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Lasanha parisiense, prato que foi moda nos anos 60 e que tem a base no molho branco. Deliciosa e muito fácil de fazer.
Lasanha parisiense, prato que foi moda nos anos 60 e que tem a base no molho branco. Deliciosa e muito fácil de fazer.| Foto: Anacreon de Téos

Acho que foi minha primeira experiência com lasanha, não me lembro de ter comido antes. Era menino ainda, morava em Ponta Grossa e quando vínhamos a Curitiba um dos pontos favoritos da família (pais e avós) para comer era o Restaurante Zacarias, que ficava na praça do mesmo nome. Era no andar de cima das Casas Pernambucanas e a gente subia por uma escadinha. Restaurante grande, com os janelões dando para a rua Dr. Muricy e para a própria praça.

A Lasanha parisiense vinha fumegando, numa frigideirinha, era muito bonita e gostosa. Molho branco, presunto, queijo e ervilhas, combinação que afaga o paladar de qualquer adolescente, combinação que me conquistou.

Anos mais tarde, já morando aqui cursando universidade, tive novo contato com a Lasanha parisiense. Ou melhor, não tive, ela apenas entrou como tema principal de uma história entre amigos. Vou explicar.

A turma da faculdade

Primeiro ano da faculdade (fiz Administração, na UFPR), 1969, e a turma ainda se conhecendo. Formamos um grupinho, que foi se aproximando ao natural. Seis, ao todo. Mauro Lafitte Moro, Tercis Duarte Volaco, José Luiz Kloss, Raul Norton Hillbrecht e eu. Ah, sim, e o Magreza, cujo nome prefiro não dar aqui, por razões que serão conhecidas a seguir.

É que o Magreza era muito metido, tudo ele sabia, tudo ela tinha feito antes, tudo já tinha provado, não sobrava assunto nenhum que admitisse não conhecer ou não ter experimentado. Show do Fulano, grande ídolo, que está por vir? “É bom, já assisti” – e dizia o local. Livro tal, recém-lançado? “Já li, me mandaram semanas atrás” – não perdoava. E a gente começou a perceber que era muita garganta, principalmente porque algumas afirmações não batiam.

Começamos a implicar com ele, Norton, principalmente, alemãozinho daqueles brabos. Mas os demais também já estavam na conta do chá. Ou da lasanha, no caso. Foi quando surgiu uma conversa de Lasanha à parisiense e eu disse que gostava muito. “Eu também. E tem uma muito boa ali naquele restaurante que a gente costuma ir de vez em quando” – cravou.

O tal restaurante ficava na João Negrão, acho que ali onde hoje funciona o Detran, perto do Bar do Arthur. Ou ao lado, naquela quadra. Pesquisei (inclusive com o Pedro Oliveira e o Carneiro Neto, entendedores da vida gastronômica de Curitiba), pesquisei e não consegui descobrir o nome. Também porque não era grande coisa, nada famoso. Era um restaurante comum, não muito caro (ou nós, estudantes, não teríamos como lá consumir), mas tinha comida boa.

Calhou uma vez de irmos lá sem o Magreza. Quando o cardápio chegou, o Norton de pronto já disse: “veja aí se tem a tal Lasanha parisiense”. Não tinha. Não tinha? Chamamos o garçom.

- Não tem mais a lasanha parisiense no menu?

- Não tem... nunca tivemos.

- Nunca tiveram? Tem certeza?

- Sim, certeza. Estou aqui há 15 anos e sei todos os pratos que temos e os que já saíram.

Momento de silêncio absoluto em torno da mesa. Cinco mentes maquinando, cinco cabeças pensando.

- Pegamos o Magreza na mentira – alguém comentou.

Pedimos o que iríamos pedir, alguma coisa pra beber e no dia seguinte, lá no saguão do prédio da faculdade (no conjunto da reitoria), encontramos o Magreza.

- Fomos ontem lá naquele restaurante – disse alguém.

- E não tinha a Lasanha parisiense – já emendou rapidamente o Norton.

- Mesmo? Será que saiu do cardápio?

- NUNCA TEVE, o garçom garantiu – o tom de voz já se elevou.

- Claro que teve. Ele não deve se lembrar. Eu comi algumas vezes lá.

- Mas o garçom tem 15 anos de casa.

- Então devem ter coincidido de eu ter ido em dias de folga dele.

Pronto, acabou. Nos entreolhamos e saímos de fininho, um para cada lado, atordoados por tudo aquilo.

E o Magreza, claro, nunca mais participou do grupo, cada vez mais fechado.

Daqueles cinco rapazes unidos (tanto que noivamos e casamos todos em datas próximas), infelizmente dois não estão mais entre nós. Mauro, que era filho do Ulisses Moro, ex-presidente do Coritiba, morreu precocemente, ainda nos anos 80. Norton, que tinha ido morar em Joinville, faleceu há pouco, em janeiro de 2018. Tercis e Zé Kloss (aquela voz famosa dos comerciais e agora também Papai Noel a cada dezembro) estão firmes e foi muito bacana poder conversar novamente com ambos, recordando essa história tão antiga (50 anos).

Prato brasileiro

Assim como outros pratos teoricamente internacionais, como o Bife à parmegiana e o Molho bolonhesa, também o molho parisiense ou molho à parisiense tem origem em cozinheiros brasileiros.

E a denominação se deve à utilização de molho branco, o Molho Bechamel, que tem origem francesa. Para situar o conceito do prato, na época – anos 50, por aí – a referência era o estilo da comida. Aí, no caso, com a linha francesa bem definida. Na falta de nome, algum cozinheiro respondeu: “é um molho à parisiense”. E pegou.

Os ingredientes básicos são o molho branco, o queijo muçarela, o parmesão para gratinar e o presunto. Desde então há quem também ponha um pouco de peito de frango desfiado, até alguns cogumelos paris.

Vou apresentar aqui a receita básica, que é a que gosto, só com os ingredientes originais. De preferência faça o próprio molho branco, evite comprar pronto, por vir com conservantes e outros “antes”. É fácil de fazer e não se espante com a recomendação de utilizar leite frio em vez de morno, como a maioria das receitas sugere. É assim mesmo, fica perfeito.

Vamos à receita, então? É porção para duas pessoas. A partir de um número maior de comensais é só ir multiplicando cada item na proporção.

Bom apetite!

Lasanha parisiense à Anacreon

Lasanha parisiense recém-saída do forno. Cremosa e muito saborosa.
Lasanha parisiense recém-saída do forno. Cremosa e muito saborosa. | Foto: Anacreon de Téos

Ingredientes

250g de massa pré-cozida de lasanha

50g de ervilha fresca ou congelada

150g de presunto cortado em tiras

150g de muçarela

¼ de cebola ralada

2 colheres (sopa) de azeite

3 colheres (sopa) de manteiga

3 colheres (sopa) de farinha de trigo

1 ½ xícara de leite integral frio

1 pitada de sal, pimenta-do-reino moída na hora

½ colher (chá) de noz-moscada ralada

queijo parmesão para polvilhar

Preparo

Prepare o molho branco, derretendo a manteiga em 1 panela pequena. Assim que derreter, junte a farinha e misture bem, mantendo no fogo baixo, mexendo sempre até dourar levemente. Despeje o leite frio de uma só vez e mexa vigorosamente com um fouet, para evitar possíveis grumos. Continue mexendo até o molho engrossar. Desligue o fogo e tempere com sal, pimenta-do-reino e noz-moscada. Reserve.

Em outra panela aqueça o azeite e refogue a cebola até murchar. Adicione o presunto e as ervilhas e misture bem.

Junte quase todo o molho bechamel, deixando um pouco para forrar o fundo do refratário.

Comece, então, a montagem da lasanha, forrando o fundo de um refratário pequeno com o molho branco reservado.

Em seguida faça uma camada de massa, outra de muçarela e repita a ação por três vezes ou até completar o espaço do refratário.

Polvilhe por cima o queijo parmesão ralado e leve para assar (em forno preaquecido a 180ºC) por 30 minutos ou até borbulhar e dourar.

Rendimento: 2 porções.

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