O acontecimento mais grave das eleições municipais de 2024 passou despercebido aos olhos da população brasileira. Na última sexta-feira, 4 de outubro, dois altos personagens da República tiveram um encontro secreto para decidir o destino de Pablo Marçal. O imperador calvo e o governador da direita permitida entenderam que era o momento de neutralizar a candidatura mais ameaçadora para o sistema governante desde o surgimento de Jair Bolsonaro.
Com Bolsonaro manietado pelo seu próprio partido e pela caterva do Centrão, Marçal caminhava para estragar o teatro das tesouras montado na maior cidade do país, principal antessala das eleições presidenciais de 2026.
O resultado daquela fatídica reunião veio a público logo em seguida: o ministro Alexandre de Moraes intimou Marçal a prestar depoimento “em até 24 horas” no STF. A base para a decisão de Moraes, no entanto, não foi o famigerado laudo falso sobre a internação de Guilherme Boulos, e sim o “uso extremado” da plataforma X, suspensa no país. Moraes alegava, na decisão que a “a conduta de Pablo Marçal, em tese, caracteriza abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação”, além de “grave a afronta à legitimidade e normalidade do pleito eleitoral” podendo, “acarretar a cassação do registro ou do diploma de elegibilidade” do candidato do PRTB.
Vou repetir para ficar bem claro: a decisão de Moraes não foi motivada pelo famoso laudo, mas por outras razões. Ou seja, tendo ou não o laudo, Moraes tencionava acabar com a candidatura de Marçal. E meus sete leitores podem imaginar se existe ou não uma relação entre a reunião de sexta-feira e a decisão de Moraes.
No sábado, em uníssono, a mídia, a esquerda e a direita permitida promoveram um ataque maciço a Marçal. Boulos e Tarcísio fizeram coro pedindo a sua prisão. Com uma estranha, absurda e atordoante rapidez, apareceram provas definitivas sobre a falsificação do laudo.
Muitos dos que até ontem eram vítimas de Moraes e do regime PT-STF aplaudiram a perseguição ao candidato do PRTB. Foi um vergonhoso ritual coletivo de defesa do sistema
O fatídico laudo, porém, foi apenas mais um episódio na longa lista de narrativas falsas e calúnias promovidas em período eleitoral na história recente do país.
No vale das sombras da calúnia, a Polícia Federal descobriu um dossiê falso contra políticos do PSDB, pago com dinheiro de uma empreiteira amiga do PT, em 2006; um contador filiado usou procuração falsa para obter dados da filha de José Serra, em 2010; nas eleições presidenciais de 2014, o PT espalhou milhões de mensagens para dizer que Aécio Neves iria acabar com o Bolsa Família; durante toda a campanha de 2018, Jair Bolsonaro foi acusado de planejar o extermínio de gays, negros e índios (o que, por sinal, foi o motivo alegado por Adélio Bispo para a tentativa de assassinato do candidato); em 2022, o mesmo Bolsonaro foi acusado de pedófilo.
Ninguém foi punido por nada disso. Mas Marçal será.
Marçal deixou de ir ao segundo turno das eleições paulistanas por menos de 60 mil votos, o que é uma gota no oceano da metrópole. Acho muito estranho que um sujeito tão habilidoso no uso das redes sociais tenha dado um tiro no pé tão evidente quanto a publicação do laudo falso.
Mas o fato é que o destino de Marçal já estava selado antes que o laudo aparecesse, e isso graças a uma decisão de um ministro da Suprema Corte amplamente apoiada pelo líder da direita permitida no Brasil.
Trata-se do fato mais escandaloso das eleições, e quem não entender isso não entenderá nada!
A ascensão de Marçal ao segundo turno em São Paulo representaria um duro golpe, uma fissura fatal na vitória do Centrão. Agora, os paulistanos terão de escolher entre o cone de trânsito esquerdista e o comunista invasor de propriedades e defensor do aborto (cocaína definitivamente nunca foi o maior problema de Boulos). E o teatro das tesouras foi mantido, para alegria de Kassab, Valdemar, Temer, Tarcísio e Moraes.
O problema é que a democracia brasileira foi desenhada para essa turma rir.
Mas eu garanto a vocês, meus sete pacientes leitores: — Nem tudo são trevas. Nesta segunda-feira, 7 de outubro, Dia de Nossa Senhora do Rosário, levantei-me às 4 da manhã para rezar no meu querido Santuário Eucarístico Mariano, mais conhecido como o Santuário da Madre Leônia. Há pessoas que se orgulham de ter um santo em seu país, em seu estado, em sua cidade. Eu tenho uma santa em minha rua!
Rezamos todos os mistérios do Santo Rosário. Meditamos a anunciação do anjo, a visita a Santa Isabel, o nascimento de Jesus em Belém, a apresentação no Templo, a perda e o encontro do Menino Jesus, o batismo nas águas do Rio Jordão, o milagre das bodas de Caná, o anúncio do Reino, a transfiguração, a instituição da Eucaristia, a agonia no Horto, a flagelação, a coroação de espinhos, o carregamento da cruz, a paixão e morte na cruz, a Ressurreição de Jesus, a ascensão, a descida do Espírito Santo, a assunção e a coroação da Virgem Maria.
Quando terminamos de rezar, as primeiras luzes do dia abençoaram o Santuário. E foi então que eu mais uma vez tive essa certeza consoladora: o caminho para sair desse Vale das Sombras não é político, é espiritual.
Viva a Terra de Santa Cruz!
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