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A Gaviões da Fiel vai salvar a democracia
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Amigos, podemos retornar ao berço esplêndido. O golpe Bolsonarista, arquitetado do alto de sua insanidade, encontrou um adversário à altura. Um adversário de fibra — forte, altivo, antifascista —, disposto a fazer o necessário para tirar das ruas as galinhas amarelas do integralismo.

Certos amigos me alertaram; não ouvi. Me soava imprudente embarcar nos arroubos performáticos dos torcedores de farda. Mas e daí? Eles viram na TV. Tudo indica que estamos salvos. A Gaviões da Fiel abandonou as arquibancadas e voltou-se às ruas para defender a democracia. Viva a Gaviões da Fiel! Com paus e pedras ergueremos um novo país.

Me impressiona a boa-vontade de nossos intelectuais e da imprensa com os pruridos republicanos de uma torcida organizada. “Ah, mas havia a democracia corinthiana!”. Desculpe. Procurei por Sócrates mas só encontrei Marcola. Uma entidade que não tem a capacidade de permanecer no mesmo estádio com um divergente ( os clássicos em São Paulo contam com torcida única) não se adequa a ideia própria de democracia.

O embate do último domingo revela a triste dicotomia que se impõe ao brasileiro: a violência de estado bolsonarista, vingativa e ressentida, contra os capangas de aluguel da esquerda brasileira.    É cenário sombrio, posto que terra arrasada. Responder com violência, com banditismo — fórmula derrotada desde 2013 — não significa nada além de tentativa da esquerda de retomar as ruas com seus signos. Bolsonaro e seu governo trágico lhes permite esta brecha. Por ela tentarão passar.

Não passará!, dirá o presidente, invertendo os papéis. Alimentará seu discurso odioso, flertará com atos institucionais de toda ordem. Para importante parcela de seus eleitores, voltará a fazer sentido. O capitão foi eleito para colocar ordem na casa. É contra a desordem encarnada, os homens de preto, a porradaria, que Jair se levantou, sangrou por nós, construiu sua mítica. Fez-se minoritário, sabemos; entretanto, grande parte de sua desconstrução parte justamente da perda de significado simbólico ocorrida ao longo do mandato.

Bolsonaro deixou de ser o anjo vingador contra o sistema; vendeu a alma ao diabo para proteger seus filhos. É lido como Judas, traidor, mentiroso por grande parte de seu eleitorado. Não é gente que procurava um estadista; queriam ordem, punição, vingança. A eles, a rebelião das uniformizadas serve de convite ao perdão: quantos não estariam dispostos a ladear o presidente da República na luta contra o caos pretendido? A escolha parece fácil.

A esquerda de Felipes Netos e Ciros Gomes move-se com a mesma urgência elitista de outrora; mal encontraram um caminho, já tratam de abrir seus estandartes. Os rótulos estão de volta: fascistas, nazistas, racistas. Não apenas para o governo: é para todo o agente que não lhes preste reverência. São previsíveis em sua volúpia, diminuindo seu campo de ação. Bolsonaro lhes é oportunidade, mas também é prisão.

É sufocante viver o noticiário brasileiro. Na noite de sábado um grupo de político burlesco, auto intitulado “300”, organizou ritual macabro em frente ao STF. Carregavam tochas compradas na seção de jardinagem da Leroy Merlin. Estava em promoção? Contei 20, no máximo 30 espartanos de Taubaté. São liderados por uma moça visivelmente perturbada, cujo nome celebra uma militante nazista britânica. Ela e seus colegas pretendem um golpe. Via de regra, um democrata combate essa gente.

Mas o combate se qualifica através da forma. Ser democrata, antes de tudo, é entender que o imperativo da violência é deixado de lado em prol da discussão mediada. É contra-senso defender a democracia negando seus pressupostos; a Gaviões da Fiel — ou quem lhes contratou — sabe disso, posto que praticou conscientemente o oposto. Não estão lá para “combater fascistas”; seu intuito é o caos que legitima a violência, sonho encantado da esquerda brasileira.

Eu quero o fim do governo Bolsonaro. Quero evitar a qualquer custo seu golpe de estado. Mas não defendo o uso de medidas extremas — conduzidas por gente extrema —, se creio viver em uma democracia que ainda respira. Ontem, os extremistas comemoraram. Bolsonaro comemorou. Se quisermos o fim de sua alegria autoritária, não será fazendo rir os autoritários do lado de lá. Em ambos os casos, morre a democracia.

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