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Carta ao Primo Pobre
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Caríssimo primo pobre aqui da Gazeta, espero que esteja tudo bem. Não está, né? Não sei muito o que dizer, não invisto na bolsa. Mas acompanho as notícias, e vejo que a situação tá feia. Dólar quase batendo 6 reais. Seis conto. Guedes disse que, se batesse cinco, teria que ter feito “muita coisa errada”. Acho que as definições de “muita coisa errada” precisam ser atualizadas.

Guedes está preocupado. Os tubarões do mercado já sentiram o cheiro de sangue. Outrora patriotas, agora compram dólar. Vendem bolsa. Não sei se o Coppanno ainda guarda suas ações da Petrobrás. Rolou um vídeo, lembra? Enganou alguns otários. Sintomático. Me parece, aliás, ser essa a intenção do ministro nesta “nova fase” da gestão Bolsonaro: engambelar otários.

Ele fez uma live, hoje, com o Primo Rico. Como parte pobre da família, imagino que você tenha assistido. Era essa a intenção. Para manter o clima de euforia, o fluxo de entrada de otários precisa ser mantido. “Bull market” que chama, não? 

Guedes gosta de falar abobrinhas. Falou ao “Primo rico” que “pode ser demissível”, que o “Brasil pode virar uma Venezuela”. Quem sou eu pra duvidar do superministro? Vou concordar. Já era hora de dar crédito. Ele foi tão assertivo no destino chavista que, pra não restar dúvidas, prometeu distribuir dividendos da Petrobrás para nosso povo sofrido. Tal qual na PDVSA. O Petróleo é (deles) nosso! 

Confesso que tenho medo, primo pobre. Gente que faz oposição ao governo, na Venezuela, costuma ir em cana. Já tentaram isso comigo ano passado. Ainda não funcionou. Tentaram com o Danilo Gentili ontem à tarde. Mas a gente jura que tá tudo bem. Precisa, né? Caso contrário os “mercados” ficarão contrariados. E ai de quem contrariar “os mercados”! Eles passam pano pra esse liberalismo de Caracas... mas juram ser a “mão invisível”.

Eu não sei meu amigo. Sou duro como você. Pra mim essa mão tá bem visível. Ontem ela segurava uma cloroquina. Hoje ela segura a Petrobrás. Amanhã quer segurar o cangote das instituições, seu desejo insecreto. A gente acaba não dando muita bola, primo pobre acha que político é tudo ladrão. Via de regra, não tá errado. As exceções estão aí pra confirmar a regra.

Fico olhando a mansão do Flávio Bolsonaro comprada com loja da Kopenhagen e imagino que existam investimentos melhores que essa bolsa de valores. Você não pensa assim? Investimentos imobiliários em Rio das Pedras. Parcerias com policiais empreendedores. Flávio aponta o caminho nos negócios como seu pai faz na medicina. Falta ousadia pra gente, sabe? Pensar fora da caixa. Se você trabalhar duro, vai conquistar o que quiser.

Eu confesso que estou pobre, como você. Limpinho? A doutrina diverge. É o que dizem nas redes. Me chamam de mendigo do MBL. Mendigos, em tese, teriam direito ao auxílio emergencial, tábua de salvação de muita gente nessa crise. A começar pelo presidente. Pesquisa recente mostrou que 72% dos brasileiros são favoráveis ao retorno do benefício. É muita gente, né? Não dá pra ajudar esse povo todo. Alguém terá que pagar a conta. Os primos ricos, talvez? 

Não sei se eles estão afim. Também não se importam muito. Eu vi que as contrapartidas fiscais para o retorno do auxílio não estão muito adiantadas. Parece não ser prioridade, o lance mesmo é gastar. Fico um pouco assustado, saca? O primo rico vai ter que fazer muito trade de sucesso pra compensar essa gastança. O Bolsonaro já deve ter se ligado, resolveu taxar banco pra ajudar na gasolina. A conta vai pra classe média — mas quem se importa? A classe média é primo pobre, como eu e você. Tem mais é que se ferrar.

A gente vai levando a vida como dá. Um amigo meu sugeriu estocar frango e papel higiênico. Mais que consumo, são moeda forte em cenário venezuelano. Acho que valoriza mais que o Bitcoin. Pode ser uma boa, não? É só guardar o frango no congelador. “Ah mas a energia tá cara!”, você vai dizer. Justo. O mito prometeu cuidar disso aí. Qualquer coisa a gente racha um gerador a diesel...ou não. Depende dos caminhoneiros.

Só sei que o primo rico vai dar um jeito de nos salvar. Se não der, a gente pede uma dica pro Flávio. Às vezes é mais fácil confiar no Filho Rico. E com um pai desses, quem não teria coragem? É só fazer que ele garante. E quer saber? Vou comprar uma Topic e operar em Rio das Pedras. Os amigos do Flávio começaram assim. Posso conseguir uma licença com eles. Aí compro um predinho, depois outro. Se der sorte, saio vendendo chocolate. Você vai ver, meu amigo. Logo mais tô morando numa mansão.

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