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Mylena tinha só 15 anos quando disseram que ela não poderia ter carreira profissional na dança, por ser velha demais para começar.| Foto: César Bond/divulgação.

Quando estava na idade em que a maioria dos adolescentes começam a amadurecer o que querem para o futuro profissional, a jovem Mylena Sidenco Rosas, 21, escutou que estava velha demais para seguir o seu sonho. Ela tinha 15 anos quando decidiu ser bailarina. Filha de agricultores, transformou as negativas em força e, com o apoio da família, montou o seu próprio negócio - uma escola de dança, a My Dance - e conquistou o reconhecimento na área.

A saga começou na propriedade rural onde morava, entre Tibagi e Carambeí, no interior do Paraná. Nos idos dos anos 2.000, Mylena viajava 45 quilômetros por dia - pegando uma balsa durante o trajeto - para conseguir frequentar a escola. E ainda não era o suficiente.

“Se ela queria ser bailarina decidimos que ela faria isso direito”, conta a mãe Márcia Sidenco Rosas, 55. “Precisávamos de algo além do balé da escola ou da educação física”, explica.

Foi assim que começou a procissão da família em busca de ensino profissional na área. Viagens semanais, para Ponta Grossa, Curitiba e onde mais ela pudesse ser ensinada por bailarinos certificados. A busca chegou ao ponto da mãe, formada em administração e pedagogia, encarar uma pós-graduação na área de dança, apenas para que a filha pudesse participar das explanações na condição de ouvinte.

“É o meu sonho e contei com o apoio dos meus pais e meu irmão para isso. Toda a família se uniu em torno desse objetivo”, conta Mylena , emocionada.

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Mylena cursou durante um ano e meio curso profissional oferecido pelo Teatro Guaíra. Foto: Dani Garbiatti/Divulgação| Dani Garbiatti/Divulgação

Conquista

Em 2016, Mylena foi selecionada para a Escola de Dança do Teatro Guaíra, na capital paranaense. Mesmo com a formação concluída, após um ano e meio de dedicação, o espírito empreendedor da família os impulsionou para ainda mais.

“Estávamos em uma loja comprando artigos de dança quando ouvimos algo sobre a certificação da Royal Academy [em Londres]. Soubemos na hora que era o próximo passo a seguir”, relata Márcia.

A academia internacional de dança Royal é uma rede de ensino superior em balé clássico, presente em mais de 84 países. Além da formação de estudantes, que hoje somam mais de 250 mil espalhados pelo mundo, foca na construção de professores certificados.

Foi ali que a Mylena viu o caminho de sua carreira na área ficar ainda mais claro. Encarando aulas semi presenciais, em São Paulo, a bailarina foi desafiada mais uma vez quando soube que precisaria dar aulas sob orientação, em uma academia certificada pelo instituto internacional.

“É como se eu precisasse fazer um estágio, mas no Paraná são pouquíssimas as escolas que possuem essa autorização. Teria que me mudar para São Paulo”, relata a jovem. O que para alguns poderia significar o final dos estudos, para a família foi uma nova forma de se reinventar nos negócios. “Se não tínhamos uma escola perto, por que não construir uma?”, ri a mãe, que agora é empresária.

A escola de balé

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Escola está funcionando há pouco mais de três meses, mas já foi selecionada para diversos festivais. Foto: Divulgação| Divulgação

Foi assim que nasceu em Carambeí, cidade distante pouco mais de 140 km da capital paranaense, a My Dance Ballet School, em um barracão que antes era usado para armazenar defensivos agrícolas.

“Era perfeito porque tinha o pé direito alto”, conta Mylena.  “Tivemos a ideia em janeiro de 2019 e nem eu acredito que, em tão pouco tempo, conseguimos abrir as portas”.

Para atender a metodologia exigida pela Royal, o barracão recebeu uma reforma completa, desde o piso elevado em linóleo, até instalação de barras e espelhos por toda a sala de 90 metros quadrados. O investimento da família foi de R$ 100 mil.

“Fizemos tudo nós mesmos, porque contratar serviço especializado seria muito caro. Era literalmente tirar leite pela manhã e cuidar do palco à tarde”, relembra a jovem.

Em pouco mais de três meses de funcionamento a escola atende hoje 32 alunas, sendo a “menina dos olhos” da mãe e filha, as alunas mais velhas. “Temos na escola desde garotas de 2 anos até de 35. Esse é um sonho que estamos realizando, dando a oportunidade para todas aquelas que não tiveram apoio porque eram velhas de mais para dançar", garante Márcia.

Nossa missão é justamente mostrar que qualquer uma pode ser uma bailarina profissional se quiser”, arremata.

Ainda sendo tuteladas por um professor certificado pela Royal - o profissional paulista Luiz Carlos Nogueira - mãe a filha agora esperam concluir o período de estágio e orientação para tornar a escola de Carambeí uma das maiores referências do Paraná em balé clássico e contemporâneo.

E os planos para isso são claros. Mesmo com as portas recém abertas, a escola já foi selecionada para participar de renomados festivais de dança em Joinville, Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e Espírito Santo. A mais recente conquista da bailarina foi ter sido aprovada em uma audição para cursar, em julho, três semanas de capacitação em Nova York, na Academia Americana de Balé.

“Nós brincamos dizendo que nossa família vai desde revirar o esterco até se preparar para uma apresentação clássica”, diz Mylena. “Mas é literalmente isso. Ainda vamos treinar muitas bailarinas para quem a sociedade disse não”, sonha a professora.

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