Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã
- “Cotidiano”, do gênio Chico Buarque
Quando eleito, com a ajuda da fakeada e das urnas fraudadas pela elite que não aguentava mais ver empregada na Disney, o inteligentíssimo, pacientíssimo e maquiavelíssimo Jair Bolsonaro percebeu a possibilidade de realizar um sonho de infância incutido por seu avô, aquele mesmo que lutou ao lado dos nazistas na Alemanha: destruir o Brasil.
E é com esse propósito que ele acorda todos os dias, escovando os dentes vampirescos (herança de Temer) com uma pasta à base de Césio-137, antes de se fartar de pão com leite condensado superfaturado. Ainda à mesa, Bolsonaro confere as mais recentes estatísticas de mortes pela Covid. “Não morreu ninguém ontem? Nenhum membro das minorias oprimidas? Ah, que pena!”, lamenta, enquanto a primeira-dama, sabidamente fundamentalista, fala em línguas.
Depois de uma rápida reunião para discutir a rachadinha com os filhos Flávio e Eduardo, Bolsonaro liga para o ministro da Defesa e exige que o avião presidencial decole dos jardins do Palácio da Alvorada, destruindo a linda estrela vermelha que a saudosa Dona Marisa mandou instalar lá, no tempo em que o Brasil era governado por autoridades cheias de empatia. Ah, que saudade do PT!
Bolsonaro manda abastecer o avião com o diesel mais caro e poluente que existe. Quando explicam que avião usa querosene, e não diesel, Bolsonaro fica uma fera e manda torturar os frentistas da Força Aérea. Uma vez a bordo, aliás, ele liga para o presidente da Petrobras e manda aumentar o preço dos combustíveis. Depois, aos risos, liga para o ultraliberal capitalista Paulo Guedes e o manda aumentar a inflação e os juros. “Paulinho, será que a gente consegue aumentar a taxa de desemprego?”, pergunta ele ao Posto Ipiranga. Guedes não responde porque está ocupado desvalorizando o real para ter ganhos em suas famosas empresas off-shore.
Fartando-se da picanha que os pobres não podem mais comprar, apesar do imenso rebanho mantido pelo agronegócio destruidor da camada de ozônio, Bolsonaro segue viagem até a Amazônia. Ao longo do caminho, ele de vez em quando abre a janelinha para metralhar as comunidades quilombolas e as aldeias indígenas.
O genocida, então, pousa numa pista clandestina usada por garimpeiros de nióbio. Assim que desce do avião, Bolsonaro é recebido por uma multidão de fascistas que, ali mesmo, organiza uma motociata. O ronco dos motores das Harley-Davidsons assusta o último casal de ararinha-azul do mundo e a fumaça dos escapamentos se confunde com as queimadas, cuja fuligem daqui a alguns dias esconderá o sol de São Paulo.
Depois de queimar muita gasolina, contribuindo para o aquecimento global, Bolsonaro ataca o STF com um discurso improvisado. “Vou continuar agindo dentro das quatro linhas da Constituição!”, ameaça o tirano. Sobre um caixote que faz as vezes de palanque, Bolsonaro comete outro crime, assassinando a língua portuguesa com milhares de erros de concordância e regência. Imprecionante como esse ómi num asserta os plural!
Tudo isso leva quase um dia inteiro. São 16 horas quando Bolsonaro decide “trabalhar” – para o mal do país. Ele reúne os milicianos da região e, empunhando uma motosserra movida a lágrimas de boto cor-de-rosa, se põe a derrubar a mata pristina. “Madeeeeeeira!”, grita ele, antes de derrubar um jequitibá de 800m de altura. Meia hora mais tarde, uma área equivalente a duas cidades de São Paulo jaz no solo amazônico, pronta para virar o carvão que assará a carne de boizinhos. A temperatura média global aumenta 3 graus. Chuvas castigam o deserto do Saara.
De volta a Brasília, esse monumento do brutalismo soviético infelizmente vilipendiado pelos neointegralistas hoje no poder, Bolsonaro janta como se nada tivesse acontecido. Um jantar totalmente antivegano, só para provocar. Reparem como ele segura o garfo e a faca feito um pedreiro homofóbico e misógino! Sem nem pedir licença para sair da mesa, o negacionista realiza sua tradicional live ao lado de um cantor sertanejo conservador que canta alguma ode às oligarquias agrícolas. Onde está a “muralha” Alexandre de Moraes para defender nossa democracia quando mais precisamos dele?!
Já na cama, ele dá um beijo revoltantemente monogâmico na esposa, vira-se para o lado e dorme o sono dos ímpios. Não, “ímpio” não porque é linguagem bíblica e todo mundo sabe que a Civilização Ocidental é a responsável por tudo de mau que há no mundo. Ele dorme o sono dos... dos... bichos-papões. Tomara que, em seus pesadelos, Bolsonaro se veja passando a faixa presidencial ao maior líder tupiniquim do universo. E, por falar nisso, quem não declarar voto no Lula é fascista. Teje avisado.
* Este é o asterisco da derrota. Mas, como teve até filho do presidente julgando texto pelo título, ele se faz necessário para deixar claro: este texto contém doses generosas de ironia.
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