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Alvim, D2 e a escalada dos idiotas
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Uma pessoa normal, dona de suas faculdades mentais, é capaz de perceber que Roberto Alvim é um idiota. Não é preciso muito entendimento, tampouco conhecimento acerca de filigranas ideológicas. Seu olhar, seus trejeitos — a naturalidade com que expressa seu radicalismo — , são bastantes para um julgamento prévio — definitivo — acerca de sua personalidade.

Estivesse com um curriculum debaixo dos braços, não teria sucesso em arrumar emprego. Alvim seria barrado em qualquer setor de recursos humanos que se preze. Seria péssimo vendedor, comunicador, sócio em uma empreitada. É um maluco. No mundo real, penaria. Mas, no mundo encantado do bolsonarismo, a coisa funciona um pouco diferente.

Alvim foi acolhido no governo federal. Acólito de Olavo de Carvalho, recebeu a incumbência de cuidar da Cultura. Propagando as mesmas ideias que expôs em seu derradeiro vídeo, foi apoiado por figuras importantes da direita olavete, que vão do videomaker governista Josias Teófilo à deputada federal Bia Kicis. Participou de “live” junto ao presidente, e já foi compartilhado nas redes por toda a família real.

A gravidade do caso Alvim não pode ser minimizada. O ex-secretário teve seus projetos — ancorados naquela visão de mundo — aprovados pelo Ministério da Economia, endossados pelo presidente, votados pelo Congresso. Alvim, portanto, não foi um mero erro. Não imitasse Goebbels, estaria lá, montado na grana, pronto para construir sua arte "nacional e heróica”. E estaria “tudo bem”.

Não gostaria de soar implicante. Sei que o presidente possui um fã clube, e ele é bastante expressivo em vocalizar sua admiração inconteste por Bolsonaro. Esse fã clube — que provavelmente me atacará por este texto — defendia a permanência de Alvim quando a similaridade com Goebbels foi percebida. Chamava de mimimi a justa indignação da sociedade com um secretário que parafraseia nazistas. Inundou as caixas de comentários daqueles que denunciavam o absurdo.

Um perfil chamado “Direita Ustra” me atacou no Twitter por denunciar o secretário. Não deixa de ser previsível a solidariedade de um fã de torturador com um prosélito de nazista. Mas ele estava lá, dentre os milhares de outros cidadãos sem rosto, pronto para defender bovinamente os erros do seu governo. Ressalto: são minoria dentre os eleitores do capitão, suficientemente numerosos para se fazerem notados.

A manada só mudou de ideia quando Bolsonaro percebeu o tamanho do problema e demitiu Alvim. Como o esteio de seu posicionamento é o humor do presidente, o rebanho recolheu-se ao cocho. Entretanto, é sintomático: o ódio enquanto política e a submissão total ao líder estão de volta ao cardápio político brasileiro.

E não só no bolsonarismo.

Neste fim de semana, o campo da esquerda demonstrou que está pronto para o embate. Marcelo D2, outrora garoto propaganda da Cannabis sativa, resolveu tirar o genocida escondido por debaixo de seus dreadlocks. Afirmou em seu twitter que “ Direita liberal é o caralho, chega…” , “Tinha que fazer uma suástica na testa de cada um desses fdp” , e complementou: “Na faca”.

Na data da publicação deste texto, D2 já tinha colhido mais de dez mil curtidas em seu libelo psicopático. Era aplaudido por jovens de esquerda — moderninhos —, do tipo que prega “tolerância" nas redes sociais. Irão justificar que contra “nazistas” tudo é válido, como se fizessem um cosplay tropical de Bastardos Inglórios. Na prática, apenas externaram seus instintos mais profundos sobre seus adversários políticos.

O drama vermelho, porém, não se encerra no cantor. Passou desapercebida a entrevista do já senil Caetano Veloso com o youtuber Jones Manoel, ativista do obscuro PCB. Jones é stalinista, admirador confesso de Mao Tse Tung e advogado de uma risível “revolução brasileira”. Defende, como não podia deixar de ser, a violência como método político. Em outros tempos, seria colocado de escanteio mesmo nas plagas mais caricatas da esquerda. Hoje, é enfant terrible dos democratas do Leblon.

As declarações de Jones e D2 sugerem uma escalada de radicalismo no campo progressista — amparada nos algoritmos das redes que privilegiam esse tipo de conteúdo. É fenômeno novo, que rompe a sólida hierarquia construída pelo lulismo; serve como válvula de escape para um público ansioso, cansado das respostas lúdicas — quando não absurdas — de suas lideranças tradicionais ao avanço da direita.

Em comum, tanto a esquerda de D2 quanto a direita de Alvim naturalizam a violência como método político. Pregam uma visão dirigista não apenas da cultura, mas de todos os aspectos da vida das pessoas. Uma visão holística, total — base, portanto, do que chamamos de totalitarismo. É óbvio que devemos nos preocupar.

Alvim se foi, mas gente como ele foi eleita, com voto popular. É o insano Douglas Garcia e sua milícia da mamação, instalados na Alesp; é o carioca Daniel Silveira, quebrador de placas e deputado federal; é Frederico D’Avila propondo homenagens a Pinochet; é Leonel Brizola — o neto — propondo homenagens a Kim Jong-un. Direita e esquerda elegeram seus protótipos de genocida. Não tem do que reclamar.

Caberá aos democratas — a tal direita liberal execrada por D2 e Bolsonaro — o fardo de combater o monstro totalitário que ganha corpo nestes estranhos anos 20. Nele, esquerda e direita são mera perspectiva, posto que em essência é apenas uma coisa. Nosso silêncio — a covardia instrumentalizada — não sairá impune. Temos que agir, sob pena de mais um “erro” do governo Bolsonaro — que virá, não nos enganemos —, ou de receber na testa, à faca, a suástica nem tão simbólica de uma esquerda que resolveu mostrar ao público, finalmente, suas verdadeiras intenções

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