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Pedro Joanir Zonta, presidente da rede de supermercados Condor
Pedro Joanir Zonta, presidente da rede de supermercados Condor| Foto: Henry Milléo/Gazeta do Povo

Com um investimento de R$ 40 milhões, a rede Condor Super Center inaugurou no último dia 26 sua quinta loja em Santa Catarina. O moderno supermercado no bairro Boa Vista, em Joinville expande a marca no Norte catarinense. Um plano que vem sendo trabalhado desde 2016 e que já custou mais de R$ 140 milhões ao grupo paranaense, mas que, por ora, deverá ser freado por conta da crise causada pela pandemia da Covid-19.

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Ainda que seu segmento seja um dos menos afetados pela desaceleração econômica, o fundador e presidente do grupo, Pedro Joanir Zonta, admite que as contas fecharão no vermelho em 2020. Somada a isso, a incerteza sobre o crédito pede cautela nos novos investimentos, ele avalia. Um percalço no caminho do grupo de 46 anos que se acostumou nas últimas décadas a abrir loja atrás de loja até se tornar uma das marcas-referência do Paraná. Hoje são 54 unidades, com mais uma, no Pilarzinho, programada para o segundo semestre.

Nessa entrevista, Zonta fala sobre perspectivas do grupo para o durante e o pós-pandemia, além de como a marca tem encarado a necessidade de se adaptar a medidas de segurança. Confira:

Gazeta do Povo: Os supermercados tiveram alta no faturamento no início da pandemia, segundo as pesquisas de atividade econômica. Mas, de acordo com estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), houve recuo de 5% em abril. Como estão sendo os resultados da rede neste momento?

Pedro Joanir Zonta: Diminuíram as compras [em abril] por causa do estoque que os compradores fizeram no início da pandemia. Começou por volta do dia 15 de março [o período de isolamento social]. Até o dia 28, teve um excesso de compra. Isso repercutiu em abril. O cliente estava “estocado”. Essa correria [no início da crise] se deu com produtos básicos: arroz, feijão, óleo, leite, macarrão. No início de abril, o comprador viu que não teria falta de produtos e passou a só repor o complemento. Por isso não teve uma venda boa em abril. Mas, se juntar março e abril, fiou dentro de uma média. O [resultado do] primeiro quadrimestre foi considerado normal, ainda que um pouco inferior apenas ao do ano passado.

Então a expectativa é de retomada já no curto prazo?

Não é isso que estamos prevendo. O consumidor está cauteloso. Como ele não sabe o que vai acontecer com a renda, com o emprego, ele está cuidadoso e comprando só o que é necessário. Um setor em que a gente sente [a queda] é o de material de limpeza da casa. Aumentou a venda de água sanitária e alvejante. Mas o valor do litro da água sanitária é mais baixo do que o de produtos que ele comprava antes. Nesse setor, as vendas caíram 15%. Se for ver a loja em detalhes, tem setores que aumentaram ou mantiveram as vendas, como perfumaria e higiene pessoal, e setores que diminuíram por conta do coronavírus. Mas, no geral, se o consumidor tiver alternativa de um produto que custa mais barato, é nesse que ele está indo.

Na unidade recém-inaugurada em Santa Catarina, o Condor oferece uma cabine de desinfecção. Ela será estendida às outras unidades da rede, incluindo as do Paraná?

Vamos ter que tirar a cabine porque a Secretaria de Saúde de Santa Catarina não permite. Estamos fazendo uma consulta com a secretaria aqui do Paraná sobre essa estrutura. Nossa intenção era colocar em todas as unidades da empresa. Até porque é um produto próprio para isso. Os hospitais usam. Mas, existe esse entendimento diferente por parte dos estados.

Quais outras medidas a rede está adotando para proteger funcionários e clientes?

Estamos em 17 municípios. Os 17 fizeram vários decretos. Quando eles emitiam um decreto e nós achávamos que aquilo era bom, colocávamos em todas as lojas. Isso valendo para o cliente e para os colaboradores. Se começa a dar caso de Covid em uma loja, isso compromete toda aquela loja. Quando saiu a obrigatoriedade de álcool em gel, instalamos em todas as lojas. A distância de dois metros também. Uma dificuldade que encontramos foi a do operador de caixa com o cliente. Não tem como manter eles a dois metros de distância. Colocamos um acrílico separando. Não interfere na operação, mas cuida dos dois. E as máscaras. Quando saiu a obrigatoriedade, falamos: ‘não deixa ninguém entrar sem’. E aí aconteceu aquilo em Araucária [no fim de abril, em uma loja da rede no município, um cliente se recusou a colocar máscara e causou uma confusão que acabou na morte de uma funcionária]. Perdi uma colaboradora que trabalhava comigo desde 2012, que deixou um filho de 18 anos e um de 13.

O que mudou depois desse episódio no protocolo de segurança do mercado?

Não estamos mais impondo para o cliente [o uso da máscara]. Continua igual. [Um funcionário] Coloca álcool em gel na mão do cliente, oferece uma máscara se ele estiver sem. Se ele não aceitar, não se fala nada. Ligamos para o 190 [serviço de denúncia da Polícia]. Antes, nós achávamos que iríamos resolver sozinhos com os clientes..

Qual é o custo das medidas de proteção contra o coronavírus?

Nós temos 1,2 mil caixas. Para colocar o acrílico o custo foi de R$ 500 por caixa. O de álcool em gel eu não levantei ainda. Não adianta levantar o custo e querer economizar, falar para o pessoal controlar o uso de álcool em gel. Tem que deixar livre. Sei que esse custo vai repercutir no resultado. Nós vamos passar essa pandemia com prejuízo. Não vamos conseguir deixar 2020 com algum resultado. Mas, nesse momento, estamos dando prioridade para preservação da saúde de colaboradores e clientes. E, principalmente, cumprindo o abastecimento, que é nossa responsabilidade.

Nesta semana, a rede inaugurou essa unidade de Joinville. Este era um investimento que certamente já estava programado. O cronograma dos próximos lançamentos está mantido ou foi afetado pela pandemia?

A gente investe os resultados que a empresa gera. Como estamos prevendo 2020 sem bons resultados, não temos como inaugurar novas unidades. Essa loja de Joinville começou [a ser construída] no ano passado. Uma loja no Pilarzinho, em Curitiba, também é um projeto de antes da pandemia que vamos seguir porque já tem o financiamento aprovado. Não sabemos como os bancos vão agir. Quantas empresas vão precisar ter recursos só para manter o capital de giro perdido nesse período? Para abrir uma unidade, precisamos de recurso de financiamento. Hoje eu não tenho como dizer se a expansão vai continuar porque dependo de crédito dos bancos. Não sei se eles estarão abertos ou se os juros serão compatíveis com o investimento. Por enquanto estamos mantendo o que já estava definido e aguardando para ver os próximos passos, dentro de 60 a 90 dias.

Desde 2016, quando a rede rompeu a fronteira do Paraná e entrou em Santa Catarina, já investiu R$ 140 milhões. São cinco unidades naquele estado, três em Joiville, uma em Mafra e outra em Jaraguá do Sul. O mercado catarinense é o novo alvo do Condor?

O Norte de Santa Catarina usa muito Curitiba. Quando fizemos pesquisa para abrir a primeira loja em Joinville [em 2016], 52% dos entrevistados já conheciam o Condor em Curitiba. Para eles é mais próximo Curitiba do que Florianópolis. E a parte logística facilita para mim pela proximidade. Mafra, Jaraguá do Sul e Joinville estão muito perto.

Há interesse em descer mais e eventualmente entrar no mercado gaúcho?

Sim. Mas vamos indo por faixa [de cobertura das televisões]. A televisão de Joinville pega todo o Norte de Santa Catarina. Essas cidades são o foco nesse primeiro momento. Quando concluirmos essa faixa, vamos para outra. A publicidade é muito representativa. É um valor representativo que a gente investe. Se a gente abrir uma loja e quiser pegar a televisão de uma faixa inteira para divulgá-la, o custo se torna inviável ou a publicidade nem aparece.

O senhor está otimista ou pessimista com a retomada econômica no seu segmento?

Eu estou realista e sei que vou trabalhar sem lucro ou até com um pouco prejuízo até chegar setembro. No último trimestre do ano, acredito que vai equilibrar. Ainda assim vai fechar em vermelho. Mas um resultado já calculado de acordo com como está andando. Mas o prejuízo dos supermercados vai ser menor do que o de outras empresas, como restaurantes, por exemplo. Esses vão levar até o meio do próximo ano para se recuperar.

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