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Os melhores discos de Curitiba em 2014
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Demorou, mas passou. Se 2014 chega ao fim num clima meio estranho – poxa, Joe Cocker foi mais um cara legal que morreu dia desses -, o lado bacana foi a alta qualidade da produção musical da cidade, que parece se horizontalizar (há pop, rock, pós-rock e rap bem feitos) ao mesmo tempo em que cristaliza algumas referências recentes como o ruído/mm, que atinge um patamar nacional.

No início do ano, noticiamos alguns lançamentos para 2014. Banda Gentileza, Naked Girls and Aeroplanes, Poléxia e Rosie Mankato ficaram na conversa. Mas bandas como Farol Cego (com Zênite), Dunas (com Boas Vindas), Watch out for the Hounds (Release the Hound) mostraram serviço em seus primeiros registros.

Sendo assim, como já é costume, o Pista 1 escolheu os melhores álbuns curitibanos deste ano. Listas, vocês sabem, servem principalmente para semear a discórdia. Por isso, comentem se acharem que algum disco deveria, por Deus, estar neste top 5. Só não nos xingue por termos opinião diversa. Como diz a Trombone de Frutas, “amemo-nos.”

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5 – Lindberg Hotel – Lindberg Hotel II

Claudio Romanichen é o cara. Lindberg Hotel é a banda. Se no primeiro registro, Lindberg Hotel I, o shoegaze e as guitarras espaciais encarnavam um My Bloody Valentine um pouco mais pop, Lindberh Hotel II fez das influências do músico um produto definitivo. Gravado 100% por Romanichen, o disco tem pegada lo-fi. Seu rock guitarreiro encontra a melhor forma em “Beatles Posters”, e na intensa “Spoiled Child”. O quinto lugar mostra mais uma vez que Curitiba, apesar de se fingir de boa moça, gosta mesmo é dos barulhos do mundo.

 

 

 

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4 – Charme Chulo – Crucificados Pelo Sistema Bruto

Um disco duplo em 2014, como assim? Pois é. Em 20 faixas, Crucificados Pelo Sistema Bruto é um pequeno estudo sobre a indústria musical, realizado com humor, bem-vindas curitibanices e referências inusitadas como a Oktoberfest, os playboys da Batel e o motel My Garden. A grande sacada da banda foi criticar o “sistema bruto” sem aquele engajamento fajuto que quase sempre soa anacrônico. O Charme Chulo, ao contrário, ri de si mesmo, e reflete a condição de uma banda de rock que está há mais de uma década na estrada perante um mundo musical contaminado. O disco tem algumas das melhores músicas lançadas por essas terras em 2014, como “Palhaço de Rodeio”, um serta-rock irônico sobre um peão desiludido que invoca Gian & Giovani; e “Dia de Matar Porco”, que venera salsichas. Apesar de tudo e de todos, há graça na música de Curitiba.

 

 

 

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3 – O Escambau – Novo Tentamento

O quarto disco da banda de Giovanni Caruso surpreendeu a muita gente por dois motivos: ousou ao costurar uma mistura de gêneros e influências – gospel, psicodelia, MPB, rock, brega, religiões, boemia, poesia – e tratou de resolver tudo isso com uma produção impecável (de Siri), que, por fim, valoriza tanto o instrumental do grupo quanto a peculiar voz de Maria Paraguaya. Por isso tudo, é como se Novo Tentamento fosse um disco de outro tempo, reencontrado agora. Não se parece em nada com o que o Escambau já fez; não se parece em nada com nenhum disco lançado no país neste ano. Não é uma “ópera rock profana” como a banda originalmente gostaria de concebê-lo. Mas tem algo de mítico sim, que evoca um possível encontro entre Pink Floyd em sua fase Ummagumma e eterna criança que é Arnaldo Baptista.

 

 

 

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2 – ruído/mm – Rasura

É difícil mensurar, neste momento, os feitos do ruído/mm. Talvez só no futuro. A melhor banda de Curitiba colocou cérebros para pular no elegante introdução à cortina do sótão (2011). E agora parece nos desafiar, e perguntar: até onde você pode ir? E principalmente: aonde você quer chegar?

Produzido por Mark Kramer (Galaxie 500, Butthole Surfers e Urge Overkill), Rasura é uma pequena obra-prima que começa pela capa e pelo encarte, ambos extraordinários, arte dos designers Mário de Alencar e Jaime Silveira. E aí, talvez, esteja uma boa dica para se entender porque Rasura é um disco tão forte. A banda é coerente em todas as suas (inter)relações, e procura sempre se inspirar naquilo que lhe é mais importante: as pessoas, a natureza, o acaso.

Sobre a música, não há muito o que falar. Apenas que seu pós-rock ganhou contornos mais definidos e às vezes mais enxutos. E que “Penhascos, Desfiladeiros e Outros Sonhos de Fuga” pode ser a faixa perfeita para se ouvir tanto no espaço quanto na companhia de quem se sente saudade.

 

 

 

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1 – Heavy Metal Drama – It Took You Too Long to Meet Heavy Metal Drama

Eles caminham por essa trilha há algum tempo. Rhony Guedes e Thomas Kossas (Rosie and Me), Francisco Conrado (Silver Salt) e Claudinha Bukowski (Copacabana Club), entretanto, nunca soaram tão naturais e despretensiosamente interessantes quanto no projeto Heavy Metal Drama.

O fator decisivo para a escolha da como o destaque de 2014 foi quase conceitual: a banda tem a coragem de se enfiar num nicho batido e desgastado, apesar de ainda jovem. O indie dançante e às vezes praieiro que propõem é menos óbvio do que aquele que se costuma ouvir por aí, principalmente em baladas de sexta e sábado. Há mais peso, ousadia e criatividade. É música que dá certo na pista, enfim, mas que não foi feita exclusivamente para elas. Não nasce em formato, por mais que possa se adequar a muitos.

“Overrated U”, que ganhou clipe, lembra os bons tempos do Kasabian. Já a levada sexy e o vocal preciso de “Tanned Blondie” sugere um Placebo menos afetado. Um baita registro, que comprova a capacidade de músicos da cidade de se reinventarem, mesmo em projetos paralelos. E de fazer tempestade quando sopra a brisa.

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