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Por que torço para que Schwartsman tenha vida longa e continue escrevendo
| Foto: BigStock

Hélio Schwartsman rascunhou umas palavras publicadas apressadamente na tentativa de justificar o injustificável e explicar por que ele, que já foi editor de opinião (de opinião!) da Folha de S. Paulo, torce para que o presidente Jair Bolsonaro morra. Schwartsman está num estágio avançado de “Bolsonaro Derangement Syndrome”. De minha parte, torço para que ele tenha uma vida longa, melhore seu texto esquálido, recobre a capacidade de ver o mundo e as pessoas com o olhar compassivo, reconheça o erro absurdo e continue escrevendo. Nada pessoal.

Amarrado que estou ao que ele chama de “moral tradicional”, me recuso a ceder ao impulso de expurgá-lo como faria a um autor que tem a ousadia de se confessar “consequencialista” – para usar o termo que lhe é tão caro. Em outras palavras, a “moral tradicional” me pede que o perdoe por qualquer que tenha sido o motivo (vaidade? Ira?) que o levou a escrever tamanha barbaridade.

Explica Schwartsman em seu texto que, no admirável consequencialismo que ele parece professar, o resultado final está acima de qualquer coisa. Qualquer coisa. É uma ética abjeta com a qual ele implicitamente compactua e que encontra eco nas maiores tragédias políticas do último século, como Holodomor, Holocausto, gulags, pelotões de fuzilamento, porões da Ditadura, etc.

Para os consequencialistas, cuja moral torpe me obriga a parar o texto (vou ali e já volto) para tomar um Sonrisal, o controle populacional na China, por meio de abortos, esterilizações forçadas e o assassinato puro e simples de crianças recém-saídas do ventre materno, é justificado (“valorado”, no jargão dele) pelo resultado que produziu: a prosperidade chinesa.

“O sacrifício de um indivíduo pode ser válido, se dele advier um bem maior”, escreve Schwartsman, talvez na esperança do que o “advier” na frase distraia o leitor e o impeça de perceber a perversidade do raciocínio.

Aí, como se tocado por um anjo, ou talvez percebendo o consequencialismo de suas palavras repugnantes, o autor propõe que façamos um exercício filosófico: a morte de Jair Bolsonaro seria filosoficamente defensável se garantisse a preservação de um número maior de vidas em meio à pandemia de coronavírus?

Mas a pirueta semivirtuosa não dá muito certo. E Schwartsman, no parágrafo seguinte, recorre ao tecnicismo tosco, próprio das mentes apequenadas, dessas que se orgulham de seus diplomas na parede e que leem gráficos como se fossem expressão da Sabedoria Divina, para atestar que as pessoas estão morrendo aos montes por causa das “falas negacionistas” do presidente. Argumento que contaria com a chancela de “pesquisadores da UFABC, da FGV e da USP”.

A partir daí, Schwartsman dá uma de Jarbas Passarinho, manda às favas os escrúpulos de consciência, e diz que a morte de Jair Bolsonaro por coronavírus traria ao país “bônus políticos”, como o “fim das tensões institucionais e de tentativas de esvaziamento de políticas ambientais, culturais, científicas etc.”

Eu, que graças a Deus tento ficar o mais longe possível dessa tribo consequencialista, com seus rituais macabros de sofrimento e morte inimagináveis, me permito uma dúvida, uma questão retórica que, nos últimos dias, tem me visitado com frequência: Schwartsman (e os que pensam como ele) realmente acreditam que a morte de um homem que eles não cansam de dizer que é inepto vai ser capaz de trazer paz ao Brasil e, de quebra, exterminar o coronavírus?

Já sem qualquer resquício do semipudor que pudesse ter “contaminado” os parágrafos anteriores de seu famigerado texto, desprovido de “estudos científicos” e talvez percebendo que a “moral tradicional” batia desesperadamente à sua porta para impedi-lo de concluir uma argumentação tão indecorosa, Schwartsman diz que a morte de Jair Bolsonaro por Covid-19 serviria ainda para alertar os governantes mundiais para a gravidade da doença.

Como especular pode ser divertido e, neste caso, não faz mal a ninguém, eu usaria as palavras do próprio Hélio Schwartsman para argumentar que seu texto também pode servir como um “cautionary tale”, ainda que de alcance restrito a essa imoral bolha progressista. Afinal, depois de estabelecer um novo patamar de vilania ao desavergonhadamente desejar a morte de uma pessoa, talvez daqui para a frente fique muito mais difícil para militantes de sua laia ostentarem a falsa virtude de seus delírios políticos.

Parafraseando o necroarticulista, Schwartsman presta em vida, e por vias tortas, o serviço de mostrar do que é capaz uma moral perversa, munida de uma pena maculada.

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