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Foto: Divulgação/James Delivery
Foto: Divulgação/James Delivery| Foto:

Os sócios do James Delivery estão rindo à toa. E com razão. Em dois anos e meio desde que foi criada, a startup curitibana de encomendas e entregas conseguiu se consolidar no mercado de Curitiba, atingiu seu ponto de equilíbrio e, no fim do ano passado, foi comprada pelo Grupo Pão de Açúcar. O James Delivery começou com entregas básicas de comida e, em pouco mais de um ano, passou a levar de tudo às casas das pessoas: de fraldas a churrasqueiras portáteis. hoje, são 20 funcionários e 800 entregadores ativos em Curitiba e Balneário Camboriú. A venda da startup para o GPA abre um novo capítulo na trajetória do James, que vai levar o seu serviço para outras cidades onde o Pão de Açúcar atua. Os quatro sócios – Eduardo Petrelli, Ivo Roveda, Juliano Hauer e Lucas Ceschin – seguem à frente do James Delivery nesta nova etapa.

Como e quando vocês criaram o James Delivery?

Ele nasceu quando nós quatro, [Eduardo Petrelli, Ivo Roveda, Juliano Hauer e Lucas Ceschin], os sócios, fomos fazer uma pós-graduação na Universidade de Berkley, na Califórnia, de 2014 para 2015. Lá, nós fomos muito impactados pelo ambiente de empreendedorismo tecnológico e pelo desejo das pessoas de tirar as próprias ideias do papel e largar tudo para trabalhar com aquilo que acreditam. Muitas pessoas que conhecemos e nos inspiravam já tinham tentando, algumas acertaram, outras erraram. Quem tinha errado, normalmente tinha errado várias vezes e em alguma dessas tentativas, conseguiram acertar. Então, realmente era um ambiente de muito risco e muita oportunidade. Vimos como a tecnologia possibilita construir empresas muito valiosas em pouco tempo. Nós estávamos imersos nesse universo quando tivemos a ideia de criar o James.

Vocês colocaram a ideia em prática lá ou começaram aqui Brasil?

A gente começou a desenvolver a ideia e fez a primeira modelagem lá fora. O software piloto que a gente começou a utilizar no Brasil foi desenvolvido em Nova York, mas a gente já desenvolveu o projeto pensando no Brasil. Vimos que aqui a oportunidade e o timing eram perfeitos. Então, começamos a fazer software lá fora e em maio de 2016 abrimos o James Delivery aqui no Brasil, já no modelo muito parecido com o que é hoje.

Qual foi o maior desafio para transformar aquela ideia que vocês tinham em um negócio rentável?

Negócio rentável e startup não combinam. Para crescer rápido, você tem de investir e, muitas vezes, não é só investir o capital da própria empresa, às vezes você precisa de alavancagem financeira. Nós trabalhamos com um grupo chamado Curitiba Angels, que já investiu em várias startups no Paraná. Eles também vieram com esse propósito de alavancar a empresa e crescer o mais rápido possível. Foi com investimento anjo e com o investimento próprio que a gente conseguiu crescer tão rápido. Agora o James é uma empresa rentável, mas a rentabilidade não era o foco da empresa no começo. Nosso principal objetivo e desafio sempre foi crescer rápido.

Vocês abriram em maio de 2016 e em menos de três anos atingiram o ponto de equilíbrio. A partir de quando o James se tornou rentável?

Na nossa indústria, a principal meta é o número de pessoas que você consegue impactar e a velocidade que você consegue crescer. Para qualquer startup do mundo, seja o James ou a Uber, a principal métrica é o crescimento. A rentabilidade fica para um segundo momento. Então, de fato, é muito difícil a gente conseguir calcular. O James não é uma empresa que cresceu nos meios tradicionais.

Mas quando vocês atingiram o ponto de equilíbrio, porque essa métrica também vale para as startups, não?

Não necessariamente. A gente passou por esse momento [ponto de equilíbrio] neste ano, mas nosso foco continua sendo crescer. Por exemplo, a partir de janeiro de 2019 a gente vai crescer muito rápido, com a entrada em várias cidades. Isso vai exigir um investimento muito maior do que a receita que o próprio James pode gerar. O James vai continuar operando como uma startup, com cabeça de startup por alguns anos ainda até que a gente consiga alcançar um porte que, aí sim, faça sentido para gente ser rentável. Por enquanto nosso foco é crescimento.

Lucas Cheschin, um dos quatro sócios do James Delivery. Foto: Divulgação James Delivery

Como vocês resistiram à entrada de novos players internacionais, como Rappi, Glovo, Uber Eats, no mercado de Curitiba?

A gente já esperava a chegada de outros players. Na verdade, entraram vários players e alguns que já existiam ficaram cada vez mais capitalizados.  Mas a nossa estratégia sempre foi a de entregar o melhor produto para o cliente. Por mais que eles operem com mais dinheiro, a gente tinha certeza que tinha o melhor produto final. Fomos fiéis ao nosso propósito e conseguimos crescer muito. Apesar de a gente ser uma empresa de tecnologia, nós somos absolutamente focados no cliente, tudo o que for importante para o cliente nós vamos fazer. E nem sempre gastar mais dinheiro em marketing vai trazer o melhor produto para o cliente. Outra coisa que ajudou muito foi que o próprio mercado expandiu muito. Nosso mercado de delivery cresceu muito nos últimos anos e vai crescer ainda mais.

Quando você fala de foco no cliente, está falando exatamente do que?

 O primeiro foco nosso é qualidade, então é realmente entregar o produto que cliente quer no menor tempo possível. Então, apesar de a gente ser uma empresa de tecnologia, acreditamos que o contato humano faz toda a diferença para o cliente, e a nossa interface são os entregadores. A gente não queria que fosse uma empresa entregando algo o cliente, mas uma pessoa levando algo.

 Qual é ponto forte do James que fez com que vocês resistissem a concorrência e crescessem?

É exatamente isso: focar no cliente e não na concorrência. A gente olha para o que o cliente tá querendo e a gente não se importa muito com o que a concorrência está fazendo. Qualquer mercado que tenha oportunidade o suficiente sempre vai atrair muita concorrência, com gente muito boa. Então, se você julgar o tamanho da oportunidade pelo tamanho da concorrência vai acabar perdendo o foco. Se a gente conquista o cliente, nosso trabalho fica muito mais direto. A nossa estratégia vai continuar sendo olhar para o cliente e não para a concorrência.

Vocês também firmaram boas parceiras? O Grupo Pão de Açúcar já era um parceiro do James?

A gente não tinha parcerias com o Pão de Açúcar antes.  Mas sem dúvidas as parcerias que fizemos foram muito importantes para que a gente conseguisse crescer e virar líder do nosso mercado aqui. A gente tinha parceria com Esalflores, Barolo, Whatafuck, Livrarias Curitiba, Shopping Mueller, e todas elas serão mantidas.

Quando vocês passaram a vislumbrar a venda do James como uma possibilidade de crescer no mercado?

Foi quando a gente começou a entender que o caminho natural desses ‘superaplicativos’ é nascer de um grande player. Há alguns meses, passamos a entender que o líder do varejo tradicional tem as melhores condições para ser o líder do varejo do futuro. Ou, como a gente diz, o líder do varejo offline tem tudo para ser o líder do varejo online. Quando a gente entendeu isso, e entendeu as vantagens que existem em fazer parte de um grande grupo, ficou muito claro para nós que juntar forças fazia todo o sentido. O GPA é o maior varejista da América Latina. Ainda não existe um aplicativo perfeito para o varejo em nenhum lugar do mundo. Essa oportunidade está sendo desenhada agora, nestes últimos anos e nos próximos  a gente vai conseguir aperfeiçoar isso.

Quando a gente entendeu que a visão do grupo era realmente ter um futuro cada vez mais próximo do cliente, a gente viu que essa era a empresa perfeita para fazermos parte. O mérito, na verdade, é do GPA, que tem uma visão muito clara para o futuro e nos chamaram para ser parte do time deles.

Algumas startups já nascem com o propósito da venda para empresas maiores. Essa nunca foi a ideia de vocês então?

A escala de poder que esses grandes grupos têm é muito maior que qualquer empresa de tecnologia pode acessar hoje. É um setor, hoje, que realmente busca essa inovação e a gente tem certeza que vai ser muito fértil para o crescimento do James. É uma união muito positiva que faz todo sentido com a nossa estratégia, de estar cada vez mais perto do cliente. Quando a gente entendeu que essa também era a visão deles [GPA], tivemos certeza que era ali que a gente tinha que estar.

O que muda agora no James com a aquisição do GPA?

Teremos um James Delivery turbinado em 2019. Os quatro sócios continuam à frente do James, a sede do James continuará em Curitiba, mas a gente tem uma meta muito grande. Vamos crescer exponencialmente nos próximos anos com uma expansão geográfica agressiva, nas principais cidades onde o GPA atua. É crescimento muito mais acelerado do que tivemos até hoje. Quero destacar é a liderança que essa parceria está nos trazendo. A aquisição do James foi feita em tempo recorde de dois meses e um dia porque esse tipo de negócio estava na mira e no planejamento do presidente do grupo, Peter Estermann. A gente está entrando para realizar a visão deles.

O valor do investimento para essa expansão do James Delivery nos próximos anos já está fechado?

Na verdade esse valor eu não posso revelar, mas o grupo [GPA] vai investir forte para dar suporte às metas de crescimento do James Delivery. Nós vamos continuar operando como uma startup, crescendo como uma startup, sendo agressivos uma startup, mas fazendo parte de um grande grupo. Vai ter muito investimento no James nos próximos anos.

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