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Derrubar é preciso
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"Navegar é preciso, viver não é preciso". O verso, eternizado por Fernando Pessoa, trata da precisão em navegar, comparada à eterna tempestade que é viver. Navegamos pela vida sem instrumentos, por vezes à deriva, com ponto de partida mas sem ponto de chegada. Navegar é preciso. Eis o drama do homem português, que desbravou o mundo mas nunca curou sua alma.

O verso, entretanto, não é de sua autoria; Pessoa o tomou emprestado de Petrarca, poeta italiano que viveu no século XIV. E mesmo Petrarca não reclama paternidade: ele a retirou da “Vida de Pompeu”, do historiador romano Plutarco, que narrava a vida e as desventuras do cônsul romano derrotado por Júlio César.

Líder e general, Pompeu costumava encher o coração de seus marinheiros em batalha bradando “Navigare necesse, vivere non est necesse”. A frase — e a percepção da inexatidão em viver — tem mais de dois mil anos. É sabedoria que fica. Não chegou aqui.

Vivemos tempos turbulentos. Procuro na história, aqui e acolá, exemplos que me expliquem  nossos dias. Confesso que vejo Incitatus em Weintraub. O cavalo era discreto, alguns dirão, mas retruco que serviu com fé o rei louco. Lavo o rosto, recobro a consciência. Quem se importa com a história? Weintraub nos conta que faculdades de história são plantação de maconha e lar de sujeitos indesejáveis. Quem sou eu pra questionar?

No Brasil de hoje, navegar não é preciso, e viver tampouco o é. O caos tornou-se regra, e o louco que nos conduz, timão em mãos, olha para os céus procurando tempestade. Nossa nau desgovernada empilha corpos, atirados do convés ao som do hino nacional. Aplausos ao capitão! Jair não é Pompeu.

Os covardes dirão: tirá-lo de lá é insanidade! Só nos trará mais instabilidade! Julgam ser o Velho do Restelo. Soa maduro. Busquei as semelhanças e só encontrei Capitão Gancho. Se viver é preciso — enquanto necessidade — navegar deve ser preciso. Caos na tempestade, o capitão está louco. Tempo, como vento, é solução ou danação. Urge agir.

Derrubar Jair é preciso. Há crimes, há maioria, há perspectiva de piora. Já sabemos o que fazer, há marinheiros a bordo. Há, porém, o medo, a falta de liderança — covardia é mato para os filhos dos navegadores. Desaprenderam a navegar? Duvido muito. Esquecem, porém, que o bom viver que lhes é costumeiro não sobrevive sem os marinheiros do convés. A tempestade é democrática.

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