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Igor Estrela/Estadão Conteúdo
Igor Estrela/Estadão Conteúdo| Foto:

Estive ao lado dos bolsonaristas em várias disputas nos últimos anos. Nas eleições, me separei deles. Muitos amigos e leitores se revoltaram com a decisão. Um deles me fez a seguinte pergunta: Pedro, você que se diz tão liberal e racional, o que te faria admitir que estava errado?

A pergunta ganha importância após a ridícula campanha de resistência que certa esquerda encampou nos últimos dias. Se estivéssemos numa ditadura, a resistência faria algum sentido. Mas Jair Messias Bolsonaro é o presidente democraticamente eleito do nosso Brasil, do território onde vivemos e nos formamos, da nação cujos valores sempre farão parte da nossa identidade.

No momento, só faz sentido torcer para que ele faça um bom governo, reforme o Estado, conserte os erros do PT (os crimes são assunto do Judiciário) e respeite as instituições. Posição política só faz bem quando baseada em valores e em fatos. Birrentos e bajuladores prejudicam o país. Os gritos de resistência soam como desespero de quem prioriza a própria vaidade em detrimento do Brasil.

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Daí a importância de definir, com objetividade, o que me faria mudar de opinião. Se Bolsonaro for bem nas métricas que defino nesse texto, prometo escrever um mea culpa no próximo pleito e, a depender do seu desempenho, apoiar abertamente o capitão. Ninguém deve ter compromisso com o erro.

A escolha das métricas não é tão simples. É importante que sejam poucas: prioridades importam e um número excessivo tornaria o sucesso inviável, servindo como desculpa para fugir das responsabilidades. Além disso, Bolsonaro precisa atender os desejos de quem votou nele. Como não estou nesse grupo, não privilegiarei os meus valores. Portanto, cinco das sete métricas vêm do primeiro discurso após a vitória. As outras duas são pontos centrais do seu plano de governo.

Quando as urnas confirmaram matematicamente a sua vitória, Bolsonaro fez um discurso prometendo essencialmente duas coisas: resolver os problemas econômicos e garantir a liberdade dos brasileiros, em suas múltiplas dimensões. No minuto em que escutei isso, meu coração liberal ficou esperançoso. Se ele cumprir as promessas – e essa é outra história, bem mais complicada –, será um excelente presidente.

O Instituto V-Dem, da Universidade de Gotemburgo, possui um índice que mede a saúde da democracia, em todas as suas variantes. Uma delas é a democracia liberal, expressão citada diversas vezes no plano de governo apresentado por Bolsonaro ao TSE. O Índice de Democracia Liberal do V-Dem, segundo os responsáveis, mede a proteção aos direitos civis, o império da lei e a efetividade dos freios e contrapesos que controlam o poder. O Brasil vai bem nas últimas décadas, próximo dos líderes latino-americanos na área. Seria bom melhorar essa situação, mas manter um nível de democracia liberal semelhante ao atual já será suficiente para um bom desempenho.

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Outra dimensão liberal citada por Bolsonaro foi a “liberdade de opinar e informar”. A ONG francesa Repórteres sem Fronteiras possui um índice de liberdade de imprensa, que mede a capacidade dos jornalistas de exercerem suas liberdades. Estamos na desonrosa 102ª posição entre 180 países. Melhorar essa situação faria Bolsonaro cumprir com excelência a sua promessa. Frente ao medo que se instaurou no país, a manutenção do índice atual já seria razoável.

Outra dimensão da liberdade citada por Bolsonaro foi a “de empreender”. O Banco Mundial mede a saúde do ambiente de negócios no respeitado índice Doing Business. Na última edição, o Brasil subiu do 125º para o 109º lugar. Mesmo um presidente altamente rejeitado, como Michel Temer, conseguiu progresso nesta seara. Se Bolsonaro mantiver este progresso, ultrapassando mais algumas dezenas de países, outra de suas promessas terá sido cumprida com louvor.

Pioras significativas no nível de democracia liberal e liberdade de imprensa são inaceitáveis. Caso ocorram, Bolsonaro será um mau presidente. Já um sucesso nessas três métricas significaria um governo liberal. É possível alcançar isso sem amplo apoio do Congresso. As quatro últimas métricas, por outro lado, são bem mais difíceis de serem cumpridas.

No campo da economia, Bolsonaro prometeu duas coisas em seu discurso: emprego e responsabilidade fiscal.

O desemprego medido pela última PNAD Contínua está ao redor de 12% da força de trabalho. Uma situação de pleno emprego precisa de uma taxa ao redor de 5% – sempre haverá uma parcela não-empregada da população, por isso os economistas consideram um desemprego baixíssimo como pleno emprego. Chegar nesse nível em 4 anos é dificílimo, exigindo um esforço hercúleo. Se Bolsonaro alcançar, terá sido um presidente brilhante na política fiscal. Caso ele se aproxime e entregue em 2022 um país capaz de chegar no pleno emprego em poucos anos, já será suficientemente bom.

A responsabilidade fiscal pode ser medida pelo crescimento da dívida pública. Mais do que zerar o déficit, é urgente reverter a trajetória atual de crescimento explosivo da dívida. Estabilizar a dívida pública em qualquer momento do próximo mandato seria um golaço do presidente.

Por fim, vale a pena citar duas outras métricas omissas no discurso de posse, mas presentes em todo o resto da campanha bolsonarista: redução dos homicídios e melhoria da educação básica.

É razoável esperar que medidas de combate à criminalidade demorem a fazer efeito. Portanto, a comparação justa deve contrapor a taxa de homicídio nos dois anos finais do próximo mandato (2021 e 2022) com a dos dois anos finais do mandato atual (2017 e 2018). Pequenas reduções podem ser atribuídas a dinâmicas demográficas incontroláveis. Mas uma redução significativa seria merecedora de aplausos, principalmente se for capaz de retirar cidades brasileiras dos rankings de mais perigosas do mundo, situação na qual se encontram capitais como Salvador, Maceió e Fortaleza.

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O IDEB, Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, mede o aprendizado dos alunos nas disciplinas essenciais, como português e matemática. Bolsonaro prometeu reforçar o ensino nessas áreas, que segundo ele estaria comprometido pelo foco na doutrinação e sexualização dos jovens. O IDEB também possui metas, formuladas alguns anos atrás, e que deixaram de ser atingidas nos últimos anos, especialmente no Ensino Médio. Se o índice nacional alcançar ou superar a meta em todos os índices, as políticas educacionais de Bolsonaro terão se provado boas.

Eis as sete métricas para avaliar Bolsonaro: Índice de Democracia Liberal do V-Dem, Índice de Liberdade de Imprensa do Repórteres sem Fronteiras, índice de ambiente de negócios do Banco Mundial, variação da dívida pública bruta segundo Banco Central e Tesouro Nacional, taxa de desemprego segundo o IBGE, taxa de homicídios segundo o DATASUS ou Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, segundo o MEC.
Não conheço quem discorde do mérito em avançar nesses indicadores. Todos são quantitativos e objetivos. Os três primeiros são responsabilidade de estrangeiros, sem interesse na política nacional. Os últimos quatro são altamente vigiados pela sociedade civil.

Presidente Jair Bolsonaro, eu imploro: avance nessas métricas e me faça pagar a língua. Dê aos seus eleitores a oportunidade de se deleitar dizendo que estavam certos sobre sua capacidade de melhorar nosso país. Coloque o Brasil acima de tudo. Serei feliz se você me obrigar a admitir o erro.

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