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Crédito da foto: Bruno Covello/Gazeta do Povo
Crédito da foto: Bruno Covello/Gazeta do Povo| Foto:

Política é guerra por outros meios, diz um velho ditado. Muitas eleições são como a Batalha de Stalingrado, um embate entre duas espécies distintas de cretinos. Mas na política, seja qual for o resultado, é importante parafrasear Quincas Borba após a abertura das urnas: aos vencedores, a autocontenção; e aos perdedores, também. Depois do pleito, há sempre um povo ansioso por soluções. Quando falta diálogo, a política pode se aproximar da guerra também nos meios.

Político é alguém que recebe poder e dinheiro dos cidadãos – inclusive dos que votaram na oposição – para resolver problemas da coletividade. Todos nos sentimos mal quando vemos canalhas em quem não votamos com poder para interferir em nossas vidas. São ossos do ofício democrático. Se eles interferem na vida de gente que não os tolera, mas os banca, que tenham a dignidade de portar-se com parcimônia e maturidade.

Infelizmente, as diplomações de eleitos em diversos estados escancararam comportamentos dignos de DCE. Gritaria, vaias e até brigas dominaram as cerimônias nas últimas semanas.

Cada político diplomado tinha tarefas muito simples a cumprir: ficar quietinho, aguardar sentado até que seu nome fosse chamado, pegar o diploma, ficar quietinho de novo e voltar para casa. Qualquer criança consegue. Mas muitos representantes do povo, já em idade avançada, preferiram agir como se estivessem numa assembleia de estudantes de sociologia.

Em Minas Gerais, o deputado federal eleito Rogério Correia (PT), subiu ao palco com uma plaquinha onde se lia “Lula Livre”.

Quebrar o protocolo daquela forma sensibiliza a juíza Gabriela Hardt nos processos de Lula? Não.

A atitude ajuda a popularizar a causa entre a opinião pública? Também não. Os petistas insistem na narrativa há meses e cerca de 60% da população segue favorável à prisão do ex-presidente, segundo o Datafolha.

Existe alguma via concreta pela qual Lula se beneficia com a atitude? Com o terceiro não, Correia se qualificou pra passar vergonha no Fantástico. Provavelmente era o que ele queria desde o início: aparecer.

Em seguida, o também deputado federal eleito Cabo Junio (PSL) respondeu com uns sopapos no petista. Novamente, a agressão foi politicamente inócua para o PSL. Se teve alguma consequência, reforçou a narrativa petista sobre a suposta truculência e autoritarismo do partido de Bolsonaro.

Talvez os deputados tenham feito alguma média com as próprias torcidas. Petistas gostam de quem puxa o saco de Lula. Bolsonaristas gostam de ver petistas se dando mal. Fora dos nichos, a maioria viu um espetáculo lamentável de representantes do povo incapazes de dar à liturgia a sonolência que dela se espera.

Numa democracia, é esperado que deputados discordem uns dos outros. Não só isso: é esperado que uns achem outros imorais, canalhas e desprezem suas posições. Mas o decoro parlamentar não é um detalhe. Representantes do povo devem agir com dignidade, conter o próprio instinto e a vontade de aparecer nas câmeras.

Primeiramente, deveriam entender que são modelos de comportamento para os representados. Se até deputados brigam, como se pode pedir paz às militâncias?

Aqueles que amam ao Brasil – e as lideranças de PT e PSL juram amor ao país – devem entender o que cenas como essa comunicam ao mundo sobre nosso país. O mesmo vale para o que se viu nas diplomações em São Paulo, Porto Alegre e outras pelo país.

Ainda mais importante é a compreensão, por quem assume um cargo de deputado, sobre o próprio papel perante o povo brasileiro. O parlamentar deve se limitar a “parlar”, cumprir o regimento e defender suas pautas conforme as regras do jogo. Levantar plaquinhas é o papel de juventudes partidárias, se muito. Partir para a porrada, na política, não é função de ninguém.

Essa confusão de papeis pode ter consequências terríveis. No livro “Como as Democracias Morrem”, tão discutido durante as eleições, a falta de autocontenção é citada como critério-chave para a sobrevivência das liberdades políticas. As cerimônias de diplomação não são um bom sintoma sobre o país.

A eleição de 2018 foi especialmente polarizada. Nada diferente do esperado, dado o clima político dos últimos 4 anos. Mas, pelo bem do país, a eleição precisa acabar. Chegou a hora de incorporar valores mais natalinos à postura dos nossos representantes.

Em última análise, por mais desprezíveis que possam ser as opiniões dos outros, um pouco de compaixão e alteridade faz bem à política. Só assim, com diálogo e compreensão das divergências, será possível aprovar as tão necessárias reformas de Estado. É essencial que Jair Bolsonaro e seus correligionários sejam capazes de ouvir a oposição, assim como a oposição deve ser capaz de conversar com Bolsonaro sem rejeitar projetos de antemão, apresentando críticas construtivas visando a melhoria de cada proposta. Assim operam as boas instituições.

A esquerda tem certeza que o clima bélico foi criado pelos bolsonaristas e a direita tem certeza que a culpa é toda dos lulistas. Mas que utilidade há em apenas apontar dedos, se a convivência será inevitável no parlamento? Por trás das brigas na frente da Câmara, há duzentos milhões de seres humanos cansados da criminalidade e da ineficiência de um Estado que consome 40% da nossa renda.

Infelizmente, a cooperação entre os diferentes em nome do país nunca soou tão distante quanto hoje. Resta aos brasileiros esperar por um milagre de Natal.

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