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O Brasil de bem quer #ForaMandetta !
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Avolumam-se os pedidos pela saída de Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. O clamor chegou aos trending topics do twitter — terra sagrada onde a palavra do bolsonarismo viceja. Se outros tantos caíram pelo caminho — Bebianno, Santos Cruz, Joice Hasselmann —, por que haveria de ser diferente com este caipira de centrão?

Os argumentos a favor de sua queda são vários. Mandetta, acima de tudo, estaria desrespeitando o presidente. Parece especialmente atado às recomendações da OMS e às práticas adotadas por outros países. Trabalha em conjunto com os governadores, aparentemente mancomunados contra Bolsonaro, e incentiva o isolamento social.

Além disso, temos a questão cloroquina: sim, a cloroquina! Nosso ministro não trata o medicamento como a salvação da lavoura. Preferiu basear-se em estudos recentes, ainda inconclusivos, para não eleger a droga como ferramenta central de sua estratégia de combate — como deseja Jair. O presidente quer gente na rua e cloroquina na veia; Mandetta quer prudência. O choque é inevitável.

O clamor nas redes merece atenção, e assim o fiz: examinei cuidadosamente os articuladores da queda de Mandetta. Sem assombro, percebi que seus apologistas se restringem a um grupo muito específico de influenciadores, todos estes ligados a Olavo de Carvalho e ao “gabinete do ódio”. É coisa de “Lilo Vlog”, menino de recados de Eduardo; do “Terça Livre”, site de notícias governista; de perfis falsos operados pelo planalto; e dele, obviamente, Olavo de Carvalho, mestre do apito para que a máquina ataque.

É importante perceber o método para desvendar seu roteiro: segue-se o mesmo caminho de frituras anteriores, em que a família real — covardes, sempre — esconde-se por trás de seus cães de aluguel; depois, com a reputação da vítima no lixo, partem para o golpe final, justificando o ato como “livramento de uma traição”. E jogo que segue, claro.

Desta vez, porém, o efeito não foi o pretendido. A vítima da purgação bolsonarista saiu-se mais forte que a encomenda, e fez real o sonho secreto de muitos ministros deste governo: transformar Jair em rainha da Inglaterra.

Mandetta, por enquanto, fica. E fica respaldado por uma articulação que envolve o ministro da casa civil, Braga Neto, e a cúpula das Forças Armadas; que tem consigo os ministros Sérgio Moro e Paulo Guedes; e que conta, mais do que nunca, com o apoio nem um pouco velado dos demais poderes e entes da federação.

É um caso insólito, digno de comédia. O presidente é reconhecido como incapaz por seu próprio governo. É dele afastado, mas permanece no cargo. Torna-se oposição às decisões tomadas por seus subordinados — e perde. Apela para o povo — que não vem — e termina por gritar inutilmente em suas redes sociais.

Seria esta a sina de Bolsonaro? A de ser, eternamente, um agitador de baixo-clero, não importando o cargo que ocupa? Fora assim no exército, enquanto insubordinado sindicalista; fora assim na Câmara, enquanto deputado irrelevante. É assim, inequivocamente, em seu governo. Não podemos negar que o homem é fiel a sua natureza.

As lideranças que importam no Brasil, a despeito dos seus já cantados defeitos, impuseram ao presidente uma quarentena política. Isolado, não pode contaminar as instituições com suas ideias; termina por agitar, aqui e acolá, meia dúzia de militantes e jornalistas em fim de carreira. Como fazia, aliás, nos tempos de deputado.

O devido contraste com Mandetta está lhe fazendo mal, por atingir diretamente sua ânsia primordial por conflito e controle. Mas faz um bem danado ao seu governo. Pela primeira vez, há articulação saudável com congresso, bom senso na apresentação das pautas; nos pronunciamentos de Mandetta, há diálogo razoável com a sociedade civil, e republicanismo no trato com jornalistas. Há o que sempre faltou: governo. Fazia uma falta dos diabos.

Não sabemos se a quarentena política irá durar até 2022. Seria bom que permanecesse; faria bem para a saúde do país e do seu povo. E de tão consensual, nos faz esquecer até da polarização política, fim em si mesmo que nos sufoca enquanto nação e serve de alimento, apenas, para um homem pequeno demais para seu fardo.

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