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Mudo de calçada quando encontro uma mulher sozinha
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Uma foto em preto e branco de uma mulher andando sozinha.

Cada homem que uma mulher encontra é uma ameaça potencial em maior ou menor grau. A maior parte das mulheres não sabe o que é andar sozinha sem ter de se preocupar com assédios ou até mesmo agressões (photo credit: Airfield in Berlin-Tegel via photopin (license))

Quando estou numa calçada deserta e uma mulher vem, sozinha, da outra direção, tenho o hábito de nem olhar na direção dela, pois sei como o acontecimento de encontrar um homem desconhecido, por mínimo que isso pareça para mim, ainda que por um olhar ou um sorriso, pode ser difícil pra ela.

Se é noite e o lugar é escuro, se possível, mudo de calçada numa tentativa de mostrar que realmente não há ameaças.

Um dos meus posts mais comentadados e curtidos recentemente no Facebook foi um em que comento justamente isso. Aqui: não esqueça de clicar em “ler comentários anteriores” para ler todos os comentários e não se perder no debate.

Então, quando eu encontro uma mulher que vem sozinha da outra direção, eu ajo como se ela não existisse.

Eu não olho. Nem sorrio. Nem nada.

Sigo em frente e tento demonstrar o mais possível que ela está sendo ignorada.

Porque – enquanto eu consigo andar diariamente por quilômetros esquecido até de que existo – as mulheres são tão invadidas constantemente, mesmo nos menores percursos, que o fato de cruzar sozinha o caminho de um homem desconhecido é sempre tenso.

E repleto de suspense quanto ao nível de agressão pelo qual passarão a seguir.

No post em que fiz essa observação, alguns amigos, bem intencionados mas que não perceberam empaticamente a situação, disseram que era necessário mudar o olhar, demonstrar simpatia de maneira a recuperar a fé daquela pessoa na humanidade etc etc etc.

E, por mais que, filosoficamente de alguma maneira eles estivessem certos, argumentei que eu não ajo como gostaria que fosse o mundo ou como gostaria que as pessoas o vissem pela minha ótica, mas sim como o mundo é e como as outras pessoas o veem.

É uma questão de empatia: ser capaz de sentir a tensão, o medo, o cansaço e todo o resto que aquela pessoa que vem da outra direção sente.

Outras mulheres disseram que seria errado – e até machista, na opinião delas – supor que uma mulher não gostaria de receber um olhar ou um sorriso gentil ou, ainda imaginar que elas não saberiam se defender de uma cantada ou agressão.

Mas, ainda que houvesse apenas 1% de chance de uma pessoa se sentir invadida, eu preferiria, por conta desse 1%, ter uma postura mais neutra numa situação dessas ou similar.

Entre supostamente agradar e a possibilidade de certamente agredir, o melhor é a neutralidade.

A resposta de uma amiga resume minhas ideias quanto a qualquer tentativa de ser cordial e gentil num caso desses (ela está comentando sobre um relato de um dos participantes do debate, que ofereceu seu guarda-chuva e a garota preferiu continuar a se molhar, afastando-se sem sequer agradecer):

(…) é muito, muito raro mesmo um homem estranho ser gentil com uma mulher sem querer tirar uma casquinha ou falar alguma asneira para ela, como se ela passasse automaticamente a estar disponível para qualquer coisa vinda dele. Para você ter idéia do quanto os assédios costumam ser desagradáveis e os assediadores pegajosos, basta lembrar que a garota preferiu continuar se molhando e passar mais frio ainda à arriscar aceitar uma carona de guarda chuva de um desconhecido (você). Não leve para o lado pessoal porque nem pode ser, ela não te conhecia. E quanto a falta de educação na recusa, infelizmente a gente tem que ser cavala para dizer não, pq se não não funciona. Sabe aquela maldita frase que diz que “quando uma mulher diz não, ela está querendo dizer sim”? Pois é, ela é uma mentira e um desrespeito. Nós não somos crianças que não sabem o que querem. Não é não mesmo… mas como muitos caras acham interessante pôr isso em dúvida (vai que na pressão ela cede), o não de uma mulher para um estranho costuma vir com coice mesmo, eu também dou. Porque percebi que o não educado invariavelmente fez o sujeito continuar o assédio pegajoso, e eu não tenho q aguentar isso. A falta de educação é o recurso que sobra para inibir esse tipo de iniciativa.

De qualquer maneira, preciso dizer algo muito importante: o modo como ajo é consequência do modo como eu me sinto em relação ao mundo. Só estou fazendo uma declaração do que sou. E, óbvio, há muitas outras maneiras de ser. Nenhuma delas é a mais certa ou a mais errada necessariamente. Mas, definitivamente, cada uma delas provoca um efeito diferente às pessoas com quem convivemos.

Leia também: Por que as mulheres têm medo de você e Homens não fazem ideia do que é andar sozinha na rua

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