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A filial brasileira da Gemü, fabricante alemã líder mundial na produção de válvulas e acessórios para tratamento de água e efluentes na indústria, foi na contramão do cenário econômico ano passado. A direção decidiu investir na modernização da planta em São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba (RMC), mesmo diante das incertezas da pandemia.
Após o impacto mais forte do primeiro ano da crise sanitária, em 2021 a sede brasileira da multinacional que fabrica peças de metal e plástico percebeu que era hora de se preparar para a retomada. Para isso, a fábrica apostou na modernização da planta, com aquisição de novos maquinários, mais modernos, justamente no pior momento do cenário epidemiológico no Brasil.
“Muita gente reprimiu o investimento por causa da pandemia. Nós optamos por investir pesado em novas máquinas, o que poucas empresas fizeram naquele momento e agora estão sofrendo”, avalia o gerente geral de vendas da área industrial da Gemü do Brasil, Mateus Souza. “Consideramos que 2021 era o momento adequado para fazer esse investimento. Justamente para que quando viesse a retomada estivéssemos preparados”, conclui.
A empresa não revela valores, mas afirma que o aumento no investimento na planta paranaense foi de 15%. O que gerou aumento de 10% na contratação de novos funcionários, totalizando hoje 100 colaboradores.
De resultado prático, além do faturamento, o investimento reposicionou a unidade brasileira não só entre as seis filiais da Gemü espalhadas por Europa, Estados Unidos e China, como no próprio setor em que atua no mundo.“Usamos todos os desafios que surgiram nos últimos dois anos para pensar fora da caixinha. Nos reinventamos. E esse bom resultado é fruto de planejamento e estratégia em um momento crítico. Mesmo planejamento e estratégia que serão fundamentais para os cenários de incertezas que temos hoje, como inflação, problemas logísticos, entre outros”, enfatiza Souza em entrevista à Gazeta do Povo sobre o cenário da indústria paranaense. Leia abaixo:
A indústria paranaense teve um bom resultado em março, com crescimento de 0,6% em relação a fevereiro, sendo o único estado do Sul com resultado positivo. Qual é o cenário hoje da indústria paranaense?
No primeiro trimestre, já houve crescimento de 6% na indústria paranaense. A análise tem que levar todo o contexto da pandemia. Em 2020, o mundo e a indústria paranaense sofreram muito com uma retração muito forte. Ano passado já houve melhoria, com expansão bem significativa em diversos setores econômicos, inclusive o industrial. O Paraná ano passado cresceu 9% na área industrial, o melhor resultado em 10 anos. Portanto, já mostrava uma recuperação e tendência de forte crescimento. E nesse ano não tem sido diferente. A gente já percebe que há uma sequência do efeito do ano passado. Diria que muitos investimentos que ficaram represados por toda incerteza que esse contexto gerou agora vêm saindo de dentro da gaveta e gerando esse forte crescimento.
A demanda reprimida de consumo é a principal propulsora do crescimento da indústria no estado?
Uma parte do crescimento é efeito da demanda reprimida. Houve uma expansão muito rápida depois da pandemia, o que gerou uma série de problemas, inclusive na cadeia de fornecimento, de dificuldade de gerar matéria prima no mercado. Outro problema grave que enfrentamos é a inflação. Mas as empresas tiveram que se reinventar. Tivemos problemas logísticos, crise hídrica que aumentou o custo da energia elétrica, inflação... Isso tudo colocou dificuldade nos processos. Mesmo assim, nós da Gemü estamos nos saindo bem. Usamos todos esses desafios que surgiram nos últimos dois anos para pensar fora da caixinha. Nos reinventamos. E esse bom resultado é fruto de planejamento e estratégia em um momento crítico. Mesmo planejamento e estratégia que serão fundamentais para os cenários de incertezas que temos hoje, como inflação, problemas logísticos, entre outros.
Como exatamente a Gemü “pensou fora da caixinha” para obter bons resultados?
Por exemplo, na questão de logística, nosso departamento de produção, com a matriz na Alemanha, com players de toda a cadeia de suplementos, teve todo um planejamento e uma nova estruturação, desde modelagem de estoque, modal de importação e exportação, até reestruturação de níveis de estoque, novos planejamentos de prazos, redefinição do layout da fábrica com investimento. Aproveitamos a crise para investir na nossa fábrica. Muita gente reprimiu o investimento, mas nós investimos fortemente em novas máquinas nos dois últimos anos. Pouca gente apostou nisso e agora está sofrendo. Consideramos que ano passado era o momento adequado para esse investimento para quando viesse a retomada estivéssemos preparados. Portanto, os bons resultados de agora são fruto de muita reunião, muito planejamento e de pensar fora da caixinha. Avaliamos que a demanda iria acontecer. Ela estava reprimida e na hora que voltasse o consumo iria aumentar muito e a gente teria que estar preparado para esse momento. Foi olhar para frente e fazer esse planejamento de futuro.
No que a Gemü investiu na planta brasileira em São José dos Pinhais?
Adquirimos máquinas de última geração nos dois últimos anos. Desde máquinas de usinagem, de injeção para os produtos que fabricamos. A fábrica no Brasil se tornou centro de competência para todo o grupo, que tem cinco unidades industriais no mundo. Nos tornamos um centro de competência para alguns produtos que hoje são feitos apenas na unidade da Gemü no Brasil. Entre eles, válvula diafragma, componentes como diafragmas para válvulas industriais. São componentes usados em larga escala na produção de válvulas que a Gemü fabrica e que antigamente eram feitos em outras fábricas do grupo. Com esse planejamento e essa estratégia, passamos a produzir no Brasil e a fornecer para todo o grupo. Isso alavancou muito nossa empresa, inclusive com aumento exponencial de exportação.
Essa expansão com a compra de maquinário também gerou contratação de novos funcionários?
Sim. Cresceu 10% o quadro de funcionários em 2021. Já o crescimento no investimento na planta foi de 15%. Ou seja foi um investimento bem forte.
Em que momento vocês perceberam que 2021 seria o ano de planejar a retomada, mesmo no pior cenário epidemiológico da pandemia até aqui?
O primeiro ano, 2020, foi impactante, afetou todo o setor. Mas 2021 foi o ano da virada. Foi extraordinário para a Gemü e todo o setor. E continuamos numa crescente em 2022, seguimos, entre parêntesis, surfando na mesma onda.
Como manter essa boa onda de crescimento a qual você se referiu daqui por diante?
O fato de nos tornarmos um centro de competência do grupo trouxe novos projetos que vão ser executados aqui. Então o projeto hoje é um pouco mais a longo prazo e já há planos de mais investimentos. Nesse exato momento temos vários projetos de nacionalização de produtos que eram fabricados em outras unidades, o que vai alavancar mais ainda o negócio aqui. E essa demanda ainda tende a aumentar pela questão da inflação, de aumento de custos, dificuldades logísticas... Por isso a demanda ainda está reprimida e tende a aumentar.
Qual o peso da inflação nesse processo? De que forma pode atrapalhar?
A inflação reprime o consumo e afeta a cadeia como um todo. É uma questão estratégica. Estamos levando todos os fatores que podem impactar economicamente, desde inflação, a eleição no fim do ano, questões logísticas, o aumento do combustível. A gente bota tudo isso na peneira, joga para dentro do liquidificador e o que sai disso é uma estratégia. Tudo o que conseguir sair de bom desse liquidificador vai ser fruto de uma boa estratégia e planejamento. Por isso já estamos avaliando como mitigar tudo isso.
Ou seja, segue uma espécie de “estratégia de guerra” que a indústria usou no pior momento da pandemia agora com os outros entraves que a economia brasileira vive hoje.
Esse planejaneto na verdade não parou. Quem soube se reinventar na pandemia e fez esse bom planejamento e estratégia, pensou fora da caixa, sobreviveu. Agora vêm todas essas outras dificuldades que são constantes e vão exigir mexer constantemente na estratégia e no planejamento.
Qual a visão da matriz da Gemü no Brasil sobre o mercado brasileiro?
Sempre houve desconfiança com o Brasil e nossa capacidade produtiva. Especificamente na Gemü conseguimos reverter essa imagem. Tanto que hoje muito do planejamento lá fora já é feito nos considerando como peça primordial. Muito do que vai ser lançado ou novas estratégias de realocação de estrutura já leva em consideração nossa capacidade aqui, seja tecnológica, ou na formação de pessoas, capacidade produtiva. Essa imagem muda conforme as empresas conseguem criar essa mudança. O pessoal da nossa matriz na Alemanha tem uma visão mais positiva do Brasil graças ao que fazemos aqui. Hoje o cenário é positivo para nós. Muita coisa que era feita lá fora agora é feita aqui. A tendência é de que a filial brasileira se torne uma grande provedora para o grupo. Na verdade, já somos, mas a tendência é aumentar isso.