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O PT entregou o poder para Bolsonaro, que quer retribuir a gentileza
| Foto: Marcos Correa/PR

Quem poderia imaginar que, em meio ao governo Bolsonaro, Lula despontaria como favorito para as eleições de 2022? Muita gente. Inclusive eu, aqui neste espaço. Escrevi diversas colunas com o mesmíssimo alerta. Pode checar no histórico, caro leitor. De alguns em alguns meses, repito o alerta. Cá estou: a insanidade do bolsonarismo está pavimentando a volta do PT ao poder.

A bem da verdade, a insanidade do bolsonarismo está pavimentando a volta de tudo que o bolsonarismo prometia combater. Basta observar os recordes históricos nas liberações de emendas parlamentares, usadas como moeda de troca em votações importantes para o governo. A Lava Jato foi destroçada. O STF se sente livre, leve e solto para continuar com sua criatividade jurídica moldada conforme a conveniência política.

Os militantes de redações e escolas também prosperam. Afinal, toda e qualquer crítica ao bolsonarismo é associada à militância socialista. Quando a The Economist recebe o apelido The Ecommunist, os verdadeiros comunistas têm mais facilidade para fingir que são sensatos por contraste. Não por acaso, youtubers stalinistas começaram a fazer sucesso nos últimos anos.

O menos comentado dos piores defeitos de Bolsonaro é a sua incrível capacidade para destruir qualquer coisa que ele defende. Infelizmente, o atual presidente não chegou ao poder através de uma temível conspiração para desinformar através do zap. Esta narrativa, muito repetida por parte da esquerda, ignora que Jair venceu porque conseguiu dialogar com preocupações legítimas do brasileiro comum.

Essas preocupações – a rejeição ao petismo, por exemplo – refletem problemas reais. Como se não bastasse todo o mal que Bolsonaro causa pelas ideias erradas que ele defende, deve-se ainda considerar o mal associado ao sucesso das ideias ruins que ele critica. O sucesso recente do lulismo é um dentre muitos exemplos.

No fim do governo Lula, o PT começou a cometer uma série de erros que culminaram no impeachment de Dilma Rousseff. Não satisfeito, o petismo dobrou a aposta ao transformar a “teologia do golpe” em discurso oficial. O resultado não poderia ser diferente: de bandeja, entregaram o poder para Bolsonaro, que desde então foca os seus esforços em retribuir o presente. Gentileza gera gentileza, mesmo quando não há intenção.

Vale lembrar, porém, que o petismo fez o que fez sem perceber. Em  grande medida, as absurdas narrativas do PT foram inventadas para livrar o partido de qualquer culpa pela ascensão de Bolsonaro. A responsabilidade foi de Aécio, Cunha e de empresários malvados que conspiraram e financiaram uma lavagem cerebral via zap que desvirtuou o eleitor brasileiro. Ainda mais sintomático, o petismo negou veementemente o que estava diante dos seus olhos. Em 2018, os chefões do partido torciam por um segundo turno contra Bolsonaro, pois a vitória seria certa. Deu no que deu.

O mesmo comportamento é copiado, tintim por tintim, pelo bolsonarismo. Narrativas absurdas são inventadas para negar que Bolsonaro tem sido diretamente responsável pelo fortalecimento de Lula. A esta altura, é provável que a caixa de comentários deste texto tenha comentários similares aos que petistas escreviam para quem dizia o óbvio nos idos de 2016.

Nada mais natural. O bolsonarista de 2021 é como o petista de 2016: está fechado numa caixa de ódio e ressentimento, onde a má informação circula na medida exata para beneficiar os chefes do movimento. Para ele, Bolsonaro acertou na gestão da pandemia e vai vencer a eleição com apoio do trabalhador comum que está revoltado contra o isolacionismo radical.

Por que essa tendência não aparece em nenhuma pesquisa de nenhum instituto? Ora, todos estão comprados pelo esquema de desinformação petista. O mesmo vale para quem divulga os resultados do premiado artigo de Ajzenman, Da Mata e Cavalcanti (2020), que evidencia a influência do negacionismo de Bolsonaro nos desastrosos números da pandemia no Brasil.

Os bolsonaristas garantem que todos estão cegos e eles são os únicos capazes de enxergar o sucesso do presidente. Quem os contraria é imediatamente denunciado como agente petista. Ironicamente, não percebem que, nos últimos dois anos, ninguém trabalhou tanto pela volta do PT quanto os apoiadores de Jair Bolsonaro.

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