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O ministro fascista Adolfo Salgado e seus colegas do STF: “Não se trata de censura, e sim de uma readequação profilática do debate público”.
O ministro fascista Adolfo Salgado e seus colegas do STF: “Não se trata de censura, e sim de uma readequação profilática do debate público”.| Foto: Imagem gentilmente cedida por Adlai Lustosa

O ministro de extrema-direita Adolfo Salgado, do Supremo Tribunal Federal, acaba de determinar que Twitter, Facebook, Instagram, LinkedIn e YouTube cancelem imediatamente todas as contas associadas aos perfis de sete militantes antibolsonaristas. Eles são acusados de divulgar fake news. Na semana passada, Salgado tinha divulgado um vídeo todo emocionado, no qual dizia que “fake news é o que eu digo que é fake news”.

A medida foi tomada tendo por base uma nota de rodapé de uma bula de remédio encontrada no meio do regimento interno do condomínio onde o ministro mora. “A Constituição é legal, mas isso daqui é bem melhor”, disse ele, explicando a base jurídica da decisão. “E, só para lembrar, quem não gostar de mim é comunista. Anauê!”, acrescentou Salgado.

No calhamaço que acompanha a decisão, o ministro Adolfo Salgado reuniu várias publicações dos militantes que, segundo ele, ferem o bom-senso e ultrapassam os limites da liberdade de expressão. Numa dessas publicações, por exemplo, o empresário e camarada Marcelo Odebrex diz que “Não vejo a hora de ir para casa curtir uma quarentena vendo Amélie Poulain pela 15ª vez. #ForaBolsonaro”. Para Salgado, tal afirmação constitui não só fake news como também um atentado ao bom gosto. “Esta é uma prova de que o limite foi em muito extrapolado”, escreve ele.

Prevendo uma reação negativa, Salgado emitiu uma nota à imprensa, na qual o ministro fascista diz que “é um absurdo o que essa organização vem fazendo nas redes, divulgando mentiras, atacando pessoas e manchando a honra do Brasil no exterior. Não se trata de censura, e sim de uma readequação profilática do debate público. Certos pensamentos, de tão abjetos, não devem ganhar a luz do dia”.

Os censurados

Além do empresário e camarada Marcelo Odebrex, tiveram seus perfis sumariamente eliminados das redes sociais o cientista Átilla Iamarindo, o economista Márcio Pokman, a cineasta Pietra Kosta, a filósofa com efe maiúsculo Márcia Tiubire, o ator Zédia Breu e, tchã-nã-nã-nã, aquele nome que vocês tanto esperam encontrar numa lista como esta, o inolvidável Philype Neto.

Procurado pela reportagem, assim que viu a possibilidade de figurar sob os holofotes, o cientista Átilla foi logo avisando que, se nada for feito, 1 milhão de pessoas podem ter seus perfis censurados nas redes sociais até o final do mês. Quando perguntado se a liberdade de expressão pode ser considerada uma vacina contra o autoritarismo (pergunta bem boba, diga-se de passagem, mas sem ela não teria a punch line), ele respondeu: “Vacina só vai piorar a doença e teremos de ficar em lockdown por mais dois anos, no mínimo”.

O economista Márcio Pokman, por sua vez, disse que já está mais do que na hora de esse governo neoliberal, escravo do necropauloguedismo, emitir uma nota de R$1 trilhão de reais e pagar a dívida pública. Sobre a censura, ele falou que é tudo um plano da CIA para roubar o pré-sal.

Em comunicado à imprensa, a cineasta Pietra Kosta disse simplesmente que “É gópi”. Já Márcia Tiubire, lá de seu exílio parisiense, acusou o tecnoprotomonoultramachismo. Zédia Breu não disse nada, limitando-se a cuspir na sentença.

De todos os atingidos pela medida absurda, extrema, inaceitável, cara, como é que você não percebe isso?!, eu avisei que ia ter fascismo e tá tendo fascismo, o mais revoltado era Philype Neto. Ele ficou sabendo da censura em meio às filmagens de mais um vídeo genial que certamente vai mudar o destino das eleições norte-americanas. Falando rapidamente ao telefone porque estava na hora do seu soninho da tarde, o jovem pubescente de 32 anos prometeu que isso não vai ficar assim, que ele vai contar tudo para a sua mãe (no caso, a dele).

Entidades se manifestaram

A decisão teve repercussão imediata no Brasil e no exterior. O presidente de Nauru, por exemplo, condenou o que ele vê como “uma escalada sem precedentes da extrema-direita fascista, misógina, homofóbica, racista e cara de mamão em certos países da América Latina cujo nome não vou falar, mas começa com ‘b’ e termina com ‘sil’. O presidente da Coreia do Norte, Kim Jong-un, prestou solidariedade e disse que os censurados serão recebidos de braços abertos no país.

Várias instituições também demonstraram repúdio pelo ato ditatorial do ministro Adolfo Salgado. OAB, ABI, ABC, DEF e XPTO emitiram uma nota conjunta expressando profunda preocupação com certas decisões recentes de certo ministro de certo tribunal aí.

Políticos, claro, não perderam essa ótima oportunidade para se posicionarem contra a censura e o fascismo, em nome da liberdade, da democracia, do Estado de direito, dos Direitos Humanos e do arroz por baixo do feijão. O deputado Tiririca disse que tudo isso é coisa de abestado. “Isso é coisa de abestado”, disse ele. Já o senador Cid Gomes, já plenamente recuperado de um incidente ocorrido no começo do ano (alguém lembra?), disse que “estamos vivendo um verdadeiro genocídio virtual”.

* Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

[Se você gostou deste texto, mas gostou muito mesmo, considere divulgá-lo em suas redes sociais. Agora, se você não gostou, se odiou com toda a força do seu ser, considere também. Obrigado.]

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