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Dr. Carlos Mortean, Raquel Giglio e Juliano Tomazela – Nilton Russo
Dr. Carlos Mortean, Raquel Giglio e Juliano Tomazela.| Foto: Nilton Russo/New Russo Fotografia

Cada vez mais focada em serviços de saúde, a seguradora SulAmérica escolheu a Paraná Clínicas para preparar sua entrada no mercado paranaense e do Sul do país. Neste mês, a empresa carioca concluiu a compra da operadora de planos de saúde empresariais de Curitiba, em uma transação avaliada em R$ 396 milhões. Apesar disso, a marca paranaense não deve desaparecer e seguirá atuando com o mesmo modelo de negócio que a levou a alcançar 90 mil beneficiários e a se tornar a quinta maior operadora em atuação no estado.

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O negócio se tornou viável após um reposicionamento estratégico que começou a ser implantado pela SulAmérica no ano passado e se estendeu até junho deste ano, quando a empresa vendeu sua operação de seguro de automóveis e massificados (modalidade mais simples e menos burocrática de apólices) para a multinacional alemã Allianz. Com uma negociação que rendeu mais de R$ 3 bilhões à empresa brasileira – valor considerado um dos mais impactantes no segmento –, a seguradora cobriu a compra da Paraná Clínicas.

“Estou na SulAmérica há 9 anos. Quando eu entrei, lembro que 51%, 52% da receita era oriunda da carteira de saúde e odontologia. A gente foi evoluindo ao longo dos anos e no último ano a representatividade já estava em 76%, 78%. É uma empresa centenária, de capital aberto, sem dependência de nenhum banco que viu saúde se tornar seu core [principal negócio] ao longo dos anos”, explicou à Gazeta do Povo Raquel Giglio, vice-presidente de Saúde e Odonto da empresa.

De acordo com a executiva, foi a partir da negociação com a concorrente alemã que a SulAmérica decidiu olhar para empresas que ressaltassem sua vocação. Coincidiu com a vontade de os donos da Paraná Clínicas saírem do negócio, segundo ela explica. “É muito mais do que comprar uma fatia de mercado ou uma carteira. Se fosse só isso, acho que teríamos formas diferentes, eventualmente mais baratas, de fazer isso. A gente está comprando um modelo de negócio, um know-how que pode alavancar, sem sombra de dúvida, o nosso core, que é saúde de forma integral.”

Fundada em 1970, a Paraná Clínicas se tornou alvo da empresa pelo modelo e apelo de negócio. “Nesses 50 anos de história da Paraná Clínicas a gente sempre se posicionou sendo solução de saúde para os nossos clientes. Quando a gente tem isso como valor, a gente cria um modelo em que eu vou tentar atingir os meus beneficiários em todas as etapas do processo de assistência. A gente investe no modelo em que eu procuro ter ações de promoção à saúde, prevenção às doenças, cuidados gerenciados para portadores de doenças crônicas. Nesse ‘investir em ser solução de saúde’ a gente dá um passo adiante que é sair daquele modelo mais tradicional de simplesmente tratar doenças”, defende Carlos Roberto Mortean, diretor da Paraná Clínicas desde 2001. O médico seguirá na diretoria operacional de saúde.

O negócio não deverá alterar a forma de funcionamento da empresa. Giglio evita falar de crescimento no número de beneficiários e sustenta que o grupo pretende “primeiro entender a operação e as possibilidades de sinergia entre os modelos”. “A gente vê um potencial gigantesco na Paraná Clínicas, para alavancar a quantidade de vidas [atendidas] e na SulAmérica para alavancar a participação de mercado que tem hoje”, diz. Por enquanto, certo mesmo somente a implantação de consultórios odontológicos nos centros clínicos, um conceito que a empresa carioca já aplica em outras praças.

Pandemia não interferiu na negociação

De acordo com a SulAmérica, a pandemia não freou a negociação. As conversas, aliás, ocorreram durante o período de avanço da Covid-19 no país. A despeito da fatalidade do momento, a empresa carioca vê insights que podem fazer os negócios de saúde crescerem e se tornarem mais ágeis e sustentáveis. Hoje, apenas 22% dos brasileiros têm saúde suplementar. Para a vice-presidente da área de saúde da companhia, há um potencial de crescimento grande, podendo retomar os 25% registrados há alguns anos, bem como alavancar para 30%, 35%.

Além disso, Giglio destaca estratégias adotadas no passado que se provaram eficazes agora. Em 2018, a SulAmérica comprou a startup curitibana Docway, de acompanhamento médico por vídeo (não exatamente consultas, que ainda não eram regularizadas nessa modalidade). Antes da pandemia, de sua base de 2,3 milhões de clientes, apenas 500 atendimentos remotos eram feitos por mês. Em março, com a adoção do isolamento e do distanciamento social, passou a 1.500 atendimentos por dia.

Juliano Tomazeli, head técnico de Saúde e Odonto da SulAmérica, que irá coordenar a empresa na parte da operadora, defende que há um caminho sustentável mostrado na pandemia e no qual a Paraná Clínica se encaixa .“Uma outra reflexão para o setor de saúde suplementar como um todo é que a gente sempre imaginou existir uma utilização desnecessária ou equivocada [dos aparatos de saúde]. Antes da pandemia a gente tinha um alto índice de utilização do pronto-socorro e quando você olhava um pouco mais no detalhe via que grande parte desses atendimentos não era, de fato, de urgência e emergência. A gente tinha alto volume de exames que a pessoa sequer consultava o resultado pela internet. Ou seja, um exame totalmente desnecessário. É aquele recurso que você acaba desperdiçando. Quando você vai somando essas pequenas utilizações que, em tese, não precisariam ter ocorrido, isso acaba encarecendo o plano e aí ele deixa de ser sustentável. Por isso que existe um índice baixo de pessoas com cobertura de saúde suplementar [no Brasil]”, avalia.

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