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O procurador Deltan Dallagnol, um dos homens-símbolo da Operação Lava Jato.
O procurador Deltan Dallagnol, um dos homens-símbolo da Operação Lava Jato.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

Ao que parece, a Operação Lava Jato vai chegando ao fim. Com a saída de seu coordenador, o procurador Deltan Dallagnol, com o quase ostracismo do ex-juiz Sérgio Moro, com os reveses impostos pelo Supremo Tribunal Federal e até com certo cansaço da opinião pública, a Operação Lava Jato, sem o alarde narcisista de um Getúlio Vargas, aos poucos vai deixando a vida para entrar para a história.

Minha opinião sobre a Operação Lava Jato não é veemente, indignada nem raivosa, mas é bastante impopular. Não que eu demonize Deltan Dallagnol ou Sergio Moro. Tampouco acredito em golpe ou, pior, que Lula, empreiteiros e marqueteiros sejam inocentes na história toda. Se você acha que estou celebrando o ocaso da Operação Lava Jato, pode tirar o cavalinho da chuva. Minha opinião impopular não tem nada a ver com política eleitoral nem com o sistema judiciário. É mais uma questão filosófica; metafísica até.

É uma opinião que nasceu de uma epifania que tive quando da condução coercitiva do ex-presidente Lula. Assim como outros milhões de brasileiros, passei aquele dia diante da televisão, ouvindo análises e mais análises e repórteres com um tom de voz uma oitava acima da isenção. Naquele momento, a mosca resolveu pousar em minha sopa. Olhei para os lados, um tanto quanto envergonhado das minhas sinapses. E segui com a vida.

Falar da Lava Jato tinha disso. Qualquer discordância, por mais pontual que fosse, era (e é) vista como heresia, como um sinal de que você estava ao lado dos corruptos, dos ladrões, quando não dos petistas. Antes que Sergio Moro caísse em semidesgraça, por exemplo, cometi a ousadia de transformá-lo em personagem de um romance satírico – que graças a Deus nunca saiu do terreno das intenções perdidas. Quase fui linchado pelos que ficaram sabendo da ideia.

Me confesso um homem meio infantil, daqueles que acham curiosas as nuvens, as árvores e como as opiniões se formam. Depois daquele dia 4 de março de 2016, absorvendo tudo o que ouvia, lia e assistia a respeito dos envolvidos na Operação Lava Jato, fui montando um castelinho de areia que se assentava ainda sobre bases improváveis, da literatura ao rock. Também entraram na composição dessa argamassa experiências pessoais e até antipatias e simpatias inexplicáveis.

Tudo para culminar numa visão geral que, apesar de impopular, está longe de ser ofensiva.

Ao longo desses poucos anos, lutei contra essa minha postura herética em relação à nova ortodoxia. Me senti um pária. Eu queria comungar naquela felicidade, naquela sensação empolgante de ver a justiça com jota maiúsculo sendo feita. Houve dias em que quis até mergulhar na piscina formada pelas lágrimas dos petistas acampados diante da sede da Polícia Federal. Mas alguma coisa, isto é, minha famigerada, herética e impopular opinião, me impedia de curtir a festa.

Mariposa

O que me traz a outras considerações que ainda não tiveram tempo de se tornar opinião. Elas estão na fase da crisálida que dará origem a uma mariposa daquelas gigantescas e assustadoras. A primeira e mais importante delas é: por que sentimos necessidade de ter opinião sobre tudo? Será uma falha de caráter? Em minha débil defesa, tenho a dizer que sempre fui assim. Ainda criança eu tinha opinião sobre o palhaço Bozo, sobre o futebol no recreio do colégio, sobre filatelia e sobre os gibis do Tio Patinhas. Eu realmente sentia e sinto prazer em pensar a realidade. Nem que seja para se chegar a conclusões inconclusivas e opiniões impopulares.

O segundo autoquestionamento que faço diante da notícia de que a Operação Lava Jato está cansada de guerra é: por que eu me daria ao trabalho de expressar uma opinião impopular? Digo, adoro fomentar o debate, espalhar uns pontos de interrogação sobre a mesa, brindar com copos transbordantes de dúvidas, essas coisas todas. Mas será que, diante do consenso ou ortodoxia, expressar uma opinião impopular não é somente dar vazão a um espírito-de-porquismo inútil? Que bem eu faria a mim mesmo e aos outros se expusesse aqui minha opinião impopular e, assim, minasse a alegria daqueles que viram na Operação Lava Jato uma esperança?

Tenho uma opinião impopular sobre a Operação Lava Jato. Quem sabe um dia, no futuro, depois que a poeira tiver baixado, depois que os personagens se tornarem lembranças daquelas que se evoca com um suspiro, depois que a narrativa histórica estiver sedimentada, depois que eu estiver protegido pelo Estatuto do Idoso e puder me sair de qualquer enrascada com a desculpa da senilidade, eu venha a expô-la.

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