma o professor Giorgio Romano Schutte, professor associado em Relações Internacionais e Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC) e doutor em Sociologia pela USP. “É uma tecnologia fantástica, que traz enormes ganhos ambientais”, comenta.
Oásis de oportunidades
Schutte analisa os investimentos produtivos chineses no Brasil na última década e reúne as conclusões no seu livro “Oásis para o capital. Solo fértil para a ‘corrida do ouro’ (Ed. Appris)”, lançado no ano passado. O título foi tirado de uma expressão usada pelo banco americano Merril Lynch para se referir às oportunidades de investimento no Brasil. Apesar da citação de origem americana, o foco do livro é sobre o IED (investimento estrangeiro direto) chinês.
O motivo é que o capital chinês é tão importante quanto o americano, europeu ou de qualquer país para o desenvolvimento do Brasil. São esses recursos que impulsionam a criação de empregos e renda por aqui. É uma relação de troca pragmática: assim como o Brasil precisa de investimentos, as empresas precisam de um grande mercado consumidor, argumenta.
A diferença do capital chinês é que os investidores têm um pouco mais paciência. “Lá, a pressão por retorno de curto prazo é menor. Eles projetam uma remuneração mais a longo prazo, mas é importante dizer que o objetivo deles também é ter lucro”, destaca.
Para o professor, não é a nacionalidade do capital que será determinante no desenvolvimento do Brasil, mas como o país vai se aproveitar dele. “O Brasil recebe investimentos, mas não exige contrapartidas. Poderíamos estar desenvolvendo tecnologia junto com as empresas chinesas”, defende.
De montador de celulares Apple a líder de mercado
Foi exatamente isso que a China fez para atingir um novo patamar econômico e industrial, continua Schutte. Na década de 1990, a China produzia celulares para empresas americanas, como a Apple, e ficava com apenas 1% das receitas. “Mas o volume era tão grande, que a China usou esse dinheiro para aprender e desenvolver a sua própria indústria. Hoje, eles são líderes em celulares”, assinala.
Ainda no setor de telecomunicações, poderia haver contrapartidas. “Para o leilão de 5G, o Brasil poderia condicionar a participação das empresas a um trabalho de criação conjunta do 6G, por exemplo.”
O Brasil tem poder de barganha, que é o seu imenso mercado consumidor, continua Schutte. Em outro exemplo, cita que as vacinas para o coronavírus tão necessárias para imunizar a população poderiam ser produzidas junto com a fabricante Sinovac. “A Sinovac disse que vai transferir o princípio ativo da vacina depois que forem ministradas 100 milhões de doses. Mas temos o Butantã aqui, que poderia muito bem produzir em conjunto e não precisaríamos dessa condição”, argumenta.
Além de condições mais favoráveis ao desenvolvimento tecnológico, o Brasil tem que se preparar. “Precisamos ter planejamento de longo prazo. O Brasil precisa incentivar a construção de laboratórios de pesquisa e criar mais interação entre empresas e universidades.”
Lógica do capital
Para o professor, o capital chinês vai continuar chegando ao Brasil por questões comerciais. O que é um fato positivo e pode melhorar ainda mais, se o país tiver uma posição clara a favor do desenvolvimento nacional. “Temos que aprender com a China a pensar em longo prazo. É importante criar políticas de estado, e não de governo. Isso passa por repactuar a manutenção dessas diretrizes, independente dos governos que assumirem. Não podemos ver essas políticas interrompidas de governo em governo”, defende.
Uma máxima comum no mercado é que o capital não tem pátria e nem ideologia. Ele apenas mira na sua razão de existência: maximizar os ganhos. Se hoje o Brasil é um dos grandes destinos do capital estrangeiro, é porque os investidores enxergam potencial de retorno. E o país pode lucrar muito com isso, seguindo o bom exemplo de países que souberam aproveitar as oportunidades.

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