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Fonte: Visual Hunt
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Laura era aquele tipo de vó que as pessoas consideravam “pra frentex”. Na flor da idade, contabilizava 77 anos de pura alegria e energia.

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Morava com uma de suas filhas, mas fazia questão de ter sua privacidade assegurada. A edícula, construída especialmente para ela no terreno da casa da primogênita, era singela e mimosa. Sua “mansão”, como ela mesma brincava, tinha quarto, sala, cozinha, banheiro e muito charme.

Aposentada do trabalho, era funcionária da vivacidade. Viajava, fazia caminhadas, jogava baralho com as amigas, adora uma festa e claro, amava dançar! Virava e mexia, lá ia D. Laura para os saraus dançantes da capital.

Era sexta-feira, dia oficial do café com a avó. Na família dessa matriarca, assim eram comemoradas todas as sextas. Ela saia cedo para buscar ingredientes frescos e fazia bolos, tortas e um delicioso pão recheado para esperar os netos.

À partir das 17 horas, o movimento começava! A casa era pequena mas o coração de vó era enorme. Os netos e netas iam chegando e se espalhando pela cozinha, quintal e varanda! Não há maior conforto no mundo do seu estar aconchegado entre aqueles que amamos.

Lá pelas tantas, D. Laura foi sentar com Mariana e Paula. As netas gêmeas eram seu xodó e faziam as vezes de “netatoristas” na vida da querida vovó.

– Minhas amadas netinhas! Preciso de carona para o domingo. Vai ter uma roda de viola do pessoal no baralho. Será numa chácara não muito longe daqui. Vocês me levam? Quero ir para almoçar com as minhas amigas e voltar só quando o sol se por.

– Claro vó! Qual o endereço?

– Esperem ai! Tem um mapa grudado com o convite. Vou buscar!

Ela entrou no quarto e veio com a bolsa estilo porta níquel, nas mãos. Abriu e entregou um pequeno mapa às meninas. Elas riram!

– Nossa D. Laurinha! Há anos não víamos um mapa de papel. Bora ver no Waze! E em menos de um minuto, o caminho estava traçado no celular.

A vó não entendeu bem como aquilo funcionava e perguntou:

-Meninas, mas o que este tal de Waze faz?

– Ah vó! É um GPS para celular. A gente coloca o endereço de onde quer ir e ele vai dizendo, passo a passo, como chegar lá, explicou Mariana.

-Hum, deixa ver se entendi. Você pergunta e ele te responde como e o que fazer?

Paula riu e concordou com ela. “É mais ou menos  isso vó! Uma bússola que fala.”

Mariana ficou calada um tempo e exclamou: “Mana, já pensou se tivesse GPS de gente? Eu ia perguntar se devo ou não continuar namorando com o Pedro!”

Paula gargalhou e imitou a voz do aplicativo: “Vire a direita e fuja! Perigo à frente!”

– Sua besta! Ralhou Mariana.

Depois continuou: “Mas pensa, quanta treta a gente iria evitar! Saca só! Eu digito: Profissão! E ele responderia: “Você tem três rotas disponíveis. Direito, Administração e Contabilidade. Deseja que o rota seja escolhida pelo nível de realização, remuneração ou espírito de aventura?”

Paula entra na brincadeira:  Ou então: Amigas! “Você tem 3 amigas verdadeiras, 1 está presa na blitz por trairagem e outra está na rota de perigo por ser invejosa!”

As duas suspiram e falaram ao mesmo tempo: “Tanta tecnologia e nada de inventarem um GPS de gente!”

Dona Laura que até então se mantivera calada, surpreendeu as netas falando: “Eu sempre tive um GPS de gente!”.

As duas moças se entreolharam. A vó, certamente não havia compreendido o funcionamento do aplicativo que falavam. Mas ela compreendera sim. Profundamente…

– O meu GPS de gente se chama CORAÇÃO! Veio instalado de fábrica! Ele me guia direitinho a cada dúvida que tenho! Ensina-me com precisão cada novo caminho que devo tomar! É tão eficiente, que me mostra várias rotas, apresentando os prós e contras de cada uma, ajudando-me a escolher a melhor trilha!

Vem um sensor mega potente que acende ao detectar qualquer perigo, seja próximo ou a quilômetros de distância!

Ele me ajudou a terminar um namoro, a aceitar a proposta do avô de vocês e a descobrir quem eram minhas verdadeiras amigas!

Todos os dias ele me mostra que há uma rota disponível que leva a alegria e a felicidade e me parabeniza a cada percurso concluído!

Tem uma memória impressionante, que registra, amorosamente cada passo dado, evitando que eu utilize estradas que já não levam a lugar algum, assim como sugere os caminhos que, embora rotineiros, sejam caros ao meu coração.

E o principal gurias, não depende de atualização e não necessita de troca! Ele se aperfeiçoa com o tempo! Eu sigo meu coração há anos!”

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As meninas suspiraram diante da linda metáfora que a avó utilizara. E reclamaram: “Ai vó! Meu GPS de gente não fala!Veio com defeito!”

Ela sorriu, maneou a cabeça e explicou: “Todas as pessoas nascem com um lindo GPS de gente. Ele vem configurado de fábrica para mostrar a rota para a felicidade. O fato é que não prestamos muita atenção ao que ele diz…

Estamos tão focadas no mundo exterior que não conseguimos ouvir a voz doce e mansa do coração! Ouvimos a normas da sociedade, ouvimos os conselhos dos amigos e, às vezes, ouvimos até o coração do outro… Mas e o nosso? Fica lá abafado… e com o passar do tempo, de tão abafado, fica caladinho e acabrunhado…”

– Mas vó! Como faz para ouvir o coração ? Não quero mais andar em caminhos que não são os meus! Comentou Paula.

– Para ouvir o coração é preciso primeiro fortalecer sua relação com ele! Descobrir o que o faz pulsar de alegria! Isso dá forças, ânimo e vigor! O que faz seu coração bater serelepe ? Também  é preciso silenciar! Conviver, tendo tempo para curtir e construir essa relação… e então, devagarzinho, vocês  vão começar a ouvir a voz do coração!

Sejam positivas! Ouçam boas músicas! Conversem com pessoas que agregam valor e colocam vocês para cima! Trabalhem com paixão! Contemplem o Cosmos! Apreciem a natureza! Exercitem sua capacidade de amar! Amem muito, amem todos e tudo. Sejam gratas pela vida e pelas oportunidades de aprender ! Tenham fé da vida e em vocês mesmas!

Ela se levantou e ficou bem próxima das meninas, colocou as mãos delas sobre seus corações e  disse: “Hei coração! Olha aqui sua dona, querendo te ouvir e descobrir que você é o melhor aplicativo de todos os tempos! Manifeste-se!”

Elas ouviram os primeiros sons daquela reconexão. Emocionadas, abraçaram-se, sentindo que novos e belos caminhos iriam ser trilhados.

Por Dani Lourenço

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